Topo

Moda 2016 quer proteger o homem em um mundo potencialmente hostil

21/01/2016 20h36

Paris, 21 Jan 2016 (AFP) - Um homem protegido e abrigado por uma moda ampla e confortável se sentirá mais seguro no próximo inverno em um mundo potencialmente hostil: os estilistas interpretaram essa previsão, cada um à sua maneira, nas passarelas de Paris nesta quinta-feira.

Congelamento apocalíptico na visão de Rick OwensEnquanto todos falam de aquecimento global, Rick Owens trouxe ares de um congelamento apocalíptico ao apresentar seu desfile em um cenário subterrâneo de concreto e com forte luz branca.

Nesse ambiente de extremos, acentuado por uma trilha sonora de graves amedrontadores, desfilaram os guerreiros urbanos do estilista californiano, com o rostos maquiados de branco cadavérico e olheiras ao estilo zumbi.

Felizmente, a moda trouxe para esses guerreiros o couro, as peles e tecidos superprotetores de fibras em estilo mohair na paleta habitual da estação - preto, marrom e bege -, além de Owens agregar este ano o laranja.

Alguns casacos parecem cobertores, protegendo o corpo com pregas irregulares. As calças, "baggys" de perna muito ampla e cortadas abaixo do comprimento normal, por vezes escondem totalmente os calçados, para aqueles que não têm medo de tropeçar ao caminhar, nem voltar pra casa com as bainhas encharcadas.

O "neonômade" sobrevive em Issey MiyakeO homem de Issey Miyake vai enfrentar sem perder a elegância a hostilidade dos elementos naturais e da vida urbana no próximo inverno.

A coleção do estilista Yusuke Takahashi está destinada a abrigar o "neonômade", a variedade de ser humano que floresceu no mundo globalizado da economia de internet.

Pode trabalhar em um café com wifi, em um aeroporto ultramoderno entre dois aviões ou em uma cabana em plena natureza: sua forma de vestir deve responder ao desafio da versatilidade.

"Antes usávamos cavalos como meio de transporte e a roupa era projetada para montar", disse Takashaki em entrevista à AFP. "Eu quis desenhar a roupa para que os urbanos possam se movimentar de bicicleta ou para os que viajam a negócios", prosseguiu.

Parte de sua coleção é inspirada na vida nômade nas estepes da Mongólia, presente nos tecidos de lã. Aqui também há muita fibra mohair e o estilista japonês recorre também a crina de cavalo. Outros modelos são mais esportivos, com materiais sintéticos e poliéster.

Van Noten e seu "exército do amor"Na luxuosa decoração da Ópera de Paris, Dries Van Noten desfilou uma coleção inspirada no uniforme militar que transformou os modelos em um "exército do amor" pacifista.

Na hora de subverter a função bélica original do uniforme, o estilista belga se inspirou na obra do grafista Wes Wilson, famoso por seus pôsters psicodélicos na São Francisco do final dos anos 1960.

"Na atmosfera da cena hippie pós-Vietnã, os que regressavam da guerra arrancavam suas condecorações para fazer composições florais com o uniforme militar e transformar-se em um 'exército do amor'", lembrou Dries Van Noten ao falar sobre sua coleção no final do desfile.

Combinando com a decoração do teatro, o estilista de 57 anos utilizou também ornamentos dourados dos uniformes militares de gala para decorar peças icônicas do guarda-roupa masculino. A clássica "teddy jacket" do estudante americano se sofistica, por exemplo, com o exagero de ornamentos dourados vindos dos uniformes.

Sempre no jogo das transformações, um sobretudo aparece cortado em dois para se transformar em jaqueta e saia. E um par de pantalonas se transforma em metade saia, metade calça.

ltl-alm/mb/cr/mvv/cr