Por trás das páginas da Wikipédia, os editores voluntários do saber
Paris, 18 Jan 2016 (AFP) - Apaixonados pelo conhecimento compartilhado, adeptos da economia colaborativa: cerca de 80.000 editores voluntários atualizam permanentemente os 36 milhões de artigos em 280 línguas da Wikipédia, que completou 15 anos na última sexta-feira.
Eles têm entre 16 e 66 anos de idade e dedicam parte de seu tempo livre para escrever artigos sobre os temas mais diversos, corrigir falhas e eliminar impropérios.
Em 15 anos, o sonho de um saber criado por todos e disponível gratuitamente tornou-se realidade.
Desde 2005, a conferência "Wikimania" reúne anualmente em algum lugar do mundo estudiosos e colaboradores da Wikipédia. A última foi organizada na capital mexicana em julho passado.
A nível local, os "wikipedistas" que redigem voluntariamente a enciclopédia se reúnem regularmente para divulgar sua missão. Cada primeiro sábado do mês, um grupo se encontra para trocar experiências.
"Vou bloquear mais dois e logo falo com você", explica "L.", uma parisiense de quarenta anos, pouco antes de começar a entrevista. Ela estava terminando sua patrulha diária na Wikipédia para censurar editores que se dedicam a introduzir insultos na enciclopédia global.
Qualquer pessoa pode mudar o que quer que seja, sempre e quando a informação tiver fonte (livros ou artigos), e todos participam da busca por erros. E funciona: o site se tornou uma referência para os internautas e recebe em média cerca de 18 milhões de consultas ao mês.
- Utopia em ação -O colaborador típico é homem - mais de 80% dos casos - tem cerca de trinta anos, é branco e possui ensino superior.
É o caso de "CMI", autor de artigos sobre a Polônia no século XX, tema pelo qual é apaixonado.
"Comecei por causa de um erro ortográfico, como a maioria. Depois que a gente entra, é tarde demais", brinca o jovem barbudo, orgulhoso de participar do que considera uma "utopia em ação".
"Para começar, não é necessário criar uma conta nem um pseudônimo: apenas aparece o endereço IP (endereço do servidor de internet que não necessariamente identifica particulares). Me dedicava a corrigir erros, cinco minutos de vez em quando. Virei um colaborador identificado (com conta e pseudônimo) em 2013", explica.
CMI começou então a redigir um artigo sobre um projeto nazista num povoado polonês - um episódio histórico pouco conhecido, sobre o qual havia escrito um livro. "Escrever um artigo é uma grande satisfação", afirma. "A pessoa passa a ser um indivíduo dentro de um coletivo, a serviço de um todo", afirma.
Hoje já é autor de cerca de 70 artigos.
Sair do anonimato do IP significa passar para um patamar acima. Porque geralmente os "IP" são sinônimo de vandalismo.
"L.", que não quis revelar seu nome nem seu pseudônimo, dedica entre cinco e seis horas por dia à caça de mensagens de ódio, comentários tendenciosos ou escatológicos. Um programa automático elimina 98% das grosserias mas apenas um ser humano tem a capacidade de adotar sanções: o autor - mais especificamente seu IP - ficará bloqueado em média durante três dias.
- Vandalismo e castigo -Se a iniciativa parte de uma escola ou de um ministério, toda a instituição ficará bloqueada, coisa que acaba de ocorrer com o ministério do Interior francês, excepcionalmente excluído por um ano.
"0x01OC", de 21 anos, começou agregando uma foto num artigo. Desde então contribui para as páginas sobre "Doctor Who" e participa de patrulhas de manutenção graças a um programa que mostra todas as modificações em tempo real.
Na Wikipédia, tudo deixa rastros. É possível ver as versões sucessivas de cada artigo, e o internauta que o modificou. Os wikipedistas programam alertas sobre os temas que os interessam: a biografia de uma estrela por exemplo, será muito monitorada - no caso de alguma notícia importante, competem para atualizá-la -, embora temas mais particulares permaneçam muito tempo sem atualizações.
As maiores intervenções, como a supressão de uma página, são submetidas a votação: "se abro uma página sobre meu gatinho, ela será rapidamente apagada", explica CMI. Quando uma página gera muita polêmica, as modificações são filtradas.
Depois de 500 contribuições e 90 dias de inscrição, a pessoa se torna um colaborador verificado, e pode participar da vida da comunidade - como as votações sobre a supressão de páginas.
Fora desse estatuto, o wikipedistas se dizem uma comunidade igualitária e não-hierárquica. A Wikimedia é financiada através de doações.
"Se fosse um projeto privado, custaria milhares de milhões e teria que privilegiar certos temas mais consultados. Aqui cada um escreve sobre o que mais gosta", resume Nathalie Martin, diretora da Wikimedia na França. "Como os colaboradores escrevem sobre os temas com os quais têm afinidade, tentamos diversificá-los", continua.
Os wikipedistas só lamentam uma única coisa: as críticas sobre a credibilidade dos artigos, muito difíceis de ser medida. "Há docentes que dizem a seus alunos que a Wikipédia não é confiável (...) e colocam até erros para testar o tempo de correção. É como atear fogo na própria casa para ver em quanto tempo os bombeiros chegam", lamenta "L.".
Eles têm entre 16 e 66 anos de idade e dedicam parte de seu tempo livre para escrever artigos sobre os temas mais diversos, corrigir falhas e eliminar impropérios.
Em 15 anos, o sonho de um saber criado por todos e disponível gratuitamente tornou-se realidade.
Desde 2005, a conferência "Wikimania" reúne anualmente em algum lugar do mundo estudiosos e colaboradores da Wikipédia. A última foi organizada na capital mexicana em julho passado.
A nível local, os "wikipedistas" que redigem voluntariamente a enciclopédia se reúnem regularmente para divulgar sua missão. Cada primeiro sábado do mês, um grupo se encontra para trocar experiências.
"Vou bloquear mais dois e logo falo com você", explica "L.", uma parisiense de quarenta anos, pouco antes de começar a entrevista. Ela estava terminando sua patrulha diária na Wikipédia para censurar editores que se dedicam a introduzir insultos na enciclopédia global.
Qualquer pessoa pode mudar o que quer que seja, sempre e quando a informação tiver fonte (livros ou artigos), e todos participam da busca por erros. E funciona: o site se tornou uma referência para os internautas e recebe em média cerca de 18 milhões de consultas ao mês.
- Utopia em ação -O colaborador típico é homem - mais de 80% dos casos - tem cerca de trinta anos, é branco e possui ensino superior.
É o caso de "CMI", autor de artigos sobre a Polônia no século XX, tema pelo qual é apaixonado.
"Comecei por causa de um erro ortográfico, como a maioria. Depois que a gente entra, é tarde demais", brinca o jovem barbudo, orgulhoso de participar do que considera uma "utopia em ação".
"Para começar, não é necessário criar uma conta nem um pseudônimo: apenas aparece o endereço IP (endereço do servidor de internet que não necessariamente identifica particulares). Me dedicava a corrigir erros, cinco minutos de vez em quando. Virei um colaborador identificado (com conta e pseudônimo) em 2013", explica.
CMI começou então a redigir um artigo sobre um projeto nazista num povoado polonês - um episódio histórico pouco conhecido, sobre o qual havia escrito um livro. "Escrever um artigo é uma grande satisfação", afirma. "A pessoa passa a ser um indivíduo dentro de um coletivo, a serviço de um todo", afirma.
Hoje já é autor de cerca de 70 artigos.
Sair do anonimato do IP significa passar para um patamar acima. Porque geralmente os "IP" são sinônimo de vandalismo.
"L.", que não quis revelar seu nome nem seu pseudônimo, dedica entre cinco e seis horas por dia à caça de mensagens de ódio, comentários tendenciosos ou escatológicos. Um programa automático elimina 98% das grosserias mas apenas um ser humano tem a capacidade de adotar sanções: o autor - mais especificamente seu IP - ficará bloqueado em média durante três dias.
- Vandalismo e castigo -Se a iniciativa parte de uma escola ou de um ministério, toda a instituição ficará bloqueada, coisa que acaba de ocorrer com o ministério do Interior francês, excepcionalmente excluído por um ano.
"0x01OC", de 21 anos, começou agregando uma foto num artigo. Desde então contribui para as páginas sobre "Doctor Who" e participa de patrulhas de manutenção graças a um programa que mostra todas as modificações em tempo real.
Na Wikipédia, tudo deixa rastros. É possível ver as versões sucessivas de cada artigo, e o internauta que o modificou. Os wikipedistas programam alertas sobre os temas que os interessam: a biografia de uma estrela por exemplo, será muito monitorada - no caso de alguma notícia importante, competem para atualizá-la -, embora temas mais particulares permaneçam muito tempo sem atualizações.
As maiores intervenções, como a supressão de uma página, são submetidas a votação: "se abro uma página sobre meu gatinho, ela será rapidamente apagada", explica CMI. Quando uma página gera muita polêmica, as modificações são filtradas.
Depois de 500 contribuições e 90 dias de inscrição, a pessoa se torna um colaborador verificado, e pode participar da vida da comunidade - como as votações sobre a supressão de páginas.
Fora desse estatuto, o wikipedistas se dizem uma comunidade igualitária e não-hierárquica. A Wikimedia é financiada através de doações.
"Se fosse um projeto privado, custaria milhares de milhões e teria que privilegiar certos temas mais consultados. Aqui cada um escreve sobre o que mais gosta", resume Nathalie Martin, diretora da Wikimedia na França. "Como os colaboradores escrevem sobre os temas com os quais têm afinidade, tentamos diversificá-los", continua.
Os wikipedistas só lamentam uma única coisa: as críticas sobre a credibilidade dos artigos, muito difíceis de ser medida. "Há docentes que dizem a seus alunos que a Wikipédia não é confiável (...) e colocam até erros para testar o tempo de correção. É como atear fogo na própria casa para ver em quanto tempo os bombeiros chegam", lamenta "L.".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.