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Rushdie diz que atentados à liberdade de expressão atingem natureza humana

13.out.2015 - Salman Rushdie participa da Feira do Livro em Frankfurt - ARNE DEDERT/EFE
13.out.2015 - Salman Rushdie participa da Feira do Livro em Frankfurt Imagem: ARNE DEDERT/EFE

13/10/2015 09h59

Qualquer limite imposto à liberdade de expressão equivale a um "ataque contra a natureza humana", declarou nesta terça-feira o escritor Salman Rushdie, por ocasião da abertura da Feira do Livro de Frankfurt, boicotada pelo Irã em razão de sua presença.

"Limitar a liberdade de expressão não é apenas censura, é um ataque contra a natureza humana", o humano "é o único animal que faz uso da língua, de histórias", afirmou Rushdie à imprensa presente no maior evento mundial da indústria editorial.

Ele ressaltou que "a liberdade de expressão não é culturalmente específica, mas um princípio universal" e "sem ela, as outras liberdades fracassam".

A participação do escritor britânico, alvo em 1989 de uma fatwa do aiatolá iraniano Khomeini por seu romance "Versos Satânicos", irritou Teerã, que decidiu no último momento boicotar o evento.

"Nós temos que continuar lutando" para defender a liberdade de expressão, prejudicada não somente por "ameaças violentas" aos escritores e editores em certos países, mas também "em algumas partes do mundo por um novo sentimento de politicamente correto", observou Salman Rushdie.

De passagem rápida por Frankfurt, Rushdie considerou que "a publicação de livres é a personificação da liberdade de expressão", elogiando igualmente "a variedade e o infinito do que é possível no mundo das palavras".

"Se você acredita em uma visão única da verdade e procura impor essa visão aos outros, então as pessoas que oferecem diferentes visões da verdade tornam-se seus inimigos", continuou o escritor.

"Mas a literatura muitas vezes supera esta batalha", com obras contestadas em seu tempo entrando para a história, apontou Salman Rushdie. Ele também advertiu contra um retorno dos dogmas religiosos, combatido pelo Iluminismo na França no século 18.

Violência contra intelectuais

O silêncio do primeiro-ministro indiano Narendra Modi ante os ataques sofridos pelos intelectuais favorece o aumento de "violência brutal" na Índia, denunciou o escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie.

"Penso que se introduziu na vida dos indianos um nível de violência brutal que é inédito", disse o escritor ao canal NDYV em Londres.

"E parece ser, devo dizer, que com o consentimento outorgado pelo silêncio das autoridades, o silêncio do gabinete do primeiro-ministro", completou Rushdie.

Quase 20 autores indianos protestaram nas últimas semanas, renunciando a cargos ou devolvendo prêmios, contra a falta de reação do governo aos ataques e, em particular, ao assassinato do intelectual M.M. Kalburgi em 30 de agosto.

"Modi é um senhor muito loquaz. Tem muito a dizer sobre muitos temas e seria bom ouvir o que tem a dizer sobre tudo isto", afirmou Rushdie.