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Nobel de Literatura premia a obra polifônica da bielorrussa Svetlana Alexievich

08/10/2015 19h39

Estocolmo, 8 Out 2015 (AFP) - A bielorrussa Svetlana Alexievich é a vencedora do prêmio Nobel de Literatura em 2015 por sua "obra polifônica, memorial do sofrimento e da coragem em nossa época", anunciou a Academia Sueca.

A jornalista e escritora, de 67 anos, é a 14ª mulher premiada com o Nobel de Literatura desde sua criação, em 1901.

"É uma grande escritora, que encontrou novos caminhos literários", disse Sara Danius, secretária da Academia Sueca, à televisão pública STV.

"Nos últimos 30 ou 40 anos dedicou seu tempo à cartografia do indivíduo soviético e pós-soviético. Mas não é uma história dos acontecimentos. É uma história das emoções, uma história da alma", explicou Danius à Fundação Nobel.

Alexievich disse sentir uma grande alegria após obter o prêmio, e convocou a "não fazer concessões ante o poder totalitário". Também disse amar o mundo russo, mas não líderes como Stalin ou o atual presidente do país, Vladimir Putin.

Apontada como favorita ao prêmio há alguns anos, a ganhadora do Nobel de Literatura de 2015 é autora de livros impressionantes sobre a catástrofe de Chernobyl ou a guerra do Afeganistão, proibidos em seu país, que não a perdoa pelo retrato que fez do "homo sovieticus", um ser incapaz de ser livre.

Muitos de seus compatriotas a leem, embora o regime autoritário do presidente Alexander Lukashenko impeça suas aparições públicas em Minsk, onde vive durante parte do ano.

Com este prêmio, o regime de Minsk "será obrigado a me ouvir. Há tantas pessoas cansadas que não têm mais a força para acreditar. (O prêmio) pode significar algo para elas", afirmou Alexievich ao jornal sueco Svenska Dagbladet.

"É uma recompensa não apenas para mim, mas também para nossa cultura, nosso pequeno país", declarou em uma coletiva de imprensa.

"É difícil ser uma pessoa honesta, mas não se deve fazer concessões ante o poder totalitário", disse.

"Amo o mundo russo, mas o mundo russo humano", disse. "Não amo Beria, Stalin, Putin e Choigou", ressaltou, referindo-se a Lavrentiy Beria, um dos principais nomes da repressão do ditador russo Joseph Stalin, e Sergei Choigou, ministro da Defesa do presidente russo Vladimir Putin.

O presidente Alexandre Lukashenko mostrou-se "sinceramente contente" pelo prêmio e saudou a ganhadora.

"Estou sinceramente contente por seu sucesso", declarou. "Espero muito que seu prêmio servirá ao nosso Estado e ao povo bielo-russo", acrescentou.

Romances-documentaisO anúncio do prêmio foi muito aplaudido pelo numeroso público presente na Academia Sueca.

Nascida em 31 de maio de 1948 no oeste da Ucrânia em uma família de professores e formada na faculdade de jornalismo da Universidade de Minsk, Alexievich começou a recolher em um gravador os relatos de mulheres que combateram durante a Segunda Guerra Mundial.

Estes testemunhos foram a base de seu primeiro romance, "The War's Unwomanly Face", escrito em russo, assim como o conjunto de sua obra.

Desde então, Alexievich segue utilizando o mesmo método para escrever seus romances com tons documentais e entrevista durante anos as pessoas que viveram experiências comoventes.

"Preciso prender uma pessoa num momento no qual foi abalada", havia explicado a escritora ao semanário russo Ogonyok.

"Por meio de seu extraordinário método, Alexievich aprofunda nossa compreensão de toda uma era", escreveu a Academia Sueca.

"Zinky Boys", um livro sobre a guerra do Afeganistão, foi o responsável por torná-la famosa.

Sua obra mais conhecida, "Voices from Chernobyl", foi traduzida para vários idiomas e publicada em todo o mundo. No entanto, nenhum livro da autora foi publicado no Brasil até hoje.

Alguns de seus livros foram adaptados para o teatro na França e na Alemanha, onde recebeu o prestigioso prêmio da Paz na Feira Literária Frankfurt em 2013.

Alexievich sucede o romancista francês Patrick Modiano, vencedor do Nobel de Literatura em 2014, e receberá uma recompensa de oito milhões de coroas suecas (860.000 euros, 973.000 dólares).

Na sexta-feira será divulgado o vencedor do prêmio Nobel da Paz, outro dos prêmios mais esperados.

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