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Turquia adverte Rússia após violação de seu espaço aéreo

05/10/2015 16h59

Beirute, 5 Out 2015 (AFP) - Ancara advertiu nesta segunda-feira a Rússia sobre as consequências de violar seu espaço aéreo durante suas operações na Síria e a Otan pediu a Moscou o fim imediato dos bombardeios contra civis sírios.

O exército turco também anunciou que dois de seus caças F-16 foram perseguidos por um MiG-29 sem identificação, na fronteira com a Síria, onde Moscou iniciou, na semana passada, uma campanha em apoio ao presidente Bashar al-Assad.

"Nossas regras de intervenção são claras para os que violam nosso espaço aéreo", declarou o primeiro-ministro turco, Ahmed Davutoglu, à televisão turca Haber-Turk.

"As Forças Armadas turcas têm instruções claras. Mesmo que seja um pássaro voando, será interceptado", acrescentou.

O primeiro-ministro se negou, no entanto, a falar de uma crise entre seu país e a Rússia. "Nossos canais permanecem abertos", disse, desejando que Moscou abandone suas más atitudes.

Horas depois, o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que os aviões de combate russos poderiam ter sido derrubados pelos turcos. "Este é precisamente o tipo de coisas sobre as quais avisamos" e "por isso iniciamos conversas com a Rússia para estar certos de que não haverá nenhum conflito acidental".

A Otan alertou, por sua vez, sobre o perigo extremo destas incursões na Turquia, após uma reunião de emergência celebrada em sua sede de Bruxelas.

A organização comprovou "duas violações do espaço aéreo da Turquia, no dia 3 e no dia 4 de outubro, por aviões (Sukhoi) SU-30 e SU-24 da aviação russa na região de Hatay (sul)", afirmou em um comunicado, embora Ancara só tivesse mencionado a incursão de um avião.

Por sua vez, a ONU advertiu que a presença no espaço aéreo sírio de aviões da coalizão e russos "cria uma situação de perigo".

"Agora vemos diferentes países, diferentes coalizões, operando no céu sobre a Síria, isso cria uma situação de perigo e muito delicada", alertou o porta-voz da ONU Stephane Dujarric.

Em resposta, a Rússia alegou nesta segunda-feira que um de seus aviões entrou no espaço aéreo turco no fim de semana devido às más condições climáticas.

"Este incidente é resultado de condições climáticas desfavoráveis", informou o ministério da Defesa russo em um comunicado. "Não há nenhuma necessidade de olhar para algumas teorias da conspiração", acrescentou.

Rebeldes sírios condenam bombardeios russosTurquia e Rússia divergem sobre a forma de administrar o conflito sírio. Moscou é um dos poucos aliados de Assad, enquanto Ancara considera que a saída do presidente é imprescindível.

Os aviões russos sobrevoam o território sírio desde quarta-feira, realizando bombardeios que, segundo Moscou, apontam para alvos do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no norte e no centro do país.

O ministério da Defesa russo indicou que sua aviação bombardeou nesta segunda-feira dez posições do grupo EI na Síria.

Aviões "Su-34, Su-24M e Su-25 realizaram 15 incursões na tarde" desta segunda-feira, informou o ministério em um comunicado, destacando que dez instalações do EI foram alvos do ataque.

Mas vários países ocidentais acusam a Rússia de concentrar seus ataques contra os grupos opositores a Assad.

A Otan pediu à Rússia que "cessasse imediatamente seus ataques contra a oposição síria e os civis, que centrasse seus esforços no EI e que promovesse uma solução para o conflito através de uma transição política", segundo seu comunicado.

Quarenta facções rebeldes, entre as mais poderosas da Síria, afirmaram na sexta-feira que a campanha militar russa "fecha a passagem a qualquer solução política".

A Turquia, um dos maiores apoios dos opositores a Assad, voltou a defender nesta segunda-feira a criação de uma zona de segurança no norte da Síria.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, abordaram o tema nesta segunda-feira em Bruxelas.

Catástrofe em PalmiraO diretor do Departamento de Antiguidades da Síria, Mamun Abdelkarim, disse à AFP que o EI pulverizou no domingo o Arco do Triunfo da cidade antiga de Palmira, patrimônio mundial da humanidade.

"Isto é uma destruição metódica da cidade. Querem arrasá-la completamente", lamentou Abdelkarim. "Estamos vivendo uma catástrofe".

O grupo jihadista já destruiu algumas das joias arqueológicas de Palmira, como suas famosas torres funerárias, os templos de Bel e Baalshamin e a estátua do Leão de Athena.

A diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, condenou a destruição da obra. Isso "mostra até que ponto os extremistas estão assustados pela História e pela cultura porque (...) desacreditam todos os pretextos utilizados para justificar seus crimes e os mostra como são: uma pura expressão de ódio e de ignorância", afirmou em um comunicado.

O EI considera como objetos de idolatria as obras religiosas pré-islâmicas, principalmente as estátuas.

Vários especialistas afirmam que os jihadistas utilizam a destruição destas obras como meio de propaganda entre possíveis novos recrutas.

Palmira caiu nas mãos do EI em maio, mas o califado sírio se aproxima da cidade pelo oeste, e teme-se que os jihadistas acelerem a destruição da localidade diante da chegada das tropas de Damasco.

Os jihadistas aproveitaram o caos provocado por quatro anos de guerra civil na Síria, um conflito que deixou mais de 240.000 mortos e milhões de deslocados, para estender sua influência no país.

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