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Ucrânia é criticada por proibir entrada de jornalistas estrangeiros no país

17/09/2015 16h56

Kiev, 17 Set 2015 (AFP) - A Ucrânia recebeu nesta quinta-feira uma tempestade de críticas por ter proibido a entrada em seu território de dezenas de jornalistas estrangeiros, no marco de novas sanções contra pessoas envolvidas, segundo suas autoridades, na anexação russa da Crimeia e no conflito no leste do país.

Diante da onda de indignação, as autoridades ucranianas tiveram que voltar atrás e retiraram cinco jornalistas, três da BBC, dois espanhóis desaparecidos na Síria e um alemão, da lista, onde permanece, contudo, um terceiro espanhol.

Desde a manhã, o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) desaprovou a assinatura de um decreto pelo presidente Petro Poroshenko que proibia a entrada na Ucrânia de "ao menos 41 jornalistas internacionais e blogueiros" durante um ano.

"Peço ao presidente para alterar este decreto e excluir os jornalistas", declarou a representante para a liberdade de imprensa da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa, Dunja Mijatovic, um pedido divulgado pelo Conselho da Europa.

"Estamos horrorizados com esta proibição, que representa uma violação absurda e contraproducente da liberdade de informação", informou a organização Repórteres Sem Fronteiras em um comunicado.

Poroshenko ratificou na quarta-feira um decreto adotado previamente pelo Conselho de Segurança Nacional e Defesa (RNBO) que sanciona quase 400 personalidades e 90 entidades jurídicas por representar uma "ameaça, atual ou potencial, aos interesses nacionais, à segurança nacional e à integridade territorial da Ucrânia".

A lista incluía muitos jornalistas russos que trabalham em meios como a agência de notícias oficial TASS e nas redes de televisão RT (ex Russia Today) e NTV, e a corresponsáveis de outros países como Israel, Letônia e Estônia.

Entre eles, haviam três jornalistas da BBC baseados em Moscou, assim como dois jornalistas espanhóis, Antonio Pambliega e Angel Sastre, atualmente desaparecidos na Síria, os quais foram depois retirados da lista.

Mas o RBNO afirmou que outro jornalista e historiador espanhol, César Vidal, que trabalha para o diário La Razón, permanecerá em tal lista porque uma vez se referiu supostamente à Ucrânia como "esta nação artificial que é utilizada (pelo Ocidente) como uma arma para ameaçar o Kremlin".

O ministério ucraniano de Política de Informação disse também que manteria fora do país durante um ano o russo Dimitri Kiselov, apresentador de um programa televisivo claramente anti-ocidental.

"Estas medidas não podem ser tomadas em um Estado democrático. O poder não deve ditar como os jornalistas devem fazer seu trabalho", declarou à AFP Natalia Ligasheva, especialista ucraniana em meios.

"Não são só jornalistas russos (...) mas também (outros) estrangeiros sem nenhum argumento. Por que eles? Por que são perigosos?", se perguntou em referência aos sancionados.

Na quinta-feira, o RNBO decidiu também proibir a entrada à Ucrânia do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi porque reuniu-se na Crimeia na semana passada com o presidente Vladimir Putin.

O leste da Ucrânia é cenário de um conflito há um ano e meio que opõe as forças leais a Kiev com os separatistas pró-russos e que já deixou quase 8.000 mortos, segundo a ONU. Um novo cessar-fogo instaurado em 1º de setembro está sendo globalmente respeitado.

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