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Maior autor japonês da atualidade chama escritores de egoístas em novo livro

Vendedor anuncia "Romancista Como Profissão", novo livro de Haruki Murakami - Eugene Hoshiko/AP
Vendedor anuncia "Romancista Como Profissão", novo livro de Haruki Murakami Imagem: Eugene Hoshiko/AP

De Tóquio (Japão)

11/09/2015 10h09

Haruki Murakami lançou "Romancista como Profissão" nesta quinta-feira (10) no Japão. Em seu mais novo livro, o romancista explica "Para quem escrever? Como escrever e por que continuar escrevendo romances?".

Sucesso editorial após 35 anos de carreira, Murakami é atualmente o autor contemporâneo japonês mais famoso, com milhões de livros vendidos em seu país e ao redor do mundo.

"Quase todos os autores (92% na minha opinião), eu incluído, consideram que o que dizem e escrevem é o mais justo", explica o autor de títulos aclamados como "Kafka à Beira-Mar" e a trilogia "1Q84".

"Muitos escritores são essencialmente pessoas egoístas, que têm orgulho e um senso agudo de rivalidade", completa, em um retrato pouco complacente do mundo que integra, mas do qual sente-se afastado.

"As situações nas quais a proximidade de vários escritores é negativa são mais numerosas que aquelas em que é positiva".

O escritor, que se recusa a conceder a maioria das entrevistas, havia anunciado há um ano à AFP que desejava "falar de seu ofício e de literatura", enquanto a os meios de comunicação pedem sua opinião sobre o que acontece no mundo.

Murakami aproveita desta vez as 300 páginas de seu livro, composto por muitos trechos inéditos e textos publicados em três revistas distintas nos últimos anos, para dissertar de maneira profunda sobre o ofício de autor.

Além de um autorretrato do autor, com muitos exemplos do trabalho de escrever, o livro também é uma resposta às críticas recebidas por Murakami.

"Quando escrevi Underground (uma longa reportagem sobre os autores e as vítimas do atentado com gás sarin cometido em 1995 pela seita Aum no metrô de Tóquio), os autores de não-ficção disseram que eu não respeitava as regras do gênero (...), mas eu nem sequer havia imaginado que pudessem existir supostas regras definidas", recorda.

Ele afirma que se tornou escritor porque quase todos os que sabem escrever podem fazê-lo, sem necessidade de uma técnica particular nem de aulas específicas.

"Um dia escrevi um primeiro romance (ou ao menos algo que parecia com um romance), "Hear The Wind Sing" (em inglês), recebi um prêmio de uma revista literária. E assim, sem entender muito bem por quê me tornei um romancista profissional".
 

Lançamento vira protesto contra queda de edições impressas

A livraria Kinokuniya aproveitou o novo livro de Murakami para denunciar a crise do setor, ampliada pelo domínio de gigantes como a loja on-line Amazon.

A famosa livraria de Tóquio adquiriu 90% da primeira tiragem de 100.000 exemplares de "Romancista como profissão", que, pela primeira vez, tem uma foto em preto branco de Murakami na capa.

"Tivemos muitas reservas antes do lançamento, vendemos mais de 100 em poucas horas", disse o gerente da Kinokuniya do bairro de Shinjuku em Tóquio.

A Kinokuniya escolheu desta vez um livro de Murakami porque tem certeza da venda dos exemplares. O objetivo é denunciar a atitude do setor de distribuição e as editoras, que segundo a livraria costumam favorecer os vendedores online, em detrimento das pequenas livrarias em dificuldades.

"Queremos que as editoras imprimam exemplares suficientes para que até as pequenas livrarias de bairro possam vendê-los", anunciou a empresa japonesa.

"Compramos 90% e distribuímos a todas as livrarias que nos fazem pedidos".

"Faremos outras ações deste tipo com livros de autores de renome", avisou a livraria.

Murakami não fez nenhum comentário sobre a estratégia da Kinokuniya.