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Google, Facebook e Twitter se aliam na França para promover discurso anti-jihadista

27/05/2015 16h52

Paris, 27 Mai 2015 (AFP) - Depois dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, Google, Facebook e Twitter tentam promover juntos na internet na França um "discurso contra" em resposta à propaganda jihadista, com a participação do governo e associações.

O objetivo desta aliança inédita dos três principais concorrentes da web é para conter a enxurrada de vídeos de propaganda, que se valem de mitos de justiça e heroísmo, procurando doutrinar os jovens para convencê-los a irem para Síria ou Iraque. A França é um dos principais países ocidentais fornecedores de jihadistas.

"Nós lutamos contra o incitamento ao ódio e à violência: nós removemos 14 milhões de vídeos do YouTube no ano passado", explicou Benoît Tabaka, diretor de políticas públicas para o Google France. "Mas isso não é suficiente: para lutar, temos de espalhar um conteúdo positivo".

Para todos os especialistas, a repressão sozinha dos locais terroristas não é uma solução. E se a lei francesa anti-terrorismo agora permite que o governo socialista francês peça o fechamento de alguns sites, o Google France diz que "nunca recebeu qualquer pedido das autoridades".

Para ser eficaz, o contra-discurso, um conceito nascido no mundo anglo-saxão, deve ser criativo. Ele pode passar por escárnio e humor, ou por argumentos teológicos contra, pela verificação fatos ou dar a palavra aos "arrependidos" da jihad, os mais legítimos para responder à propaganda - segundo as empresas.

Mas as associações, consideradas as mais eficazes para trazer este discurso, ainda não dominam essa comunicação.

"Com nossa experiência digital nós iremos ajudá-los a melhor promover tais conteúdos nas redes sociais. Nós também oferecemos ligações grátis patrocinados que aparecem no topo da pesquisa, por exemplo, para palavras-chave como 'ir para a jihad'", explicou Benoît Tabaka.

Os três grupos convidaram nesta quarta-feira à sede francesa da Google em Paris trinta associações para serem treinadas na criação de mensagens que podem ser amplamente compartilhadas entre os usuários. Também estiveram presentes representantes do ministério do Interior, ligado à operação, e muitos especialistas.



- 'Jogar com a emoção'-

"A contra-discurso tem um enorme potencial para dar uma mensagem diferente para os jovens no processo de radicalização. Mas a estratégia ainda é pouco desenvolvida na França", explicou Delphine Reyre, Diretor de Assuntos Públicos da Facebook, citando o sucesso mundial do "hashtag" e do slogan "jesuischarlie" nas redes sociais depois dos ataques em janeiro, em Paris.

Os gigantes da internet estão dispostos a ajudar esses conteúdos a ganharem uma notoriedade natural, mas não a apresentá-las deliberadamente. "O Facebook deve permanecer neutro e não deve julgar o conteúdo", resumiu um porta-voz do grupo.

"Os movimentos jihadistas produzem vídeos bem-feitos, sabem como usar as ferramentas de edição, dominam as narrativas. Eles não precisam da mídia. Um discurso do Estado Islâmico percorreu o mundo 100 vezes antes de pousar em um jornal", afirmou o repórter da France 24 Wassim Nasr, especialista no assunto.

Desde fevereiro o governo francês tem se lançado em operações de contra-discurso, com um vídeo que responde ponto a ponto aos argumentos jihadistas e redirecionando para o site onde as famílias podem encontrar jovens que estão pensando em partir.

"Este vídeo foi visto mais de 2 milhões de vezes. Nós pensamos em completá-la com testemunhos de famílias", ressaltou Christian Gravel, diretor do Serviço de Informação do governo.

"Não deve estar apenas no registo racional: como o Estado Islâmico, devemos apelar para a emoção, produzir uma história, evocar adesão, restabelecer o contato com aqueles que se sentem rejeitados",continuou. "Mas quando uma ferramenta está estampada com o logotipo do estado, sua recepção é limitada", reconheceu.

"Ninguém vai para um site do governo para encontrar um contra-discurso. Isso deve ser um movimento cidadão", acrescentou a senadora Nathalie Goulet, presidente da Comissão do Senado de Inquérito sobre a organização da luta contra as redes jihadistas.