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Falta de diversidade volta a dominar o debate sobre o Oscar

16.dez.2014 - Cameron Diaz posa na pré-estreia do filme "Annie", nos EUA - AP
16.dez.2014 - Cameron Diaz posa na pré-estreia do filme "Annie", nos EUA Imagem: AP

22/02/2015 08h24

Los Angeles, 22 Fev 2016 (AFP) - Mais uma vez, "diversidade" é a palavra do momento em Hollywood. A cerimônia do Oscar se aproxima em meio a uma polêmica já frequente na indústria do cinema: a tendência de que os artistas indicados sejam todos brancos ameaça turvar o ambiente.

Nenhum ator ou atriz de minoria foi indicado pelo segundo ano consecutivo, o que provocou protestos contra a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, entidade que organiza o Oscar.

Darnell Hunt, líder do Centro para Estudos Afro-Americanos Ralph J. Bunche da Universidade da Califórnia em Los Angeles, descreve a polêmica - tema de uma campanha nas redes sociais com a hashtag #OscarsSoWhite (Oscar tão branco) - como "o mesmo de sempre".

"Hollywood é uma indústria muito isolada. Está dominada por homens brancos. Sempre foi assim. Tendem a ficar perto das pessoas com as quais sentem-se cômodos", disse à AFP Hunt, que é um dos autores de um relatório anual sobre a diversidade em Hollywood.

"Tendem a parecer a si mesmos: outros homens brancos, com a maioria dos quais já trabalharam antes. E esta prática é traduzida na estrutura da indústria que observamos durante gerações".

O estudo de Hunt de 2015 apontou que as minorias étnicas, que constituem quase 54% da população americana, está sub-representada em todas as frentes, desde os papéis de protagonistas até os postos de diretores, roteiristas e até mesmo entre os participantes de reality shows na TV.

O problema é quase igual entre as mulheres, destaca o informe, que examinou os 200 filmes mais importantes lançados em 2012 e 2013, assim como todos os programas da TV a cabo e televisão aberta exibidos na temporada 2012-2013.

Entre os diretores dos estúdios de cinema, 94% são brancos e 100% homens. Os executivos com os principais cargos são 92% brancos e 83% homens. O padrão se repete na televisão.

Responsabilidade pessoalHunt afirma que Hollywood pode, inclusive, estar perdendo oportunidades de negócios, porque um filme com elenco relativamente diversificado arrecadaria mais na bilheteria e o investimento teria um retorno maior.

A direção da Academia, que tenta superar as acusações de racismo institucional, anunciou que até 2020 vai dobrar o número de mulheres e indivíduos pertencentes a minorias entre os membros votantes. Atualmente, tais grupos estão representados em 24% e 7%, respectivamente.

Todos os olhos da cerimônia do próximo domingo, 28 de fevereiro, estarão voltados para o comediante e ator Chris Rock, negro, que será o apresentador do Oscar, apesar dos muitos pedidos para que boicotasse a premiação.

Analistas acreditam que o artista de 51 anos não evitará a polêmica e deve utilizá-la durante a cerimônia. Rock reescreveu seu roteiro depois que a atriz Jada Pinkett Smith anunciou que não compareceria ao evento.

"No Oscar, as pessoas de cor sempre são bem-vindas no momento de entregar prêmios, ou inclusive para entreter", afirmou Pinkett Smith, de 44 anos.

"Mas quase nunca nos reconhecem por nossas conquistas artísticas. As pessoas de cor deveriam deixar de participar nestes eventos?".

Agora que a temporada de prêmios está no auge, muitas pessoas importantes em Hollywood comentam o tema.

"Penso que isto se reduz a uma questão de responsabilidade, responsabilidade pessoal", disse o diretor do filme "Spotlight", Tom McCarthy, à imprensa durante o almoço em homenagem aos indicados em Los Angeles.

"Isto apresenta a grande pergunta: O que podemos fazer? Todos temos que fazer a nossa parte. Cada escritor, diretor, ator, produtor e espectador".

Apartheid institucional O veterano Sylvester Stallone, indicado na categoria ator coadjuvante, revelou no mesmo evento que pensou em boicotar o Oscar ao ficar sabendo que nenhum artista negro do filme "Creed" havia sido indicado ao Oscar.

O diretor de "Mad Max", George Miller, recebeu com agrado o debate, mas afirmou que na realidade já era história antiga.

A Coalizão de Meios Multiétnicos, um grupo de pressão que desde o ano 2000 se reúne anualmente com os quatro principais canais de televisão dos Estados Unidos, anunciou em um comunicado que iniciou conversas com os grandes estúdios de Hollywood sobre o tema diversidade.

"Nós superamos fronteiras na televisão e voltaremos a fazer no cinema", disse Alex Nogales, da National Hispanic Media Coalition, uma coalizão de organizações latinas que integra o grupo.