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"Taxi", do iraniano Jafar Panahi, leva o Urso de Ouro em Berlim

14/02/2015 18h51

Berlim, 14 Fev 2015 (AFP) - O Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival Internacional de Cinema de Berlim, foi conquistado neste sábado pelo filme "Taxi", do dissidente iraniano Jafar Panahi, ausente no evento porque está proibido de deixar seu país.

O presidente do júri, o diretor americano Darren Aronofsky, saudou "a carta de amor ao cinema" do realizador iraniano.

Já o Grande Prêmio do júri do festival foi para "El Club", do chileno Pablo Larraín. O filme, que denuncia os mecanismos de acobertamento dos casos de pedofilia pela Igreja católica, conta a história de um grupo de padres com passado obscuro expulsos para uma casa de oração e penitência.

"Muita gente no mundo mata em nome de Deus e espero que isso acabe", declarou Larraín ao receber a estatueta.

Na categoria direção, o júri optou por conceder dois Ursos de Prata. Um foi para o romeno Radu Jude, por "Aferim", um 'road movie' em preto e branco, e o outro para a polonesa Malgorzata Szumowska, por "Body", que, através de um médico legista, faz uma reflexão sobre o corpo e o espírito.

O Urso de Prata de melhor ator e atriz foram conquistados, respectivamente, por para Tom Courtenay e Charlotte Rampling, ambos por "45 Years".

Os dois atores britânicos vivem Kate e Geoff, um casal que vai comemorar os 45 anos de união, mas que um evento inesperado abala as certezas da relação.

A produção latino-americana também levou quatro prêmios importantes: o Urso de Prata para "El Club", o Urso de Prata de melhor roteiro para o também chileno Patricio Guzmán, o Urso de Prata especial para "Ixcanul", do guatemalteco Jayro Bustamante, e um prêmio especial para um primeiro longa-metragem para o mexicano Gabriel Ripstein, pelo filme "600 millas".



Subversivo

O diretor Jafar Panahi, de 54 anos, é celebrado pelos cinéfilos em todo o mundo, mas está proibido de realizar sua atividade no Irã, onde o regime considera subversiva sua visão crítica da sociedade.

Panahi foi detido por causa de um documentário que estava filmando sobre os distúrbios a respeito da polêmica eleição presidencial de 2009 e foi proibido de fazer novos filmes por 20 anos "por atentado contra a segurança do Estado e ato de propaganda contra o regime".

"Taxi" é o terceiro filme que Panahi dirige após a condenação. Apesar de não ter permissão de viajar ao exterior, o iraniano foi muito aplaudido em Berlim e recebeu estímulo para seguir desafiando a proibição.

"Sou um cineasta. Não posso fazer outra coisa a não ser filmes. O cinema é meu modo de expressão e a razão da minha vida", disse.

Em "Taxi", Panahi oferece suas impressões da Teerã contemporânea através das janelas de um carro.

Cada passageiro que ele transporta apresenta uma história.

Na primeira viagem, duas pessoas que não se conhecem e seguem para o mesmo local debatem sobre a 'sharia' (lei islâmica) e a pena capital.

O homem afirma que os ladrões de autopeças deveriam ser enforcados, enquanto a professora sentada atrás responde que a aplicação da pena de morte não é eficaz para impor a ordem social.

"Depois da China somos os que temos o maior número de execuções", protesta, em um momento mais intenso da discussão.

Com as histórias e pontos de vista, os passageiros do táxi falam muito da realidade do país.

O filme ganha força com a diversidade de personagens e situações. Alguns passageiros reconhecem o cineasta, outros suspeitam que ele não é taxista de verdade.

Em um momento, o diretor transporta um homem que diz reconhecer Panahi e então começa um filme dentro do filme no qual o homem, que vende DVDs piratas, faz piada com o cineasta sobre a qualidade dos passageiros anteriores enquanto atores.

O filme é o terceiro dirigido por Panahi em desafio às autoridades, depois de "Isto não é um filme" e "Cortinas Fechadas".

Condenado a seis anos de prisão e 20 anos de proibição de fazer cinema ou viajar, o cineasta conseguiu recuperar uma liberdade precária que lhe permite filmar clandestinamente, mas não sair do país.

O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, afirmou que o festival "continuará convidando o cineasta até que possa viajar".

Panahi ganhou fama como um observador comprometido da sociedade. Representante da "nova onda" do cinema iraniano, ao lado de Abbas Kiarostmi, de quem foi assistente, Panahi recebeu vários prêmios em festivais internacionais por filmes como "O Balão Branco" e "O Círculo".