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Com atentados de Paris, teorias da conspiração voltam à internet

18/01/2015 14h49

Paris, 18 Jan 2015 (AFP) - Uma operação dos serviços secretos, um complô dos meios de comunicação ou contra os muçulmanos? As teorias da conspiração voltaram com força à internet, apenas algumas horas após o atentado contra a revista Charlie Hebdo em Paris.

Assim como ocorreu com o 11 de setembro de 2001, logo depois que começaram a ser divulgadas as primeiras imagens do atentado contra a revista satírica, no dia 7 de janeiro, a máquina de fabricar rumores começou a funcionar a todo vapor.

Entre os mais divulgados figura a suposição de que os irmãos Kouachi, que mataram 12 pessoas, utilizaram vários veículos, já que em uma imagem aparece um carro com retrovisores brancos perto do local do ataque e depois, quando o carro foi abandonado, mais ao norte, eles eram pretos.

Mas o veículo utilizado pelos jihadistas tinha retrovisores cromados, cuja cor muda em função da luz, explicaram os especialistas.

O documento de identidade perdido por um dos irmãos Kouachi, o telefone mal colocado no gancho no mercado judeu onde Amedy Coulibaly matou quatro pessoas no dia 11 ou o traçado da manifestação em repúdio aos atentados em Paris que teria desenhado as fronteiras de Israel: vale tudo para alimentar as teorias mais delirantes.

O ataque contra a revista satírica Charlie Hebdo, sem precedentes, é "um evento que marca uma ruptura da ordem social e política. Há uma necessidade de responder à comoção com interpretações", explica à AFP Emmaneul Taieb, professor de Ciência Política de Lyon (centro) e especialista em teorias da conspiração.

"A leitura dominante que pode ser oferecida pela polícia, pelos políticos e analistas é considerada pobre, decepcionante. É, portanto, eliminada ou questionada em benefício de outra análise mais sedutora, mais inquietante", indica em relação aos que enxergam em toda parte os Illuminati (suposta sociedade secreta) ou um complô judeu-maçônico.

"Li na internet" é um tipo de argumento muito popular entre as gerações mais jovens, para as quais a web é a principal fonte de informação.



O papel das redes sociais

Mohamed Tria, de 49 anos, empresário e presidente do clube de futebol La Duchere, em um bairro difícil de Lyon, terceira cidade da França, explica que a "interpretação dos eventos da semana passada foi completamente diferente nestes bairros".

"Reuni 40 jovens de 13 a 16 anos em meu clube: fiquei chocado com o que ouvi (...) Não foram informações dos jornais, mas das redes sociais, é a única fonte para eles e acreditam que é a verdade", contou à AFP.

"Há 30 anos, o que as crianças aprendiam era 90% proveniente de seus pais e da escola. Agora é o contrário. É necessária uma educação sobre as redes sociais", exigia nesta semana um educador em uma mesa-redonda em Sarcelles, um subúrbio popular de Paris.

"A adolescência é uma etapa durante a qual a pessoa precisa se reafirmar e se rebelar contra o adulto, a ordem estabelecida, a sociedade, etc. As teorias alternativas são um campo de expressão formidável para eles", analisa Guillaume Brossard, co-fundador do hoaxbuster.com, um site que permite verificar a validade das informações que circulam na web.

"A explosão das redes sociais fez com que as conversas do pátio da escola ocorram agora no Twitter, Snapchat ou Instagram. Os links da internet que levam a conteúdos que os adolescentes sempre quiseram esconder de seus pais são compartilhados de forma instantânea com os smartphones", acrescenta.

Para Olivier Ertzscheid, professor de Ciência da Informação em Nantes (oeste), "os meios de comunicação institucionais, como (o jornal) Le Monde, tiveram uma resposta muito rápida nas redes sociais para rebater todos estes rumores. Sua reatividade é essencial".

Mas estas teorias não seduzem apenas os mais jovens, como demonstrou o caso de uma professora suspensa perto de Paris ou de agentes municipais punidos em Lille (norte): todos eles enxergavam um complô por trás do atentado contra a Charlie Hebdo.

Em uma entrevista ao jornal russo Komsomolska¯a Pravda, o presidente de honra da Frente Nacional (extrema-direita), Jean-Marie Le Pen, julgou que o atentado levava a "assinatura dos serviços secretos", embora depois tenha negado ter feito esta afirmação.

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