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Murakami condena "discurso de ódio"

16/01/2015 17h36

Tóquio, 16 Jan 2015 (AFP) - Em resposta a perguntas feitas em seu site, o escritor japonês Haruki Murakami condenou o "discurso de ódio" e expressou seu desejo de escrever outro ensaio. Ele não abordou diretamente o caso Charlie Hebdo.

"Só responderei a uma das suas quatro perguntas", escreveu o autor de "1Q84" à primeira pessoa que lhe interrogou em "Murakami-san non tokoro" ("O espaço de Murakami", em português), uma página temporária em que o mais conhecido autor japonês da atualidade bate papo com com seus fãs.

Murakami evitou responder a pergunta de Gege, um estudante de 23 anos: "Ainda que se considerem os atos terroristas horríveis, você acredita que é preciso proteger a liberdade de expressão de cartuns como o da Charlie Hebdo?"

Expressar-se diante do fanatismo é um tema amplamente tratado por quem, em seu romance "Underground", se dedicou ao estudo das vidas e motivações dos membros do grupo Aum, autores do atentado com gás sarin no metrô de Tóquio há 20 anos. O livro também aborda com detalhes a história das vítimas do ataque, que deixou 13 mortos e cerca de 6.300 intoxicados.

À pergunta de Mimi, 43 anos, "Você pretende escrever um novo ensaio documental como Undergroung?", Murakami respondeu: "Penso nisso, mas ainda não passei da fase de realização. Os preparativos são difíceis".

A liberdade de expressão voltou à tona quando Yurikoko, uma estudante de 22 anos, perguntou ao autor como conter os discursos de ódio, inclusive racistas, de grupos da extrema direita japoneses contra os coreanos e outros estrangeiros.

"Como escritor tenho sido alvo de discursos de ódio. Muita gente diz coisas horríveis. Mas como eu gosto do meu trabalho, não me abalo. Em certa medida, deixo acontecer. É injusto para qualquer pessoa escutar ofensas sobre sua raça, seu lugar de nascimento, entre outras coisas que não se pode fazer nada. Deve-se agir contra esta tendência", escreveu.

Murakami confirma em suas respostas a vontade de se manter o mais próximo possível da literatura e da escrita, sem se comprometer muito, exceto em temas abordados em sua obra ou em suas escassas aparições públicas.

Quando um internauta lhe contou que há uma livraria em Shizuoka (sudeste) que se se chama "Muro e ovos", o escritor demonstrou alegria, mas sem explicar que essa foi uma metáfora utilizada por ele em Israel ao receber o Prêmio Jerusalém. Na ocasião, ele falou das populações frágeis (ovos) oprimidas pelo contato com o todo-poderoso Estado (muro) e garantiu que sempre estará do lado dos primeiros.

Respondendo a uma dona de casa de 49 anos, ficou feliz por comemorar seu aniversário no mesmo dia que o escritor americano Jack London, mas confessou que recentemente sentiu mal-estar ao descobrir que o braço direito de Hitler, Hermann Goering, também nasceu no dia 12 de janeiro. Irônico, ele acrescentou que "isso explica por que teve a nota mais alta nos testes de inteligência realizados pelos aliados aos nazistas presos".

Murakami revelou pouco nesta primeira bateria de 10 respostas a perguntas que os internautas podem formular no site (www.welluneednt.com) até o final de janeiro. Ele diz ter "pequenos segredos que incomodaria se fossem vistos pelo buraco da fechadura".



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