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Mammy, de "...E o Vento Levou", vira heroína de romance

Hattie McDaniel como a personagem Mammy, de "...E o Vento Levou" - Divulgação
Hattie McDaniel como a personagem Mammy, de "...E o Vento Levou" Imagem: Divulgação

De Washington

29/10/2014 09h55

"Mammy", a simpática e teimosa escrava que cuidava com zelo de Scarlett O'Hara em "... E o vento levou", virou a personagem principal de um romance lançado com o consentimento dos herdeiros da escritora Margaret Mitchell, que publicou seu famoso livro em 1936.

O livro "Ruth's Journey" (A jornada de Ruth, em tradução livre), escrito por Donald McCaig e publicado neste mês nos Estados Unidos pela Atria Books, não é uma continuação de "... E o vento levou", e sim a história que o precede, a chamada "prequência".

"É a reconstrução da vida de uma personagem famosa, cuja contribuição não foi devidamente apreciada ainda", declarou à AFP o escritor americano de 74 anos.

No livro de Mitchell, que inspirou o filme cult de mesmo nome e que celebra este ano o 75º aniversário, Mammy sequer tem um nome real, afirma ainda o autor.

Mitchell chegou a ser acusada de racismo, mas, "na época, seria provavelmente impossível que uma escritora branca considerasse os negros tão importantes ou reais como os brancos", explicou McCaig.

É assim que "Mammy" vira Ruth, em referência ao personagem bíblico que é símbolo da fé e fidelidade.

A partir de uma menção às origens francesas da ama de leite de Scarlett, o autor imaginou a infância em Saint-Domingue - ex-colônia francesa que virou o Haiti - da futura babá, uma órfã acolhida por um casal de franceses.

Expulsos pelos levantes separatistas, o casal se exila nos Estados Unidos, em Savannah (Geórgia), onde a francesa fica viúva e volta a se casar, dando à luz Ellen Robillard, a futura senhora O'Hara, mãe de Scarlett.

"Mammy" viverá sua própria vida antes de se ocupar e se dedicar à pequena Scarlett.


Metade da história

"Houve milhares de 'mammys' no sul americano, muitas delas não tinham nome (nos romances), milhares de mulheres que criaram como seus os filhos dos brancos ricos", explica ainda o autor.

"Para mim, a ausência da voz de Mammy, de sua história, de sua personalidade em '... E o vento levou' foi um grande vazio, é como se o livro contasse a metade da história", complementou.

"A babá é uma personagem trágica, mas que jamais perde a esperança. É determinada e muito digna, mas não é uma rebelde", conclui.

A história do livro, cuja terceira parte é narrada do ponto de vista da escrava, termina justamente uma semana depois da famosa festa do início do romance de Margaret Mitchell.

A pedido dos herdeiros de Mitchell, McCaig escreveu em 2007 "O clã de Rhett Butler", também derivado de "... E o vento levou", e que conta os tormentos amorosos de Scarlett e Rhett durante a Guerra da Secessão.

Junto a "Scarlett", de Alexandra Ripley e publicado em 1991, este é um dos únicos dois romances até agora autorizados pela família de Mitchell, que faleceu em 1949.

O maior desafio ante um livro icônico "é ser respeitoso com o original e, ao mesmo tempo, ter algo extra a acrescentar", comentou o autor, acrescentando ter trabalhado com uma grande liberdade por parte dos herdeiros de Mitchell.

O livro é dedicado a Hattie McDaniel, a primeira atriz negra americana a ganhar um Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1939 por sua brilhante interpretação de Mammy no filme baseado no livro.