Somalilândia abandona lentamente mutilação genital feminina mais extrema
HARGEISA, Somalia, 21 Fev 2014 (AFP) - Na Somalilândia, região somali autoproclamada independente, a maioria das mulheres de mais de 25 anos sofreu em sua infância uma mutilação genital extrema para supostamente permanecer puras, mas a prática é cada vez mais criticada.
A mutilação aplicada nesta região do extremo noroeste da Somália associa excisão e infibulação: ablação do clitóris e dos pequenos lábios, corte na vulva e costura dos grandes lábios.
É deixado apenas um pequeno orifício para que as meninas possam urinar e mais tarde para a menstruação.
A operação costuma ser realizada com uma navalha de barbear quando a menina tem entre cinco e onze anos e não utiliza anestesia. Elas ficam "costuradas" até o casamento. A vagina voltará a se abrir com as relações sexuais ou com a ajuda de tesouras.
"Cortei meninas durante 15 anos. Minha avó e minha mãe me ensinaram a fazer isso e era uma fonte de renda para mim, mas deixei isso há quatro anos", conta Amran Mahmood, um morador de Hargeisa, capital da Somalilândia, de 40 anos.
"Decidi deixar (a atividade) por problemas", afirma. Entre suas piores recordações está a de uma menina que começou a sangrar sem que conseguisse conter a hemorragia. Não diz o que aconteceu com a criança.
Antes, praticar estas mutilações concedia prestígio social e era rentável, já que se pagava por cada menina entre 30 e 50 dólares, um valor considerável na Somalilândia.
Amran Mahmood diz ter realizado esta operação em sua filha, mas jura que suas netas não passarão por isso.
Depois de participar de seminários da ONG Tostan, financiados pelo Fundo da ONU para a Infância (UNICEF), Amram Mahmood se converteu em uma ativista anti-infibulação.
Na região, as consequências desta operação (infecções renais, urinárias, dores, sangramento, complicações no parto) começam a desprestigiar a prática, sobretudo em Hargeisa.
"As coisas mudam. Agora há homens que estão dispostos a se casar com meninas que não tenham sido cortadas", afirma Mohamed Said Mohamed, chefe de um bairro dos arredores de Hargeisa. "Nossa religião não tolera isso", acrescenta.
Na escola de educação primária do bairro, as meninas ficam sentadas de um lado da sala, vestidas com uma saia longa bege e um jihab preto. Os meninos permanecem do outro lado, com calça bege e camisa branca.
"As pessoas começam a ver até que ponto a forma extrema (de mutilação) é perigosa", comenta Sagal Abdulrahman, uma adolescente de 14 anos.
"O primeiro tipo (de mutilação) implica pontos de sutura e é doloroso (...) o segundo é menos", opina sua companheira, Asma Ibrahim Jibril.
Mas Charity Koronya, da UNICEF, considera que nenhuma delas é aceitável. "Para mim, o abandono total é chave porque, ainda que seja um corte pequeno, não deixa de ser uma agressão", explica.
Na Somalilândia, os debates também se concentram em saber se o islã impõe ou tolera estas práticas.
"Deter completamente as mutilações genitais femininas não funcionará em nosso país", afirmou Abu Hureyra, um chefe religioso. "Mas somos a favor de colocar fim à variante extrema".
"Há médicos que afirmam que cortar é bom para a saúde das mulheres", insiste Mohamed Jama, um funcionário do ministério de Assuntos Religiosos da Somalilândia.
"Se você corta uma mulher, a está matando", protesta um jovem líder, Rahman Yusuf.
Outros líderes islâmicos não sabem muito bem o que defender. Dizem ter consultado especialistas em islã de Arábia Saudita e Catar, mas, segundo eles, as respostas são contraditórias.
A mutilação aplicada nesta região do extremo noroeste da Somália associa excisão e infibulação: ablação do clitóris e dos pequenos lábios, corte na vulva e costura dos grandes lábios.
É deixado apenas um pequeno orifício para que as meninas possam urinar e mais tarde para a menstruação.
A operação costuma ser realizada com uma navalha de barbear quando a menina tem entre cinco e onze anos e não utiliza anestesia. Elas ficam "costuradas" até o casamento. A vagina voltará a se abrir com as relações sexuais ou com a ajuda de tesouras.
"Cortei meninas durante 15 anos. Minha avó e minha mãe me ensinaram a fazer isso e era uma fonte de renda para mim, mas deixei isso há quatro anos", conta Amran Mahmood, um morador de Hargeisa, capital da Somalilândia, de 40 anos.
"Decidi deixar (a atividade) por problemas", afirma. Entre suas piores recordações está a de uma menina que começou a sangrar sem que conseguisse conter a hemorragia. Não diz o que aconteceu com a criança.
Antes, praticar estas mutilações concedia prestígio social e era rentável, já que se pagava por cada menina entre 30 e 50 dólares, um valor considerável na Somalilândia.
Amran Mahmood diz ter realizado esta operação em sua filha, mas jura que suas netas não passarão por isso.
Depois de participar de seminários da ONG Tostan, financiados pelo Fundo da ONU para a Infância (UNICEF), Amram Mahmood se converteu em uma ativista anti-infibulação.
Na região, as consequências desta operação (infecções renais, urinárias, dores, sangramento, complicações no parto) começam a desprestigiar a prática, sobretudo em Hargeisa.
"As coisas mudam. Agora há homens que estão dispostos a se casar com meninas que não tenham sido cortadas", afirma Mohamed Said Mohamed, chefe de um bairro dos arredores de Hargeisa. "Nossa religião não tolera isso", acrescenta.
Na escola de educação primária do bairro, as meninas ficam sentadas de um lado da sala, vestidas com uma saia longa bege e um jihab preto. Os meninos permanecem do outro lado, com calça bege e camisa branca.
"As pessoas começam a ver até que ponto a forma extrema (de mutilação) é perigosa", comenta Sagal Abdulrahman, uma adolescente de 14 anos.
"O primeiro tipo (de mutilação) implica pontos de sutura e é doloroso (...) o segundo é menos", opina sua companheira, Asma Ibrahim Jibril.
Mas Charity Koronya, da UNICEF, considera que nenhuma delas é aceitável. "Para mim, o abandono total é chave porque, ainda que seja um corte pequeno, não deixa de ser uma agressão", explica.
Na Somalilândia, os debates também se concentram em saber se o islã impõe ou tolera estas práticas.
"Deter completamente as mutilações genitais femininas não funcionará em nosso país", afirmou Abu Hureyra, um chefe religioso. "Mas somos a favor de colocar fim à variante extrema".
"Há médicos que afirmam que cortar é bom para a saúde das mulheres", insiste Mohamed Jama, um funcionário do ministério de Assuntos Religiosos da Somalilândia.
"Se você corta uma mulher, a está matando", protesta um jovem líder, Rahman Yusuf.
Outros líderes islâmicos não sabem muito bem o que defender. Dizem ter consultado especialistas em islã de Arábia Saudita e Catar, mas, segundo eles, as respostas são contraditórias.
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