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Octogenário alemão quer recuperar obras do "tesouro nazista" apreendidas

Em Berlim

19/02/2014 12h38

Cornelius Gurlitt, o octogenário alemão que tinha em sua posse o "tesouro nazista" revelado em novembro, denunciou à Justiça administrativa a apreensão desta coleção, que inclui quadros de Picasso, Monet e Renoir, anunciou seu porta-voz nesta quarta-feira (19).

Os advogados de Gurlitt "apresentaram um recurso ante o tribunal administrativo de Augsburgo (sul da Alemanha) contra a decisão de 23 de setembro de 2011 de busca e apreensão" destas obras, indicou em um comunicado o porta-voz do octogenário, Stephan Holzinger.

Na casa de Gurlitt em Munique (sul da Alemanha) foram encontradas mais de 1.400 obras de arte, incluindo quadros de grandes mestres, entre eles pinturas que provavelmente foram espoliadas de judeus durante o regime nazista.

As obras foram descobertas em fevereiro de 2012 durante uma investigação no apartamento de Gurlitt, depois que as autoridades aduaneiras o encontraram em um trem da Suíça com 9.000 euros em dinheiro.

O objetivo deste recurso é que a apreensão seja revogada e Gurlitt possa recuperar a coleção, declarou nesta quarta-feira seu porta-voz.

O tribunal administrativo de Augsburgo confirmou que este recurso havia sido apresentado, enquanto o Ministério Público afirmou que fará declarações a respeito, sem informar quando.

"O senhor Gurlitt e sua defesa têm total consciência da dimensão moral deste caso", afirmou um de seus advogados. No entanto, "é preciso distinguir claramente o direito e a moral em um procedimento judicial", acrescentou.

O porta-voz de Gurlitt ressaltou que o octogenário não participou de nenhum ato questionável para comprar obras de arte.

Seu pai, Hildebrand Gurlitt, foi um marchand de arte que formou uma boa coleção nos anos 30 e 40. Embora no início tenha sido ameaçado pelos nazistas por ser neto de uma judia, depois serviu ao Terceiro Reich, que o encarregou de vender obras confiscadas, espoliadas para conseguir divisas.

Os advogados de Cornelius Gurlitt consideram que as suspeitas de fraude fiscal não justificam a apreensão da coleção.

Seus advogados de defesa afirmaram em várias oportunidades que Gurlitt está disposto a dialogar com os possíveis herdeiros dos eventuais donos espoliados destas obras. Portanto, deseja um acordo amistoso sobre as obras "cuja origem possa ser problemática".

As autoridades alemãs foram criticadas por sua suposta lentidão neste caso. Embora as obras encontradas no apartamento de Gurlitt tenham sido descobertas no início de 2012, este espetacular achado foi divulgado apenas no fim do ano passado em um artigo de uma revista.