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Cinema asiático é grande vencedor da Berlinale

15/02/2014 21h43

BERLIM, 15 Fev 2014 (AFP) - O thriller do diretor chinês Diao Yinan "Carvão negro, gelo fino", história de um ex-policial que se apaixona por uma suspeita de assassinato, ganhou o Urso de Ouro da 64ª Berlinale, neste sábado.

O protagonista do filme, Liao Fan, levou o Urso de Prata de melhor ator, enquanto a japonesa Haru Kuroki, uma das atrizes de "Little House", do veterano Yoji Yamada, ganhou a estatueta na categoria de melhor atriz.

Conhecido por seus filmes de arte e experimentações independentes e de baixo custo, o diretor Diao Yinan declarou, após receber o troféu, que tentou unir "o lado artístico com um aspecto mais comercial".

A trama, entrecortada por enigmáticos flashbacks, desenvolve-se nos anos 1990, no norte da China.

Liao contou que engordou 20 quilos para interpretar o ex-policial alcoólatra suspenso que se apaixona por uma mulher fatal.

Diao Yinan utiliza os personagens do ex-policial Zhang Zili (Liao Fan) e Wu Zhizhen, a mulher fatal (Gwei Lun Mei), como uma referência direta ao cinema clássico de detetives, sem deixar de entrar na vida das pessoas comuns.

O filme começa com a descoberta de uma série de cadáveres em uma cidade do norte da China. Durante a operação para capturar o suposto assassino, dois policiais são abatidos. Zhang Zilie, o oficial sobrevivente, é suspenso. Ele consegue um trabalho como vigia e começa a beber.

Cinco anos depois, quando acontece uma nova série de assassinatos, Zhang decide investigar por sua conta e descobre que todas as vítimas tinham algo em comum com Wu Zhizhen. O ex-policial se apaixona por ela e, em um dia frio de inverno, descobre que sua vida corre perigo.

Diao Yinan disse que não esperava ganhar o prêmio máximo da Berlinale e que, quando soube que seu ator Liao Fan também havia sido premiado, "eu me alegrei muito".

"Os filmes chineses são cada vez mais aceitos no exterior. Na China, o mercado é imenso, mas para os filmes de arte e de experimentação há menos público", acrescentou.

Ele disse ainda que, na China, "existe a censura, como em todos os países, imagino, mas o fato de que tenhamos podido vir à Berlinale demonstra que há mais tolerância agora. É todo um processo".

Diao Yinan levou oito anos para escrever o roteiro, que se desenvolve em uma paisagem com muita neve. "Parecia uma história sem fim. Finalmente, consegui encontrar um vínculo entre o artístico e o comercial", explicou.

Ele contou ainda que, quando fazia filmes independentes de baixo orçamento, "era livre".

"Agora, tenho orçamentos mais vultosos, mas sou menos livre. O importante é encontrar novas formas de expressão visual", completou.

O segundo dos três longas chineses em competição este ano, "Blind Massage", filmado em parte com cegos que não eram atores, ganhou o Urso de Prata de melhor contribuição artística pela fotografia de Zeng Jian.

Cinema dos EUA também é recompensado Os filmes americanos compartilharam a glória com os asiáticos. "O grande hotel Budapeste", de Wes Anderson, levou o Grande Prêmio do Júri.

O diretor texano Richard Linklater conquistou a estatueta de melhor diretor por "Boyhood", uma ficção sobre a vida de uma família média americana, filmada ao longo de 12 anos.

"Boyhood" conta a história do garoto Mason, dos seis aos 18, nesse experimento que pretende ser o retrato de uma família, mostrando seu cotidiano em Austin, cidade natal do diretor.

"Buscava o realismo, estava tudo escrito. A vida que segue seu curso, sem dramalhão, nem pieguismo. Buscava seguir o fio do cotidiano. Não queria mostrar o primeiro beijo, ou a perda da virgindade, já se viu isso bastante no cinema", declarou o diretor, após a projeção.