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Símbolo dos rebeldes anos 60, a minissaia continua sendo peça-chave do guarda-roupa feminino

07/02/2014 20h17

PARIS, 07 Fev 2014 (AFP) - A minissaia é hoje em dia uma peça fundamental no guarda-roupa das mulheres, mas sua aparição teve o efeito de uma bomba nos anos 60, quando meninas desnudaram suas coxas e joelhos como forma de manifestar sua emancipação.

"Que horror deixar os joelhos à mostra!". Essas palavras, pronunciadas em 1969, são de Coco Chanel. Aquela que sacudiu a moda entre as duas guerras mundiais e libertou a silhueta feminina foi superada pelo fenômeno da minissaia. "Tenho lutado contra essas saias curtas. Me parecem indecentes", proclamava a mítica estilista.

"Ela deve se revirar no túmulo!", comenta o historiador de moda Laurent Cotta, entrevistado pela AFP.

Karl Lagerfeld, diretor artístico da Chanel desde 1983, é um especialista em minissaias e adotou este modelo para rejuvenescer o famoso tailleur da marca.

"A mini" chegou no início dos anos 60. "Estamos falando de 1962", indica Laurent Cotta. "Foi uma revolução. (...) Mas não foi uma criação saída do nada, a tendência já existia", acrescentou o historiador.

A britânica Mary Quant entrou para a história como a inventora da minissaia, mas há quem mencione também o nome do francês André Courrèges.

"Poderiam ter lançado ao mesmo tempo. Estava no ar", destaca Cotta ao lembrar o clima de emancipação da mulher que imperava no início dos anos 60, com a chegada dos anticoncepcionais, que na França não eram permitidos até 1967.

A minissaia

"A minissaia era uma forma de se rebelar, de reivindicar uma sensualidade, um acesso à sexualidade. Ao vesti-la, estavam seguras de discordar de seus pais", explica Cotta.

Na mesma época, dentro da mesma corrente, aprecia a calça feminina, não só para o campo ou para usar na prática de esportes, mas também na cidade, para uso no dia-a-dia.

O fenômeno da minissaia, que subiu para metade da coxa, começou em Londres e Paris. Depois de Courrèges, foi adotada por Yves Saint-Laurent e Pierre Cardin, que usou até microssaias ainda mais curtas.

A partir de 1965, cada vez mais se via minissaias pelas ruas. Na Holanda, considerada muito provocadora, foi proibida por vários meses. Foi onipresente na revolta de maio de 1968 que se espalhou pelo mundo, junto com o 'look' emblemático.

O fenômeno extrapolou rapidamente as fronteiras europeias. Quando a minissaia de Mary Quant chegou aos Estados Unidos no início dos anos 1960, "existia um mercado disposto a recebê-la", destaca Hazel Clark, professor de moda da universidade Parsons de Nova York.

A "invasão" cultural britânica pop, do período chamado "Swinging London", em pleno auge dos Beatles, fascinou os jovens americanos sedentos de liberdade, em busca de uma elegância menos rígida e de mais ousada. A bainha subia cada vez mais.



A roupa menos igualitária criada

No Japão, a explosão da minissaia começou após a visita da modelo britânica Twiggy, musa de Mary Quant, que atraiu muitos flashes. As revistas se perguntavam sobre a "moralidade" das mulheres que usavam esse tipo de aia. Mas em 1969 tudo mudou, quando a esposa do Primeiro-ministro Eisaku Sato, Hiroko, usou uma minissaia durante uma viagem oficial aos Estados Unidos.

Nos anos 70, o estilo mudou: estourou a moda hippie. A minissaia cedeu lugar às calças boca-de-sino e às maxissaias.

Mas a minissaia já era uma peça-chave do guarda-roupa. "Transformou-se em elemento básico, em uma evidência", destaca o estilista francês Alexis Mabille.

Nos anos 60, era usada com botas de cano alto, mas hoje em dia pode ser combinada com meias opacas ou leggins, em combinações com menor apelo sexy.

O estilista francês Alexis Mabille as usa tanto em desfiles de Alta-Costura como de prêt-à-porter. Ele considera que a minissaia é mais "frívola" do que sexy, mas acredita que pode ser muito elegante. O estilista usa a peça junto com uma jaqueta masculina e gosta da minissaia de cintura alta, que "deixa as pernas com três metros de comprimento".

Apesar disso, destaca Laurent Cotta, "não existe roupa mais difícil de usar".

"Nasceu de uma corrente que queria a igualdade, mas é, sem dúvida, a roupa menos igualitária já criada", considera.