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Vincent Callebaut, arquiteto sonhador da cidade do futuro

31/01/2014 15h10

PARIS, 31 Jan 2014 (AFP) - Sair de casa comendo uma maçã colhida da horta coletiva do 4º andar antes de subir até o escritório na mesma torre. No caminho, cruzar com o encarregado de ordenhar as vacas. Levar as crianças ao arrozal no primeiro andar. Pela janela, contemplar a cidade de Nova York.

A este projeto "Dragonfly" ("Libélula" em inglês), o belga Vincent Callebaut dedicou centenas de horas.

Um prédio de 575 metros de altura com formato de asa de libélula, composto por duas torres unidas por uma estufa bioclimática. Além disso, há hortas suspensas, campos cultivados e um prédio autossuficiente do ponto de vista energético, com um escudo solar e turbinas eólicas. Abaixo, existe um mercado flutuante sobre o East River, para vender a produção local.

Poucos acreditavam nele. "Riam de mim e diziam: 'Você está fazendo ficção científica, deveria se dedicar a fazer revistas em quadrinhos'".

Hoje em dia, do outro lado da porta de vidro, a equipe de dez pessoas trabalha no sofisticado bairro parisiense de Saint Germain des Près, onde Callebaut fundou sua agência em 2008.

E o jovem arquiteto ousa inclusive se afastar de sua modéstia natural. "Quando comecei a minha carreira, me disseram que a expressão 'jovem arquiteto' significava ter 45 ou 50 anos. Eu tenho 36. Tenho tempo pela frente...".

Tudo mudou para ele em 2010. Um ano antes, a cúpula do clima de Copenhague ajudou na tomada de consciência sobre a urgência ambiental.

Callebaut passou a infância lendo histórias futuristas de Luc Schuiten na casa da família em La Louvière, pequena cidade industrial belga. E depois de dez anos "desenhando muito" e devorando revistas sobre novas tecnologias, a consagração chegou com a exposição universal de Xangai.

Sete pavilhões, inclusive o da China e da Alemanha, expuseram Dragonfly e outros projetos seus como Lilypad, uma cidade flutuante para refugiados climáticos em forma de uma ninfeia gigante.

A partir de então, os arquitetos o convidam para todas as partes, inclusive para a ONU e para o Parlamento Europeu, para expor sua visão da cidade do amanhã, "densa, verde e conectada".

Uma cidade "inteligente, que reintegrará a agricultura e transformará cada edifício em minicentral energética autossuficiente", previu.

A fórmula, segundo ele, está destinada a reduzir o carbono na atmosfera, a promover um estilo de vivda melhor e a alimentar "80% da população que viverá nas cidades em 2050, quando formos 9 bilhões".

A lua e as estrelas Clientes para concretizar as ideias do Dragonfly não faltam. E seus projetos "idealistas" estão destinados, sobretudo, a chamar a atenção e inspirar novos comportamentos.

"Nosso objetivo é apontar para a lua para chegar às estrelas. Queremos impulsionar nossos clientes para que cheguem o mais distante possível", acrescentou.

Na Ásia, acreditam nele. "Os países emergentes não têm medo de se equivocar e têm os recursos financeiros para assumir riscos".

Um representante do grupo taiwanês BES disse: "Serei o primeiro a construir um destes edifícios". Em construção desde 2012 na capital taiwanesa, Taipei, a torre Agora Garden será entregue em 2016.

"Retoma a essência dos nossos conceitos prospectivos", explica Vincent Callebaut. O prédio residencial de 25 andares terá 10.000 m2 de terraços cheios de plantas "para reduzir o uso do ar condicionado", uma pérgola fotovoltaica de 1.500 m2 e "lagoas de fito-depuração para reciclar as águas residuais".

Mas é na cidade chinesa de Shenzen (vizinha a Hong Kong), onde um dos seus projetos "idealistas" pode chegar a ser verdade, a pedido de um investidor inspirado pelo Dragonfly.

O Asian Cairns é composto por seis torres com elementos integrados em uma única torre.

Uma parte é um centro comercial e cinema; outra, uma creche; outra, um bloco com apartamentos; outra tem escritórios,... E, é claro, há uma área agrícola.

Callebaut espera poder obter uma permissão para construir pelo menos uma torre "para ver como a obra funciona na vida diária e o desenvolvimento social" que gera.

"Todos repetem que estamos em crises múltiplas e que precisamos ser muito pragmáticos para baratear custos", disse.

Mas nosso objetivo "é permanecer dentro dos limites do possível", prosseguiu.