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Morre maestro italiano Claudio Abbado aos 80 anos

20/01/2014 18h01

ROMA, 20 Jan 2014 (AFP) - Um dos diretores de orquestra mais talentosos da história contemporânea e que esteve à frente das principais filarmônicas do mundo, o maestro italiano Claudio Abbado, faleceu nesta segunda-feira em Bolonha, no norte da Itália, aos 80 anos.

"Soube há meia hora por seu médico pessoal", declarou à AFP Attilia Giuliani, presidente da associação de fãs de Claudio Abbado, os "Abbadiani", confirmando o falecimento do maestro.

"Claudio Abbado morreu serenamente esta manhã às 08h30 (05h30 de Brasília), cercado por seus familiares. As informações sobre seu funeral serão divulgadas mais adiante", disse a família em um breve comunicado.

Abbado, que passou vários anos doente de câncer, era uma pessoa tímida, com uma imagem de humanista e democrata, que lutou contra os cortes na Cultura, muito longe do estereótipo do diretor de orquestra tirânico.

A orquestra Mozart de Bolonha, dirigida por ele nos últimos anos, havia suspendido seus concertos há dez dias. Em dezembro, o maestro já havia sido substituído na batuta dessa orquestra, devido a seu delicado estado de saúde. Desde que foi operado de um câncer de estômago em 2000, seu quadro foi se deteriorando lentamente.

Nascido em uma família de músicos em Milão (norte), em 26 de junho de 1933, Claudio Abbado começou seus estudos em sua cidade natal e completou sua formação com Hans Swarowsky, em Viena, a partir de 1957. Começou dirigindo o Scala de Milão em 1960, onde foi aclamado por sua interpretação da ópera de Giacomo Manzoni "Atomtod", em 1965. Três anos mais tarde, assumiu a direção do famoso teatro lírico, um cargo que ostentou até 1986.

Posteriormente, dirigiu a London Symphonic Orchestra, foi diretor da ópera de Viena e, após a morte de Herbert von Karajan, dirigiu a Filarmônica de Berlim. Também foi diretor convidado da Orquestra Sinfônica de Chicago e, em 1988, fundou o Festival de Música vienense Wien Modern. Além disso, recebeu inúmeros prêmios e condecorações, como o Prêmio Imperial do Japão, a Legião de Honra, a Medalha Malher e títulos de doutor honoris causa.

Sua última apresentação em Viena terminou com 30 minutos de aplausos, e o público lançou mais de 4.000 flores ao palco, em homenagem a uma das carreiras musicais mais brilhantes da atualidade.

De ideologia esquerdista, Abbado ofereceu concertos em fábricas e escolas, tentando ampliar o mundo da música clássica. Também fez centenas de gravações, muitas delas dedicadas à ópera tradicional italiana, assim como ao repertório do século XX, como Alban Berg, Arnold Schoenberg, Luigi Nono, ou Pierre Boulez.

Além da impressionante trajetória musical, Abbado também foi admirado por seu trabalho com os músicos jovens e por sua estreita relação com o Sistema de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela, fundada em 1978 pelo maestro José Antonio Abreu. Essa é uma das experiências musicais mais importantes da América Latina e elogiada em todo o mundo.

O maestro se tornou senador vitalício em agosto passado, por meio de uma nomeação do presidente da República italiana, Giorgio Napolitano. Em dezembro, anunciou que renunciava ao seu salário parlamentar para dedicá-lo ao financiamento de bolsas de estudos para jovens músicos.

Para ele, a música era uma terapia, que ajudava "a compartilhar com os outros", como costumava dizer.

Reações Seu falecimento gerou inúmeras reações na Itália e em todo o mundo, a começar pelo presidente da República italiana e chefe de Governo, Enrico Letta, e passando por colegas de profissão.

"Com profunda tristeza, recebo a notícia da perda de um grande músico que marcou por décadas a história da direção de orquestra", declarou seu colega, o maestro italiano Riccardo Muti.

"Choramos por um músico e por uma pessoa excepcionais. Sua morte representa para nós uma imensa e dura perda. A Filarmônica de Berlim se inclina com gratidão e amor profundo diante de Claudio Abbado", escreveu a prestigiosa orquestra alemã em um comovente comunicado.

"O mundo da música perdeu uma de suas grandes figuras", lamentou o diretor da Ópera de Viena, que lembra de sua personalidade afável, sempre disposto a ajudar os demais.

Um concerto será organizado pelo Scala de Milão para homenagear aquele que marcou toda uma era do teatro milanês.

"Hoje, a Itália está mais pobre", afirmou o diretor de orquestra italiano Riccardo Chailly, que assumirá em 2015 a direção do Scala.

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