França proíbe espetáculo de humorista após piadas com judeus
O Conselho de Estado da França confirmou na quinta-feira (9) a proibição de um espetáculo previsto em Nantes de um comediante acusado de antissemitismo. A decisão de impedir o show do humorista, condenado várias vezes por antissemitismo, acabou dando razão ao governo francês.
A decisão, tomada menos de duas horas antes do início do espetáculo, foi recebida com vaias perto da sala de eventos de Nantes.
O governo francês comemorou a decisão do Conselho de Estado como "uma vitória para a República", ressaltando que "o racismo" e "o antissemitismo" não podem ser tolerados na França.
"Não podemos aceitar que em nossa sociedade haja a mínima tolerância com o antissemitismo, totalmente estranho aos nossos valores e a nossos princípios", declarou o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault.
Essa decisão representa uma mudança de jurisprudência na França, já que os tribunais administrativos tinham invalidado em quinze oportunidades nos últimos anos as proibições impostas aos espetáculos de Dieudonné.
O próprio Conselho de Estado já tinha anulado em 2010 a decisão de um prefeito que desejava impedir a polêmica em sua cidade do oeste da França.
Em sua decisão, da qual a AFP obteve uma cópia, o juiz do Conselho de Estado, Bernard Stirn, considerou que "a realidade e a gravidade dos riscos de perturbação da ordem pública" estavam evidentes.
Embora as declarações antissemitas de Dieudonné tenham sido condenadas amplamente no mundo político e pela imprensa francesa, a ideia de proibir os espetáculos causou polêmica na França, já que a iniciativa é considerada censura por muitos, inclusive entre as associações de combate ao racismo.
A Liga dos Direitos Humanos (LDH) considerou dias atrás que a proibição de "base jurídica precária e resultado político incerto" pode ser "contraprodutiva", correndo o risco de reunir em torno de Dieudonné "aqueles que se consideram oprimidos social ou politicamente".
Vários humoristas consideraram também que a proibição seria "um presente" para Dieudonné. "Quanto mais coisas ilegais ele diz, mais popularidade tem", considerou o cientista político Jean-Yves Camus.
A polêmica relativa a Dieudonné acontece em meio ao avanço da extrema-direita na França e a três meses das eleições municipais.
Dieudonné, de 47 anos, foi condenado várias vezes por declarações antissemitas e injúria racial. Filho de um camaronês e de uma francesa, ele recorre a uma suposta diferença no tratamento de vítimas. Segundo ele, o sofrimento dos descendentes de escravos negros não é reconhecido e o dos judeus é supervalorizado.
Em seu show "Le Mur" (O Muro), Dieudonné multiplica os ataques a "judeus", "à judiaria" ou à "Kippa city",
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