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Venezuela prepara ofensiva contra o crime após assassinato de ex-miss

08/01/2014 17h48

CARACAS, 08 Jan 2014 (AFP) - O assassinato de uma ex-miss e de seu marido comoveu a Venezuela, um dos países com mais alto índice de homicídios no mundo, levando o governo a convocar nesta quarta-feira uma reunião com mais de 100 prefeitos e governadores para estudar um plano de emergência contra o crime.

Finalista do Miss Universo em 2005, a atriz da rede americana Telemundo Mónica Spear, de 29 anos, e seu marido Thomas Henry Berry, de 39, foram mortos a tiros dentro do carro. Depois de bater o veículo em um objeto colocado propositalmente em uma estrada de Puerto Cabello sentido Valencia, terceira maior cidade do país, o casal decidiu parar no acostamento, na noite de segunda-feira.

Os assassinos "chegaram e massacraram os dois", declarou o presidente Nicolás Maduro, na terça-feira, referindo-se ao duplo homicídio.

Maya, filha de cinco anos da ex-miss, ficou ferida. Seu quadro é estável até o momento.

Segundo a reconstituição do crime, o automóvel da atriz caiu em uma emboscada. Quando os criminosos se aproximaram, Mónica e o marido tentaram se trancar no veículo e foram mortos a tiros. Já as pessoas que tentavam consertar o veículo conseguiram fugir a pé para um posto policial a um quilômetro e meio de distância.



Uma população entrincheirada Os números da violência se multiplicaram por quatro nos últimos anos, levando os venezuelanos a se trancar em casa quando anoitece, salvo em meia dúzia de bairros onde bares, cafés e restaurantes permanecem abertos.

Condomínios com segurança particular, carros blindados, armas (com ou seu autorização de porte) e escolas de defesa pessoal são algumas das ferramentas com as quais os venezuelanos tentam se proteger da criminalidade. Hoje, as taxas de homicídios na Venezuela superam as de muitos países em guerra.

De acordo com a imprensa, o governo, ou ONGs locais, os assassinatos na Venezuela oscilam entre 39 a 79 casos por ano para cada 100 mil habitantes. A marca de 79 assassinatos seria a segunda mais alta do mundo.

"Quem quiser vir matar vai receber mão de ferro", advertiu Maduro, ao convocar uma reunião nesta quarta-feira para analisar medidas de segurança com mais de 100 autoridades locais, entre elas governadores e prefeitos dos municípios mais perigosos do país.

Em um país partido pelas divisões políticas entre chavistas e antichavistas e onde surgem polêmicas pelos diferentes números de violência apresentados por organizações não governamentais e pelo governo, o presidente pediu que não haja exploração política deste caso.

Enquanto o governo anunciava a reunião com as autoridades, personalidades do cinema, do teatro e da televisão convocavam para esta quarta uma concentração de repúdio à violência em Caracas.

Um grupo de artistas também preparou um documento que será entregue à Assembleia Nacional. O texto descreve a angústia de um país submetido à violência frente à inação do Estado.

"Nós, os artistas venezuelanos, também somos cidadãos que vivemos dia a dia a angústia de um país que se tornou uma extensa mancha vermelha de violência", afirma o documento, disponibilizado na página do ator Javier Vidal no Facebook.

"Claro que eles, os delinquentes, cresceram, estimulados e confiantes em que o que fizeram, fazem e continuarão fazendo está justificado por um Estado que faz vista grossa", acrescenta o texto.



Homicídio com crueldade O diretor da Polícia Investigativa (CICPC, na sigla em espanhol), José Gregorio Sierralta, disse à imprensa que o automóvel do casal sofreu uma avaria "por causa de um objeto contundente colocado na via".

Um caminhão-guincho que passava pelo local foi parado pela atriz, que pediu ajuda. De acordo com investigações preliminares, quando os operários da grua trabalhavam no veículo, cinco homens armados chegaram ao local. Os mecânicos fugiram a pé para um posto policial a 1,5 km em busca de socorro.

Mónica, sua filha e o marido se trancaram no carro, e "os criminosos deram vários tiros no veículo". Depois, fugiram sem roubar nada, contou Sierralta.

O diretor do CICPC revelou que a polícia prendeu cinco suspeitos, enquanto dois mecânicos do caminhão foram interrogados como testemunhas.

"Ela levou apenas um tiro no braço direito, que atravessou seu corpo, e morreu na hora. Seu marido levou três tiros", disse à CNN em espanhol a agente da atriz, Katy Pulido.

Pulido afirmou que a filha Maya foi atingida na perna e levada para um hospital particular de Caracas. A menina está na companhia dos avós.

Em Miami, os diretores da Telemundo, uma das principais emissoras em espanhol nos Estados Unidos, disseram estar "profundamente chocados com o terrível crime que se abateu sobre a querida atriz Mónica Spear e sua família".

"Estou sem palavras. Vou sentir sua falta, amiga @MonicaSpear. E minha Maya linda formosa te amo. Não está sozinha!!", escreveu no Twitter o ator e cantor americano de origem cubana Jencarlos Canela, com quem Mónica protagonizou a novela "Pasión Prohibida", da Telemundo.

O líder da oposição na Venezuela e governador do estado de Miranda (norte), Henrique Capriles, pediu a Maduro que deixe de lado as "profundas divergências" e que os dois se unam contra a insegurança, em um único bloco".

A jovem atriz, nascida na cidade de Maracaibo (estado de Zulia, oeste), morava em Miami e estava de férias na Venezuela com a filha Maya e seu marido. Venezuelano nascido na Grã-Bretanha, Thomas Berry administrava uma agência de turismo de aventura.