Enigma sobre moedas africanas revela arte rupestre aborígine australiana
SYDNEY, New South Wales, 23 Ago 2013 (AFP) - Solucionar o mistério de como moedas africanas de 900 anos acabaram parando na remota Austrália poderia não só recontar a História do contato de estrangeiros no país, como também lançar luz sobre a arte rupestre aborígine.
O enigma de como as antigas moedas Kilwa, que segundo se acredita remontariam a 1100 anos, foram parar nas Ilhas Wessels, na costa do Território do Norte, onde foram descobertas em 1944, sempre levantou questionamentos sobre as visitas estrangeiras nas longínquas costas australianas.
Ian McIntosh, professor australiano de antropologia na Universidade de Indiana-Purdue, nos Estados Unidos, explicou que o trabalho rupestre encontrado nas ilhas, que inclui uma imagem que parece mostrar um tipo de barco a vela europeu, poderia dar algumas pistas.
"Grande parte da próxima etapa será documentar, datar e interpretar (as obras de arte), juntamente com os povos aborígines", disse à AFP McIntosh, de sua casa, em Indiana.
As moedas Kilwa foram encontradas na areia pelo operador de radar da Força Aérea Real Australiana Maurie Isenberg, durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele estava estacionado na ilha, no momento em que o conflito no Pacífico eclodiu.
No total, ele encontrou nove moedas, cinco peças de cobre africanas e quatro moedas holandesas de origem europeia, não tão antigas quanto as primeiras.
Inicialmente, Isenberg tentou vender as moedas, mas não teve sucesso. Ele, então as guardou durante décadas até que, em 1979, as enviou a um museu para identificação, juntamente com um mapa mostrando onde as encontrou.
Segundo McIntosh, existiam várias teorias sobre as moedas, inclusive a de que elas teriam sido arrastadas para a costa após um naufrágio.
Sabe-se que navegadores europeus passaram pela costa da Austrália nos anos 1600, mas foi só quando o capitão James Cook aportou na Baía Botany, em Sydney, em 1770, que a Grã-Bretanha reivindicou o território.
As moedas - que segundo se acredita teriam se originado no sultanato medieval de Kilwa, uma região onde hoje fica a Tanzânia - levaram à especulação de que áreas do norte da Austrália foram visitadas por outros navegadores vindos de regiões tão distantes quanto o Oriente Médio e a África.
De acordo com um artigo recente de McIntosh, publicado no periódico "Australian Folklore", sobre a cadeia de eventos que levou à descoberta, "o argumento para o envolvimento dos comerciantes Kilwa e também dos portugueses é bastante atraente".
Ele observou que a rota marítima de Kilwa, no leste da África, a Omã e dali para a Índia, a Malásia e vizinha próxima da Austrália, a Indonésia, era bem estabelecida nos anos 1500 e provavelmente durante centenas de anos antes disso.
McIntosh disse que vários membros de sua equipe acreditavam que as moedas tinham, simplesmente, sido arrastadas para a costa, mas admitiam que esta não era a única teoria possível.
Segundo o acadêmico, uma explicação poderia ser que um indonésio conhecido, sobrevivente de um naufrágio que viveu nas Ilhas Wessels, poderia ter trazido as moedas para a região. As moedas, ele especulou, podem ter representado a "riqueza global" deste homem.
McIntosh afirmou ainda que uma expedição conduzida por ele em julho para o local onde as moedas foram descobertas e que envolveu intenso trabalho de buscas no terreno acidentado não resultou na descoberta de novas moedas.
"Durante os últimos anos nós desenvolvemos uma série de hipóteses para explicar como aquelas moedas podem ter saído do leste da África e chegado no norte da Austrália", afirmou.
"A questão central da pesquisa neste ponto inicial foi tentar obter evidências suficientes que levassem a direções específicas", acrescentou.
O que os cientistas de fato encontraram nas escavações foi trabalho rupestre aborígine e alguma evidência potencial de naufrágios - uma ideia nada improvável, em vista dos perigosos arrecifes no entorno da ilha - na forma de um pedaço de 1,80 metro de madeira de uma embarcação.
McIntosh disse que os cientistas trabalharão com povos aborígines para analisar as obras de arte e ver se combinam com quaisquer tipos conhecidos de barcos, acrescentando haver histórias de interação no passado com "povos diferentes, brancos e negros de outros lugares, não aborígines".
Por enquanto o mistério permanece.
"Provavelmente, estas moedas ficaram em circulação por duas centenas de anos, mas apenas na região do leste da África, pois para além deste local não tinham valor", disse McIntosh, acrescentando que outras moedas do tipo só foram encontradas no Zimbábue e em Omã.
"Em nenhum outro lugar do mundo foram encontradas, com exceção do norte da Austrália", disse McIntosh. "É muito incomum. É isto que deixa todo mundo intrigado".
O enigma de como as antigas moedas Kilwa, que segundo se acredita remontariam a 1100 anos, foram parar nas Ilhas Wessels, na costa do Território do Norte, onde foram descobertas em 1944, sempre levantou questionamentos sobre as visitas estrangeiras nas longínquas costas australianas.
Ian McIntosh, professor australiano de antropologia na Universidade de Indiana-Purdue, nos Estados Unidos, explicou que o trabalho rupestre encontrado nas ilhas, que inclui uma imagem que parece mostrar um tipo de barco a vela europeu, poderia dar algumas pistas.
"Grande parte da próxima etapa será documentar, datar e interpretar (as obras de arte), juntamente com os povos aborígines", disse à AFP McIntosh, de sua casa, em Indiana.
As moedas Kilwa foram encontradas na areia pelo operador de radar da Força Aérea Real Australiana Maurie Isenberg, durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele estava estacionado na ilha, no momento em que o conflito no Pacífico eclodiu.
No total, ele encontrou nove moedas, cinco peças de cobre africanas e quatro moedas holandesas de origem europeia, não tão antigas quanto as primeiras.
Inicialmente, Isenberg tentou vender as moedas, mas não teve sucesso. Ele, então as guardou durante décadas até que, em 1979, as enviou a um museu para identificação, juntamente com um mapa mostrando onde as encontrou.
Segundo McIntosh, existiam várias teorias sobre as moedas, inclusive a de que elas teriam sido arrastadas para a costa após um naufrágio.
Sabe-se que navegadores europeus passaram pela costa da Austrália nos anos 1600, mas foi só quando o capitão James Cook aportou na Baía Botany, em Sydney, em 1770, que a Grã-Bretanha reivindicou o território.
As moedas - que segundo se acredita teriam se originado no sultanato medieval de Kilwa, uma região onde hoje fica a Tanzânia - levaram à especulação de que áreas do norte da Austrália foram visitadas por outros navegadores vindos de regiões tão distantes quanto o Oriente Médio e a África.
De acordo com um artigo recente de McIntosh, publicado no periódico "Australian Folklore", sobre a cadeia de eventos que levou à descoberta, "o argumento para o envolvimento dos comerciantes Kilwa e também dos portugueses é bastante atraente".
Ele observou que a rota marítima de Kilwa, no leste da África, a Omã e dali para a Índia, a Malásia e vizinha próxima da Austrália, a Indonésia, era bem estabelecida nos anos 1500 e provavelmente durante centenas de anos antes disso.
McIntosh disse que vários membros de sua equipe acreditavam que as moedas tinham, simplesmente, sido arrastadas para a costa, mas admitiam que esta não era a única teoria possível.
Segundo o acadêmico, uma explicação poderia ser que um indonésio conhecido, sobrevivente de um naufrágio que viveu nas Ilhas Wessels, poderia ter trazido as moedas para a região. As moedas, ele especulou, podem ter representado a "riqueza global" deste homem.
McIntosh afirmou ainda que uma expedição conduzida por ele em julho para o local onde as moedas foram descobertas e que envolveu intenso trabalho de buscas no terreno acidentado não resultou na descoberta de novas moedas.
"Durante os últimos anos nós desenvolvemos uma série de hipóteses para explicar como aquelas moedas podem ter saído do leste da África e chegado no norte da Austrália", afirmou.
"A questão central da pesquisa neste ponto inicial foi tentar obter evidências suficientes que levassem a direções específicas", acrescentou.
O que os cientistas de fato encontraram nas escavações foi trabalho rupestre aborígine e alguma evidência potencial de naufrágios - uma ideia nada improvável, em vista dos perigosos arrecifes no entorno da ilha - na forma de um pedaço de 1,80 metro de madeira de uma embarcação.
McIntosh disse que os cientistas trabalharão com povos aborígines para analisar as obras de arte e ver se combinam com quaisquer tipos conhecidos de barcos, acrescentando haver histórias de interação no passado com "povos diferentes, brancos e negros de outros lugares, não aborígines".
Por enquanto o mistério permanece.
"Provavelmente, estas moedas ficaram em circulação por duas centenas de anos, mas apenas na região do leste da África, pois para além deste local não tinham valor", disse McIntosh, acrescentando que outras moedas do tipo só foram encontradas no Zimbábue e em Omã.
"Em nenhum outro lugar do mundo foram encontradas, com exceção do norte da Austrália", disse McIntosh. "É muito incomum. É isto que deixa todo mundo intrigado".
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