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Bienal de Veneza começa sábado com obras de todos os continentes

Instalação do artista chinês Ai Weiwei, que representa sua prisão pelo governo do país em 2011 - Gabriel Bouys/AFP
Instalação do artista chinês Ai Weiwei, que representa sua prisão pelo governo do país em 2011 Imagem: Gabriel Bouys/AFP

29/05/2013 19h15

A 55ª edição da Bienal de Arte de Veneza abre as portas ao público no próximo sábado (1º) com a exibição de mais de 4.500 obras de arte de 158 artistas convidados, além das propostas artísticas de outros 88 países sobre a memória e o saber.

Sob a direção do crítico italiano Massimiliano Gioni, codiretor do New Museum de Nova York, artistas de todo o mundo, famosos e nem tão conhecidos, incluindo alguns já falecidos, terão trabalhos que questionam o conhecimento, a ciência, o oculto e misterioso, o passado e o futuro apresentados.

Este ano, a Bienal é inspirada na ideia do artista autodidata americano Marino Auriti. Em 1955, ele planejou, em vão, construir um museu imaginário que alojaria todo o saber da humanidade, no qual seriam conservadas as ideias fantásticas: obsessões e delírios, pesadelos e sonhos dos loucos, dos talentosos e até dos que já foram esquecidos.

Sob o tema "o Palácio Enciclopédico", o público verá obras angustiantes, como a do polonês Pavel Althamer, cujos corpos desfigurados, comprimidos e mutilados mostram que a arte também é uma forma de exorcizar os medos.

Mais do que uma exposição de arte contemporânea, esta Bienal é uma viagem antropológica ao profundo e labiríntico inconsciente de artistas de todos os calibres e de todos os continentes.

"Esta é uma edição interdisciplinar, multimídia e transnacional", resumiu o conhecido crítico italiano Achille Bonito Oliva, ao elogiar a opção dos organizadores de tentar fazer um catálogo universal de todas as linguagens, sem divisões de caráter estético.

Respeitando esse princípio, são apresentadas obras de artistas desconhecidos, como o japonês Shinichi Sawada, portador de autismo, que construiu demônios e dragões de calcário, ou do falecido brasileiro Arthur Bispo do Rosário, que passou 50 anos em um manicômio fabricando capas religiosas, na esperança de se redimir.

Nos 88 pavilhões nacionais, rompe-se com o conceito de uma arte nacional, e um país como a Alemanha, por exemplo, apresenta em sua maioria obras de artistas estrangeiros.

O Chile se faz presente com Alfredo Jaar, cuja obra gerou polêmica e arrancou elogios: o artista afunda, literalmente, as instalações da Bienal de Veneza, em uma mensagem crítica à ideia de uma mostra mundial dividida por países.

Jaar explicou aos jornalistas seu manifesto contra uma arte hierárquica, afirmando que a Bienal deve levar em conta o estado transnacional da cultura contemporânea e valorizar a diversidade.

A Espanha também surpreenderá com uma obra imponente: uma gigantesca montanha de mais de 4 metros de altura, formada por 6 toneladas de escombros de concreto e cimento de Lara Almarcegui (Zaragoza, 1972).

Ao todo, 47 eventos e exposições foram organizados paralelamente, entre eles a instalação do arquiteto chinês Mi Qiu, que suspenderá um barco formado por milhões de luzes sobre os canais de Veneza.

Pela primeira vez, países como Paraguai, Angola e Kosovo estarão representados na Bienal.

A presença do Vaticano com obras tão modernas tem como objetivo romper com o preconceito de que a arte contemporânea é válida apenas se for "blasfêmia, ou provocadora", explicou o cardeal Gianfranco Ravasi.

A previsão é que o evento, que vai até 24 de novembro, tenha um público de mais de meio milhão de pessoas.