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Líder do partido no poder na Tunísia descarta risco de divisão

10/02/2013 12h02

ARGEL, 10 Fev 2013 (AFP) - O líder do partido islamita Ennahda, Rached Ghannuchi, descartou neste domingo qualquer risco de divisão no movimento, apesar da crise com o primeiro-ministro tunisiano, Hamadi Jebali, que defende a criação de um governo apolítico.

"Não haverá divisão no Ennahda, que mantém seu compromisso com suas instituições", declarou Ghannuchi ao jornal argelino em árabe El Jabar.

"O partido é muito rigoroso quando se trata de sua unidade. As divergências de opinião internas existem, e são expressas com total liberdade. E é por isso que acredito que a unidade do Ennahda não está ameaçada", afirmou o dirigente.

Jebali, considerado o segundo homem mais importante do partido, explicou "sua decisão e apresentou seus argumentos, mas o movimento acredita que existem argumentos que não conduzem necessariamente ao mesmo caminho", afirmou Ghannuchi, que se opõe a renúncia do primeiro-ministro.

O assassinato do opositor Chokri Belaid agravou a crise política na Tunísia ao ponto do primeiro-ministro Jebali desafiar seu próprio partido, ao anunciar que defendia a formação de um governo de tecnocratas antes da próxima semana, e ameaçar renunciar caso fracasse.

Na véspera, o Ennahda realizou uma manifestação para defender a legitimidade do poder, em resposta à mobilização desatada pelo assassinato de Belaid.

Mais de 3.000 manifestantes gritaram slogans pró-islamitas e antifranceses.

Na multidão havia militantes salafistas, com suas bandeiras negras e slogans em favor de várias correntes islamitas.

A manifestação também tinha por objetivo atacar a "ingerência francesa" depois que o ministro francês do Interior, Manuel Valls, denunciou o "fascismo islamita" depois do assassinato do político opositor Chokri Belaid.

A referência dos manifestantes à Assembleia Nacional Constituinte visava ao primeiro-ministro Hamadi Jebali, número dois de Ennahda, que na sexta pediu para formar um governo de tecnocratas para sair da crise política, se necessário sem o aval da Constituinte.

Jebali se disse, inclusive disposto a renunciar se não conseguir seu objetivo.

"Apresentarei minha equipe no mais tardar em meados da próxima semana. Se for aceito, continuarei assumindo minhas funções de chefe do governo, caso contrário, pedirei ao presidente da república que busque outro candidato para compor um novo governo", afirmou à emissora Shems-FM.

É a primeira vez que Jebali faz referência a uma demissão. O premiê entrou em conflito aberto com a direção de seu movimento ao anunciar que queria formar um governo apolítico.

Prova de como as autoridades estão alertas em relação à tensa situação no país, o exército continua posicionado na capital, num contexto de estado de emergência vigente desde a revolução de janeiro de 2011, que derrubou o regime de Zine El Abidine Ben Ali.

Na sexta, milhares de pessoas participaram no funeral de Belaid, que se transformou em uma manifestação contra o poder islamita na Tunísia.

O Ennahda foi acusado de estar por trás deste assassinato sem precedentes na história contemporânea da Tunísia.

A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo contra vândalos que incendiaram carros diante do cemitério, no sul de Túnis, onde o opositor foi enterrado. O incidente provocou um breve movimento de pânico.

Assassinado com três tiros na frente de sua casa, na quarta-feira em Túnis, Belaid, de 48 anos, era um firme opositor aos islamitas e liderava o Partido dos Patriotas Democratas.

Os militares também foram mobilizados nas cidades de Zarzis (sul), Gafsa (centro) e Sidi Bouzid, berço da revolução de 2011, diante dos principais prédios do governo.

Esta mobilização, a primeira desta magnitude desde 2011, ocorre em um contexto econômico e social muito tenso, em meio a manifestações e conflitos, geralmente violentos, que se multiplicam em razão do desemprego e da miséria, dois fatores que desencadearam a revolução.