Topo

Israel considera lamentável poema de Günter Grass que defende o Irã

O escritor alemão e prêmio Nobel, Günter Grass, lê trechos de seu romance "O Tambor", durante a 61º Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha - AFP  - 16.out.2009
O escritor alemão e prêmio Nobel, Günter Grass, lê trechos de seu romance "O Tambor", durante a 61º Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha Imagem: AFP - 16.out.2009

05/04/2012 08h32

JERUSALÉM, 5 Abr 2012 (AFP) -O ministério israelense das Relações Exteriores qualificou nesta quinta-feira de "lamentável" o poema do Prêmio Nobel alemão de Literatura Günter Grass no qual ele defende o Irã, por considerar que a "potência atômica de Israel ameaça a paz mundial".

"Esta passagem de Günter Grass da ficção à ficção científica é de muito mau gosto. Seu poema é lamentável e carece totalmente de graça", afirmou à AFP o porta-voz do ministério, Yigal Palmor.

O historiador Tom Segev escreveu no jornal Haaretz que o escritor alemão "é mais patético que antissemita".

"A comparação entre Israel e Irã é injusta, pois ao contrário do Irã, Israel jamais ameaçou outro país de apagá-lo do mapa", destacou Segev.

No jornal Maariv, o analista Shai Golden afirma que as declarações de Günter Grass "não provam necessariamente um antissemitismo, e sim a recusa a assumir sua responsabilidade por seus crimes históricos".

"Estou de acordo com quase tudo o que diz. Mas, simplesmente não tem o direito moral nem histórico de afirmá-lo", escreveu o analista, que também cita "a traição do princípio da expiação com a qual cada alemão deve estar comprometido para sempre quando fala de Israel e dos judeus".

O poema "O que tem que ser dito", escrito em prosa e publicado no jornal Süddeutsche Zeitung, denuncia eventuais ataques israelenses contra instalações nucleares iranianas como um projeto que poderia levar à "erradicação do povo iraniano porque se suspeita que seus dirigentes constroem uma bomba atômica".

Ao mesmo tempo está "este outro país, que há anos dispõe de um arsenal nuclear crescente - apesar de mantido em sigilo - e sem controle, porque não se permite nenhuma verificação", prossegue o Nobel de Literatura de 1999, em uma referência a Israel sem uma citação direta.

Grass denuncia "o silêncio generalizado deste fato estabelecido" - que chama de "pesada mentira" - porque "o veredicto de antissemitismo será pronunciado imediatamente" contra quem o quebrar.

Em 2006, Günter Grass, conhecido por suas posições de esquerda, admitiu ter integrado as Waffen SS na juventude.