O "César de Arles": a imagem que não deixa ninguém indiferente
O ar grave, o olhar penetrante, a cabeça inclinada: no museu do Louvre, em Paris, um busto em mármore encontrado nas águas do rio Ródano, em Arles (sul), em 2007, e identificado como o de Júlio César, vem sendo motivo de muitas especulações sobre o verdadeiro rosto do vencedor da guerra da Gália.
Apresentado como parte da exposição "Arles, les fouilles du Rhône", Arles, as escavações do Ródano, inaugurada nesta sexta-feira, a imagem transmite poder e severidade, o que convém à representação que se faz de César, nascido em Roma no ano 100 a.C. e assassinado no ano 44 a.C. por conspiradores que se opunham à sua ditadura.
O arqueólogo Luc Long, diretor do sítio de escavações subaquáticas de Arles, sentiu que era ele assim que a cabeça foi retirada das águas do rio. "Depois, a intuição foi confirmada", disse.
"O estudo, que repousa sobre um conjunto de argumentos de ordem estilística, anatômica, geológica e histórica tende a confirmar que o retrato descoberto no Ródano combina com a fisionomia muito individualizada do ditador, no momento da fundação da colônia romana de Arles", escreveu Luc Long, curador geral do patrimônio.
O Louvre entra neste dossiê confrontando, de forma inédita, até o dia 25 de junho, o "César de Arles" com um busto em mármore branco de César encontrado no sítio arqueológico de Tusculum na Itália, no início do século XIX e conservado no museu antigo de Turim.
"É o mesmo homem? Há semelhanças e diferenças, o que se parece um pouco com o jogo dos sete erros", revela Jean-Luc Martinez, diretor do departamento des Antiguidades gregas, etruscas e romanas do museu do Louvre.
César, que era considerado um homem galante, tinha uma calvície precoce, o que encontramos nas duas imagens, assim como as faces fundas.
Mas o César de Arles tinha o nariz arqueado e a cabeça mais redonda. O César de Tusculum apresenta, por sua vez, uma curiosa deformação na cabeça do lado esquerdo. "Nenhum escrito sobre ele mencionou uma tal particularidade", revela Martinez, curador da exposição.
"Convicção íntima" O retrato de Arles é o de César? "Eu me interrogo sobre isto", comentou Martinez. "Mas minha convicção íntima é de que se trata muito provavelmente de César", acrescentou ele.
"Por que uma outra pessoa teria tido o luxo de importar um mármore grego da Frígia" (Turquia atual)?, pergunta-se Martinez.
Do ponto de vista técnico, a escultura parece datar dos anos 50 e 30 a.C. Ora, César refundou a cidade de Arles em 46 a. C. no final de suas conquistas militares na Gália. Ele criou, aí, uma colônia romana.
A imagem, de grande qualidade, pode ter sido realizada por um artista grego de talento, considera Martinez, representando um homem de cerca de 50 anos. As rugas bem marcadas falam de sua experiência, o que era uma garantia de autoridade para os romanos. O olhar de lado e a leve torção de pescoço do homem impulsionam uma dinâmica, uma convicção, revela Martinez.
"Queremos que o público compreenda como se pode identificar um retrato antigo", destacou ele.
A descoberta divide os especialistas. "A metade pensa que se trata de César e a outra, não acha isto", resume Martinez. "Vamos esclarecer tudo durante uma mesa-redonda que vai reunir, no dia 20 de junho, no Louvre, pesquisadores franceses e estrangeiros", acrescentou ele.
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