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Peça de teatro faz uma sátira inédita de Putin, em Moscou

29/02/2012 14h38

MOSCOU, Rússia, 29 Fev 2012 (AFP) -Torso nu, Vladimir Putin ganha vida no corpo da ginasta Alina Kaba¯eva e abusa do Botox, ao mesmo tempo em que sua mulher Liudmila se refugia num mosteiro: os boatos mais loucos ouvidos em Moscou renascem numa peça satírica e irreverente que vem sendo apresentada, com muito sucesso, num pequeno teatro de Moscou (o Teatr.doc).

O espetáculo recolhe informações mais ou menos fantasistas e não confirmadas que circulam na internet e nos tabloides, a alguns dias das eleições presidenciais de 4 de março, nas quais o homem forte do país é o grande favorito.

A peça intitulada 'BerlusPutin' é uma adaptação do livro 'L'Anomalo Bicefalo', do italiano Dario Fo, prêmio Nobel de literatura. Fala sobre o que aconteceria se a metade do cérebro de Silvio Berlusconi fosse transplantado em Vladimir Putin, após um acidente.

Respeitando o conceito do teatro de rua de Dario Fo, cada representação repercute os últimos acontecimentos políticos.

Na semana passada, os atores ironizavam uma grande manifestação dos partidários de Putin no estádio Lujniki e a atitude de seus assessores.

Varvara Fa¯er, a diretora, disse à AFP que se inspirou, principalmente, numa declaração de Stanislav Govoroukhine, que comanda a campanha eleitoral de Putin, ao repetir uma célebre frase de Lênin - qualificando a 'intelligentsia' russa de "merda da nação".

Apesar da neve, uma grande fila se forma, religiosamente, na entrada do estabelecimento, com o público querendo assistir, pelo menos, a uma das duas apresentações consecutivas no subsolo do Teatr.doc, um teatro moscovita especializado em peças baseadas no cenário político da atualidade.

"Ladrões e escroques" Na adaptação moscovita, o ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, grande amigo de Putin, é morto num atentado e a metade de seu cérebro é transplantada em Putin.

Logo de cara, Vladimir Putin demonstra um liberalismo inédito, diz que detesta o "partido de ladrões e escroques", adjetivos dados pela oposição a seu próprio partido, o Rússia Unida, e chega até a se arrepender dos erros, diante do Parlamento.

Mas, aí, uma overdose de Botox deixa-o em má situação.

Putin se apresenta sempre com músculos falsos no peito, e com o Botox, seu rosto se parece, agora, ao de Dobby, um elfo tirado do mundo de Harry Potter, uma caricatura do homem forte do país.

Ora, um programa de televisão Koukly (os Guignols russos), que fez uma paródia de Putin, representando-o como um anão, foi retirado do ar pouco após sua chegada ao Kremlin, em 2000.

Já a peça quebra um outro tabu, arriscando-se sobre o terreno delicado da vida privada do primeiro-ministro e candidato a um terceiro mandato no Kremlin.

Em sua cela de convento, Liudmila lembra a seu marido lobotomizado as violências provocadas por ele.

"Você me deixou de lado durante 20 anos, sempre me atormentou", queixou-se o personagem de Liudmila que, na vida real, quase não aparece em público.

Os espectadores morrem de rir.

Em 2008, um jornal moscovita foi fechado após ter falado de um possível divórcio de Putin e seu casamento com a campeã olímpica Kaba¯eva que é hoje deputada de seu partido, no Parlamento.

Putin havia, na época, desmentido os rumores, advertindo os que "se intrometiam na vida dos outros com seus narizes ranhosos e seus fantasmas eróticos".

Fascinados pela audácia da peça, os críticas, assim como o público, questionam o futuro do espetáculo, mas Varvara Fa¯er mostra-se otimista: "Vamos representá-la enquanto Putin estiver no poder", afirmou.