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Berlim coroa os irmãos Taviani e seu Shakespeare entre os presos

18/02/2012 19h27

BERLIM, 18 Fev 2012 (AFP) -Os inseparáveis irmãos Taviani receberam neste sábado à noite o Urso de Ouro do 62º Festival de Berlim por "César deve morrer", uma adaptação livre de "Julio César" de Shakespeare, interpretada por detentos de um pavilhão de uma penitenciária de segurança máxima de Roma.

Paolo e Vittorio Taviani, que somam 162 anos de idade, sempre trabalharam juntos e se recusaram a se separar. Seu filme superou em Berlim outros 17 que estavam em competição desde 9 de fevereiro.

O júri, presidido pelo cineasta britânico Mike Leigh, era composto sobretudo por atores --Jake Gyllenhaal, Charlotte Gainsbourg e Barbara Sukowa-- e por diretores --o iraniano Asghar Farhadi, Urso de Ouro em 2011, o francês François Ozon e o holandês Anton Corbijn.

A ideia de "César deve morrer", em parte filmado em preto e branco, veio quando os irmãos assistiam a uma representação de "Inferno" de Dante, na penitenciária de Rebbibia, em Roma.

"Neste juri, conhecemos muitos rostos de pessoas que fizeram cinema, cinema que nós apreciamos", declarou Paolo, ao receber o prêmio.

"Espero que quando esse filme for apresentado ao público, alguns voltem para casa e se digam (...) que mesmo os criminosos duros, condenados à prisão perpétua, são e permanecem homens", disse ainda.

"Isso permitiu (aos prisioneiros) durante alguns dias voltar à vida. Isso durou apenas alguns dias, mas eles fizeram isso com uma grande convicção e é para eles que vai a nossa saudação."

A escolha do elenco, parte integrante do filme com os testes diante da câmera, apresentou uma Humanidade sem mulheres, condenada a pesadas penas por assassinatos, tráfico de drogas, contravenções múltiplas das leis anti-máfia.

Quanto à escolha de "Julio César", ela está ligada a uma frase da peça, quando é dito a respeito do assassino de César, "Brutus é um homem de honra".

"É uma linguagem à siciliana, que fala a esses homens saídos da máfia, da N'dranghetta, da Camorra: as conspirações, os segredos, as traições, eles também a conhecem", disse Vittorio após a exibição.

Filhos de um advogado toscano anti-fascista, os irmãos Taviani são conhecidos por seu cinema comprometido com a realidade social de seu país.

Foi essa, como na tradição, a tonalidade geral da seleção, baseada nas viradas abruptas da história.

Entre os outros premiados da noite está "Barbara", elogiado pela imprensa e pelo público alemães, que conta a história de uma médica (Nina Hoss) vigiada durante nove anos antes da queda do Muro de Berlim pela Stasi, a polícia secreta da antiga-RDA. O filme recebeu o Urso de Prata de melhor diretor para Christian Petzold.

E o Grande Prêmio do Júri ficou com um drama húngaro sobre o destino dos ciganos, "Apenas o vento", de Bence Fliegauf, no momento em que um governo nacionalista autoritário está no comando em Budapeste.

Entre os atores, o Urso de Prata de melhor atuação feminina ficou com uma ex-menina de rua de Kinshasa, a congolesa Rachel Mwanza por seu papel de uma criança-soldado em "Rebelde", do canadense Kim Nguyen.

O de Melhor Ator recompensou a atuação do dinamarquês Mikkel Boe Folsgaard, em "A Royal affair", de seu compatriota Nikolaj Arcel. O filme recebeu também o prêmio de melhor roteiro.

Merece destaque também uma "menção especial do júri", prêmio criado por Mike Leigh para saudar o filme da diretora franco-suíça Ursula Meier, "L'Enfant d'en haut", fábula social entre a região industrial e as ricas áreas mais altas suíças, entre um menino angustiado e sua irmã mais velha imatura.

A Berlinale será fechada oficialmente no domingo à noite com a exibição para o público do filme Urso de Ouro.