Berlim coroa os irmãos Taviani e seu Shakespeare entre os presos
Paolo e Vittorio Taviani, que somam 162 anos de idade, sempre trabalharam juntos e se recusaram a se separar. Seu filme superou em Berlim outros 17 que estavam em competição desde 9 de fevereiro.
O júri, presidido pelo cineasta britânico Mike Leigh, era composto sobretudo por atores --Jake Gyllenhaal, Charlotte Gainsbourg e Barbara Sukowa-- e por diretores --o iraniano Asghar Farhadi, Urso de Ouro em 2011, o francês François Ozon e o holandês Anton Corbijn.
A ideia de "César deve morrer", em parte filmado em preto e branco, veio quando os irmãos assistiam a uma representação de "Inferno" de Dante, na penitenciária de Rebbibia, em Roma.
"Neste juri, conhecemos muitos rostos de pessoas que fizeram cinema, cinema que nós apreciamos", declarou Paolo, ao receber o prêmio.
"Espero que quando esse filme for apresentado ao público, alguns voltem para casa e se digam (...) que mesmo os criminosos duros, condenados à prisão perpétua, são e permanecem homens", disse ainda.
"Isso permitiu (aos prisioneiros) durante alguns dias voltar à vida. Isso durou apenas alguns dias, mas eles fizeram isso com uma grande convicção e é para eles que vai a nossa saudação."
A escolha do elenco, parte integrante do filme com os testes diante da câmera, apresentou uma Humanidade sem mulheres, condenada a pesadas penas por assassinatos, tráfico de drogas, contravenções múltiplas das leis anti-máfia.
Quanto à escolha de "Julio César", ela está ligada a uma frase da peça, quando é dito a respeito do assassino de César, "Brutus é um homem de honra".
"É uma linguagem à siciliana, que fala a esses homens saídos da máfia, da N'dranghetta, da Camorra: as conspirações, os segredos, as traições, eles também a conhecem", disse Vittorio após a exibição.
Filhos de um advogado toscano anti-fascista, os irmãos Taviani são conhecidos por seu cinema comprometido com a realidade social de seu país.
Foi essa, como na tradição, a tonalidade geral da seleção, baseada nas viradas abruptas da história.
Entre os outros premiados da noite está "Barbara", elogiado pela imprensa e pelo público alemães, que conta a história de uma médica (Nina Hoss) vigiada durante nove anos antes da queda do Muro de Berlim pela Stasi, a polícia secreta da antiga-RDA. O filme recebeu o Urso de Prata de melhor diretor para Christian Petzold.
E o Grande Prêmio do Júri ficou com um drama húngaro sobre o destino dos ciganos, "Apenas o vento", de Bence Fliegauf, no momento em que um governo nacionalista autoritário está no comando em Budapeste.
Entre os atores, o Urso de Prata de melhor atuação feminina ficou com uma ex-menina de rua de Kinshasa, a congolesa Rachel Mwanza por seu papel de uma criança-soldado em "Rebelde", do canadense Kim Nguyen.
O de Melhor Ator recompensou a atuação do dinamarquês Mikkel Boe Folsgaard, em "A Royal affair", de seu compatriota Nikolaj Arcel. O filme recebeu também o prêmio de melhor roteiro.
Merece destaque também uma "menção especial do júri", prêmio criado por Mike Leigh para saudar o filme da diretora franco-suíça Ursula Meier, "L'Enfant d'en haut", fábula social entre a região industrial e as ricas áreas mais altas suíças, entre um menino angustiado e sua irmã mais velha imatura.
A Berlinale será fechada oficialmente no domingo à noite com a exibição para o público do filme Urso de Ouro.
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