América Latina avança com força no mercado de arte e Brasil ganha visibilidade
Em um mercado que luta para esquecer a crise, a América Latina oferece à arte compradores dispostos a investir e uma indústria criativa cada vez mais conhecida na Europa, como mostra a presença de artistas hispano-americanos na Feira de Arte Contemporânea de Madri.
Com o programa "Solo Projects: Focus Latinoamérica", a ARCOmadrid 2012 volta suas atenções para a cena artística latino-americana. A feira começou na terça-feira e, até o domingo, apresenta obras de mais de três mil artistas vindos de 29 países.
Em termos de arte, o Brasil é um aluno excepcional, constata Rochelle Costi, artista de São Paulo. "As coisas mudaram muito nos últimos dez anos, é um momento muito melhor. O Brasil tem muita visibilidade agora".
"O interesse pela arte latino-americana está crescendo" na Espanha, explica Eloisa Góngora, que vende obras de artistas espanhóis na Colômbia na galeria El Museo e de artistas da América Latina na Espanha, pela galeria Fernando Pradilla.
Esse maior interesse, segundo Góngora, pode ser justificado por se tratar de "uma proposta diferente". "Muitas vezes, a arte latino-americana tem menos filtros", tem "uma marca que representa o que eles realmente querem expressar", enquanto a "Europa é mais fria", diferencia.
Para a argentina Sonia Becce, uma das desenvolvedoras do "Solo Projects: Focus Latinoamérica", o objetivo da ARCO foi dar "ênfase à quantidade e representatividade do que ocorre hoje na América Latina".
O que une a obra desses artistas "não tem a ver com o mundo da arte, que segue sendo muito eurocentrista, tem a ver com as sociedades de onde viemos" e as transformações que estão vivendo, considera o hondurenho Adán Valdecillo.
Valdecillo, que em seus cinco anos vivendo de arte sempre expôs em ambos os lados do Atlântico, apresenta na ARCO uma enorme pintura feita de pneus velhos que viajaram centenas de quilômetros pelas ruas de Tegucigalpa.
No entanto, a América Latina não é reconhecida apenas porque sua arte está aparecendo na Europa, mas também porque a riqueza de suas economias faz dos seus mercados um destino atraente para as vendas de obras de arte.
O desenvolvimento da economia deve acarretar um aumento do número de feiras e exposições, cada vez mais frequentes na América Latina.
Eduardo Brandão, co-proprietário da galeria Vermelho, com sede em São Paulo, que representa principalmente jovens artistas brasileiros de vanguarda, conhece essa realidade de perto.
"O sistema brasileiro de museus e galerias é mais forte e, para os colecionadores, isso é muito importante, ajuda a vender no exterior", explica.
Isso é algo que Mirta Demare observa na galeria Bergsingel, em Roterdã, na Holanda, onde percebe uma "diferença sideral" entre colecionadores latino-americanos e holandeses, que compram menos pelo medo que a crise econômica e financeira provoca na região.
O mercado de arte está crescendo na América Latina porque é "o único lugar em que há dinheiro nesse momento", disse a galerista, que apresenta na ARCO uma instalação da artista argentina Alicia Herrero, que analisa o mercado de arte.
Por meio de diagramas que misturam as linguagens financeira e artística, Herrero questiona para o espectador a "dicotomia entre o valor real como obra e o preço das obras".
Valdecillo convida a aproveitar a boa fase do mercado de arte na América Latina: "é importante que nós, artistas latino-americanos, tenhamos mais consciência de fortalecer os vínculos regionais, porque é um mercado em desenvolvimento".
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