Da Palestina ao Sundance, através do olhar particular de um cinegrafista amador
PARK CITY, EUA, 21 Jan 2012 (AFP) -Durante mais de cinco anos, o palestino Emad Burnat filmou a resistência pacífica de seu povo à instalação de uma colônia israelense. Imagens poderosas e íntimas, reunidas em um documentário exibido nesta sexta-feira no festival de cinema independente Sundance.
Codirigido pelo israelense Guy Davidi, "5 Broken Cameras" está em competição no festival, que acontece em Park City, Utah, até o próximo dia 29.
O povoado de Bil'in, na Cisjordânia, chamou a atenção da comunidade internacional quando seus habitantes começaram a se manifestar, em 2005, contra a instalação em suas terras de uma colônia israelense.
No mesmo ano, Emad Burnat, que trabalhava na colheita de azeitonas, ganhou de presente uma pequena câmera, por ocasião do nascimento de seu quarto filho. Não demorou para que seu uso ultrapassasse o âmbito familiar.
Burnat passou a registrar a resistência em Bil'in. "Ele filmava tudo o que acontecia, mas não pensava em fazer um documentário", conta o cineasta e ativista Guy Davidi, que conheceu Burnat em 2005, quando rodava um filme sobre os problemas com o abastecimento de água na Cisjordânia.
Em 2009, Burnat chamou Davidi para mostrar seu interesse em produzir um documentário a partir das imagens do palestino. Mas já havia vários filmes sobre o tema.
"Tinha a sensação de que poderíamos fazer um filme a partir do seu ponto de vista, que usasse imagens mais pessoais", explica Davidi.
Burnat aceitou e "assumiu um grande risco", avalia o diretor israelense. "Para um palestino, produzir um filme íntimo e pessoal, mostrar a mulher ou a si mesmo em situações de fragilidade ou vulnerabilidade, como quando ele é preso, por exemplo, é muito delicado."
O resultado é um grande poder de narrativa e emocional. O cineasta não esconde a relação íntima entre sua vida pessoal e os acontecimentos em Bil'in: a prisão de seus irmãos, a morte de um amigo baleado por israelenses, sua própria prisão, as críticas de sua mulher ou o risco cotidiano que corria ao filmar as manifestações.
Isso fica ilustrado no título do documentário. Cinco câmeras foram danificadas no processo, todas durante as passeatas ou os confrontos com o Exército israelense.
"Para Burnat, filmar era uma forma de sobreviver, e não se render. A partir do momento em que começamos a trabalhar juntos, soube que seria um filme sobre perseverância", diz Davidi.
Apesar de o documentário mostrar a violência do Exército israelense diante das passeatas pacíficas dos camponeses, os cineastas não quiseram "montar uma representação da realidade, manipulada com um objetivo ideológico", assinala o diretor israelense.
Dessa forma, o filme mostra - no momento em que Burnat ficou gravemente ferido durante uma manifestação - como os soldados o enviaram a um hospital israelense. "De certa forma, esses soldados salvaram a sua vida", observa o cineasta. "Se você perguntar a Burnat, ele lhe dirá que não tem nada pessoal contra os soldados."
Sobre o futuro do processo de paz entre israelenses e palestinos, Davidi diz não ter "expectativas utópicas". "Mas acredito que existam correntes na sociedade israelense que surpreenderiam várias pessoas, e que são muito importantes", estima. "Muita gente, emocionalmente, está perto de mudar de opinião."
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