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Com obras de açúcar e em diamante, Vik Muniz propõe uma arte contemporânea popular

30/12/2011 12h32

AVIGNON, 30 dez 2011 (AFP) -De longe, acreditamos ver Picasso, Monet, Cézanne, retratos de Freud ou de Dietrich. De perto, descobrimos confetes, chocolates e diamantes... as obras em forma de quebra-cabeça do brasileiro Vik Muniz são um prazer para os olhos de quem visita a Galeria Lambert, em Avignon (sudeste).

"Ele reinterpreta obras geralmente já conhecidas pelo imaginário popular, criando um mundo ao mesmo tempo familiar e diferente do original", explica o curador de arte contemporânea Yvon Lambert. "Ele quer que as pessoas se interessem pela arte, e nós também".

Missão cumprida para este "museu imaginário" feito "por um diretor que é um guardião", explica o artista, que apresentou seu trabalho na inauguração da primeira grande retrospectiva dedicada a ele na França .

"A primeira vez que meus pais entraram em um museu, foi para ver uma de minhas exposições. Eu mantenho isso em mente e nunca poderia visar a um público especializado", acrescenta, lamentando um certo "elitismo" da arte contemporânea.

Nascido em 1961 em uma família pobre de São Paulo, sob a ditadura militar que forjou seu caráter, Vik Muniz passou sua infância fazendo rabiscos. Seu pai era garçom, sua mãe atendente. Sua avó era, segundo ele, fascinante. "Ela aprendeu a ler sozinha".

"Na idade em que as crianças deixam de ser artistas e desistem do mundo visual por força de serem expostos à linguagem escrita, eu comecei a desenhar. Eu era a criança que fazia as caricaturas dos professores e os cartazes da escola".

Aos 14 anos, uma bolsa de estudos lhe permitiu estudar desenho durante a noite depois da escola. Ele aprendeu a arte longe dos museus, por meio de reproduções em revistas, onde as cores berrantes lhe deram o gosto pelas imagens multifacetadas.

Mau aluno, o brasileiro rapidamente abandonou os estudos pela publicidade. Até o dia em que cruzou o caminho de um "tipo muito rico", que ele salvou a vida em uma briga. "Ele me comprou um bilhete de avião para ir aos Estados Unidos, eu ia ficar seis meses para aprender inglês, mas nunca mais deixei Nova York".

"Eu absorvia a cultura por imersão, conheci artistas, visitando pequenas galerias". "Entre mil pequenos trabalhos", ele tateou gradualmente e desenvolveu o método que fez seu sucesso: projetar uma obra no chão com um projetor, reproduzi-la com materiais sólidos ou líquidos e, por fim, fotografar a instalação.

Entre as 110 obras expostas no Hotel de Caumont, estão retratos de crianças em açúcar, Pollock e Freud em chocolate, prisões imaginárias com pinos e fios, uma Mona Lisa em geléia, as divas de Hollywood em diamante, monstros em caviar...

A aparente simplicidade esconde frequentemente proezas técnicas. Para "A Japonesa", de Claude Monet, Vik Muniz diz ter manipulado o pigmento vermelho, um "verdadeiro veneno", com máscaras e luvas durante seis meses. "Já faz dois anos que eu tento fazer uma imagem com aço líquido. A temperatura é tão alta que precisamos fotografar através de um vidro muito grosso", contou o artista.

Em um cartório, uma sala permite descobrir os retratos de catadores de lixo em um aterro sanitário enorme a céu aberto no Rio, feito pelas próprias pessoas com tampas de garrafas, plásticos velhos e outros resíduos. Uma aventura contada no documentário "Lixo Extraordinário", indicado ao Oscar e exibido em Avignon.

No topo de uma passarela instalada na igreja de Celestine, uma paisagem de ramos, flores secas e ervas, no modelo de uma obra-prima de Van Gogh. Visualizações garantidas.

"O Museu Imaginário", Vik Muniz. Até o dia 13 de maio.

www.collectionlambert.com