Neto de Oscar Wilde pede para que fãs não beijem túmulo do escritor

PARIS, França, 30 Nov 2011 (AFP) -"Flores, não beijos de batom!": Merlin Holland, neto de Oscar Wilde, espera que os admiradores, principalmente as admiradoras, do escritor irlandês que têm a hábito de beijar sua sepultura, no cemitério Père Lachaise, em Paris, vão compreender a mensagem.
Sob um belo sol de outono, Merlin Holland e Dinny McGinley, ministro irlandês das Artes e do Patrimônio, inauguraram na terça-feira o túmulo reformado do autor de "O Retrato de Dorian Gray" onde repousa, também, desde 1950, seu último amante, Robert Ross.
E para assegurar que os fãs serão mais razoáveis que apaixonados, no futuro, o túmulo sobre o qual foi construído um monumento alegórico representando uma esfinge alada, esculpida em 1912 por Jacobs Epstein, está, a partir de agora, protegido por placas de vidro de dois metros de altura.
Frequentado durante anos, o túmulo tombado em 1997 pela França, como monumento histórico, tornou-se um lugar de peregrinação do romantismo, pelo que se apresentava quase que inteiramente coberto de marcas de beijos impregnadas de pigmentos vermelhos.
O surpreendente ritual que começou, misteriosamente, nos anos 90, acabou por enfear a sepultura, uma vez que os conteúdos gordurosos dos batons penetraram profundamente na pedra.
Intérprete célebre das obras de Oscar Wilde, o ator britânico Rupert Everett assistiu à colocação do novo dispositivo de proteção.
"Os beijos, para Oscar Wilde, não eram simplesmente sinais de amor. Ele os associava ao perigo, e até à morte", lembrou ele, destacando que o escritor foi preso e condenado a dois anos de trabalhos forçados por um beijo homossexual. "Um beijo pode arruinar uma vida humana", escreveu um dia Oscar Wilde.
"Eu me pergunto como Oscar Wilde pôde suportar a homenagem de beijos de batom, que tiveram suas marcas deixadas por milhares de admiradoras nos últimos anos... Talvez dissesse: "salvem-me de meus discípulos!", imaginou Rupert Everett.
Protegido de investidas superficiais "Oscar era muito cuidadoso com sua imagem, apresentando-se sempre bem vestido. Não acho que lhe agradaria a ideia de repousar num túmulo degradado, mesmo por beijos de batom", disse o ator à AFP.
Merlin Holland admite que esse ritual dos beijos é "extraordinariamente tocante", mas considera que as destruições do local não podem continuar.
"O túmulo é uma obra de arte e um monumento histórico. É preciso protegê-lo. As homenagens poderão ser feitas de outra forma, com flores, por exemplo", disse.
A reforma e a colocação em prática da proteção de vidro foram financiadas pela família do escritor e pelo governo irlandês, com a participação técnica do departamento de Monumentos Históricos da França. O ministro francês da Cultura, Frédéric Mitterrand, alegrou-se com o fato de "o túmulo de Oscar Wilde, uma das maiores figuras da literatura europeia, reencontrar o esplendor inicial, agora protegido".
"As paredes de vidro não estão lá para afastar os admiradores. Elas dizem simplesmente: 'Por favor, protejam a memória deste homem!", disse o neto do escritor.
No entanto, o túmulo reformado não recuperou a verdadeira aparência: a esfinge, uma alegoria ao gênio de Oscar Wilde, perdeu seu sexo, durante o assalto de um misterioso vândalo nos anos 60. A peça, famosa por seu tamanho imponente, a ponto de fazer escândalo durante a inauguração, em 1912, não foi restabelecida.
Wilde morreu na capital francesa em 1900, aos 46 anos.
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"We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars"
Realmente, aquelas pedras tinham tanta marca de batom vermelho, tanto de mulheres quanto de gays, fora as dedicatórias escritas com canetas daquelas cuja tinta se entranha na pedra. Aquelas marcas que parecem "picotadas" é o que ficou depois da limpesa, "vois lá".