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Excesso de turismo ameaça palmeiral de Marrakesh

France Presse

14/11/2011 15h18

MARRAKESH, Marrocos, 14 Nov 2011 (AFP) -As palmeiras milenárias de Marrakesh, ao sul do Marrocos, estão correndo um sério risco: a falta d'água, a urbanização à toque de caixa, assim como projetos turísticos faraônicos e adaptações de campos de golfe ameaçam a sobrevivência destes oásis, que um programa ambicioso de conservação tenta proteger.

Dez séculos após seu aparecimento, o palmeiral, considerado um dos sítios mais belos do Marrocos, sofre, hoje, destruições combinadas, causadas pelo homem e o clima.

O oásis rico em centenas de milhares dessas plantas, que se estendem por 16.000 hectares, perdeu 30% de sua superfície nos últimos 20 anos, segundo os especialistas.

A implantação em seu centro de grandes projetos turísticos, com desprezo pelo meio ambiente, bombeiam com grande força a água, favorecendo a degradação das plantações, além de deteriorar o equilíbrio ecológico, denunciam.

"Os projetos turísticos, apesar dos lucros que geram, trazem um efeito negativo para o equilíbrio ecológico", explicou à AFP Nour-Eddine Laftouhi, geólogo com especialidade em irrigação, da Faculdade de Ciências de Marrakesh.

"Pessoalmente, considero um crime a multiplicação irracional dos campos de golfe", dois deles dentro do palmeiral, enquanto dezenas de outros aguardam autorização para serem construídos, lamenta ele.

Também chamada de "cidade ocre" pela cor particular de suas casas, Marrakesh é o local mais procurado por turistas e pelos próprios marroquinos, graças, também, às montanhas cobertas de neve em torno que podem ser admiradas, num verdadeiro cartão postal.

O sucesso turístico fez com que o próprio Club Med se apresente com suas três piscinas e um campo de golfe no interior da plantação.

Isto representa um contraste violento para quem sabe o significado do próprio nome da cidade, que data de 1062 e foi construída por Yussef Ibn Tachfin, primeiro soberano da dinastia Almoravide, incitando aos sonhos.

"Marrakesh" provém da palavra berbere "amour" que significa "país" e "Akouch" que quer dizer "Deus", o que dá "terra de Deus" ou "terra santa" ou, segundo uma outra etimologia dialetal, "terra do percurso".

O romantismo do nome parece volatilizado, num momento em que a cidade conta, hoje, cerca de um milhão de habitantes, com um número impressionante de hotéis, inúmeras piscinas e 'riads' (casas tradicionais contruídas em torno de um pátio interno).

Muitos desses 'riads' foram comprados e reformados por marroquinos de posse ou estrangeiros ricos, expulsndo as camadas mais pobres da população ao exterior da cidade.

Esta situação vem despertando sentimentos de amargura e nostalgia entre os antigos moradores, cada vez menos numerosos.

"Uma fonte passava por aqui, onde estou. Antes, havia também um riacho. Uma outra fonte estava lá mais ao longe. Mas, a partir de agora, começaram a construir mansões e hotéis, a água está indo embora. Acabou", indigna-se Boujemâa, que ainda mora perto da plantação.

Para proteger o palmeiral, foi lançado um amplo programa pelas autoridades locais, em 2007, com o objetivo de erguer 430.000 dessas árvores em um ano.

"Graças à central de tratamento das águas usadas, aberta em 2010, e a poços que já começam a operar, ficarão disponíveis quantidades importantes de água", precisa Abdelilah Mdidech, diretor do programa de proteção ambiental, pilotado pela Fundação Mohammed VI para o meio ambiente.

Centenas de homens trabalham diariamente no plantio de novas palmeiras e no cuidado das que envelhecem.

"Já podemos contar 415.292 jovens plantas (...) com suas folhas verdes e uma boa coroa", acrescenta Mdidech.

"Espero que com este projeto, elas sejam salvas. Estou mais otimista, agora".

ob/hm/sd