O vidro soprado, uma arte milenar ameaçada no Líbano
Sarafand, Líbano, 3 Nov 2011 (AFP) -Em Sarafand, a antiga cidade fenícia de Sarepta, a família Khalifé mostra-se orgulhosa de sua arte de sopragem do vidro. Mas são as últimos pessoas a tentar perpetuar esta herança milenar no Líbano.
O rosto bronzeado pelo calor do forno rudimentar em tijolos onde faz fundir o vidro, Mahmud "colhe" com a ajuda de um canudo uma bola de fogo viscosa. Em alguns minutos, com uma pequena tenaz à mão, ele a transforma em um cântaro de formas elegantes.
"Toda minha família aprendeu esta arte desde a idade mais tenra", diz ele soprando delicadamente o canudo de metal inoxidável.
Aos 12 anos, começou a observar seu pai e seu tio, uma formação que durou sete anos.
"É um ofício transmitido de geração em geração. Somos atualmente seis a exercê-lo, na família", conta o tio Ali Khalifé, 48 anos, no pequeno ateliê em Sarafand, onde os sopradores de vidro dormem e se alimentam ao ritmo do crepitar do forno.
Eles fazem também uma espécie de reciclagem, porque usam garrafas e outros objetos de vidro branco jogados fora por fábricas. "Transformamos tudo isto em beleza", disse Ali.
A invenção do sopro do vidro é atribuída ao povo antigo dos fenícios, que desenvolveram a técnica principalmente em Sarepta, uma cidade ao sul do litoral mediterrâneo, entre Sidon (atual Saida) e Tiro, no sul do Líbano.
Segundo uma lenda, mercadores fenícios cozinhavam seus alimentos numa praia de areia em marmitas apoiadas em blocos de natrão, carbonato hidratado de sódio natural, quando viram escoar uma substância desconhecida, descobrindo, assim, a possibilidade de estiramento do vidro.
No passado, numerosos ateliês de artesãos estavam disseminados ao longo do litoral, mas hoje esta arte quase caiu no esquecimento, substituída por bibelôs industriais e baratos que chegam a toda a hora.
"Antes, trabalhávamos dois meses seguidos para descansar 20 dias. Hoje, trabalhamos 15 dias e descansamos três meses", lamenta Ali, para quem as vendas caíram mais de 50% nos últimos anos.
"Além das grandes butiques de artesanato, muitos comerciantes vendem modelos fabricados principalmente na China dizendo que são feitos no Líbano", desabafa Ohannes Khoustekian, diretor-geral de "Azm 4 Crafts", uma empresa que apoia o artesanato, como forma de dar emprego aos mais carentes.
Os artesãos devem enfrentar custos significativos. O forno a querosene deve ficar aceso noite e dia, enquanto houver encomendas, o que custa 250 dólares em 24 horas.
Seus preços podem variar de seis dólares para um cinzeiro e 600 dólares por um lustre em vidro soprado.
A exemplo dos sabões, do cobre martelado de Trípoli (norte) ou da cutelaria de Jezzine (sul), o vidro soprado tenta sobreviver não apenas no Líbano, mas também no Oriente Médio, num momento em que os jovens tornam-se arredios a esses ofícios considerados arcaicos e sem futuro.
"Não é lucrativo", comenta Nesrine, irmã de Mahmud, com um sorriso resignado nos lábios, no ateliê onde estão vasos, cinzeiros, cânforas e jarras em cores cintilantes.
"Meu pai também é pescador e meu tio trabalha na construção para sustentar nossas famílias", acrescenta esta moça morena, que administra as encomendas.
Para consolação, grupos de estudantes vêm regularmente "aprender" o ofício por um dia ou partem contentes por terem "soprado" um vidro ou um cinzeiro.
Em Trípoli, onde os sopradores de vidro eram dez, antigamente, a empresa "Azm 4 Crafts" - financiada pela família do primeiro-ministro libanês Najib Mikati - ajuda o único artesão que, há sete anos, abandonou tudo, por falta de recursos.
A empresa administra as encomendas e permite mesmo que ele exporte. "Esta arte faz parte de nossa cultura, é preciso preservá-la", comenta Khoustekian.
ram/sbh/sd
O rosto bronzeado pelo calor do forno rudimentar em tijolos onde faz fundir o vidro, Mahmud "colhe" com a ajuda de um canudo uma bola de fogo viscosa. Em alguns minutos, com uma pequena tenaz à mão, ele a transforma em um cântaro de formas elegantes.
"Toda minha família aprendeu esta arte desde a idade mais tenra", diz ele soprando delicadamente o canudo de metal inoxidável.
Aos 12 anos, começou a observar seu pai e seu tio, uma formação que durou sete anos.
"É um ofício transmitido de geração em geração. Somos atualmente seis a exercê-lo, na família", conta o tio Ali Khalifé, 48 anos, no pequeno ateliê em Sarafand, onde os sopradores de vidro dormem e se alimentam ao ritmo do crepitar do forno.
Eles fazem também uma espécie de reciclagem, porque usam garrafas e outros objetos de vidro branco jogados fora por fábricas. "Transformamos tudo isto em beleza", disse Ali.
A invenção do sopro do vidro é atribuída ao povo antigo dos fenícios, que desenvolveram a técnica principalmente em Sarepta, uma cidade ao sul do litoral mediterrâneo, entre Sidon (atual Saida) e Tiro, no sul do Líbano.
Segundo uma lenda, mercadores fenícios cozinhavam seus alimentos numa praia de areia em marmitas apoiadas em blocos de natrão, carbonato hidratado de sódio natural, quando viram escoar uma substância desconhecida, descobrindo, assim, a possibilidade de estiramento do vidro.
No passado, numerosos ateliês de artesãos estavam disseminados ao longo do litoral, mas hoje esta arte quase caiu no esquecimento, substituída por bibelôs industriais e baratos que chegam a toda a hora.
"Antes, trabalhávamos dois meses seguidos para descansar 20 dias. Hoje, trabalhamos 15 dias e descansamos três meses", lamenta Ali, para quem as vendas caíram mais de 50% nos últimos anos.
"Além das grandes butiques de artesanato, muitos comerciantes vendem modelos fabricados principalmente na China dizendo que são feitos no Líbano", desabafa Ohannes Khoustekian, diretor-geral de "Azm 4 Crafts", uma empresa que apoia o artesanato, como forma de dar emprego aos mais carentes.
Os artesãos devem enfrentar custos significativos. O forno a querosene deve ficar aceso noite e dia, enquanto houver encomendas, o que custa 250 dólares em 24 horas.
Seus preços podem variar de seis dólares para um cinzeiro e 600 dólares por um lustre em vidro soprado.
A exemplo dos sabões, do cobre martelado de Trípoli (norte) ou da cutelaria de Jezzine (sul), o vidro soprado tenta sobreviver não apenas no Líbano, mas também no Oriente Médio, num momento em que os jovens tornam-se arredios a esses ofícios considerados arcaicos e sem futuro.
"Não é lucrativo", comenta Nesrine, irmã de Mahmud, com um sorriso resignado nos lábios, no ateliê onde estão vasos, cinzeiros, cânforas e jarras em cores cintilantes.
"Meu pai também é pescador e meu tio trabalha na construção para sustentar nossas famílias", acrescenta esta moça morena, que administra as encomendas.
Para consolação, grupos de estudantes vêm regularmente "aprender" o ofício por um dia ou partem contentes por terem "soprado" um vidro ou um cinzeiro.
Em Trípoli, onde os sopradores de vidro eram dez, antigamente, a empresa "Azm 4 Crafts" - financiada pela família do primeiro-ministro libanês Najib Mikati - ajuda o único artesão que, há sete anos, abandonou tudo, por falta de recursos.
A empresa administra as encomendas e permite mesmo que ele exporte. "Esta arte faz parte de nossa cultura, é preciso preservá-la", comenta Khoustekian.
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