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Ladrão que roubou La Gioconda há 100 anos vira herói de peça teatral

25/08/2011 15h42

PARIS, França, 25 Ago 2011 (AFP) -O operário italiano que roubou há 100 anos a célebre La Gioconda, a Mona Lisa, do Museu do Louvre, em Paris, é, agora, herói de uma peça teatral que o descreve como um patriota, e faz parte do programa de um festival de verão de sua cidade natal, Dumenza, na Lombardia, norte da Itália.

"Achamos que Peruggia era mesmo um patriota", declarou Simone Toffanin, diretor da peça "Il processo di Vincenzo Peruggia", O julgamento de Vincenzo Peruggia.

O site oficial de Dumenza emprega aspas na palavra "ladrão", para designar Peruggia. Evitando o verbo "roubar", o site também afirma que a célebre obra-prima de Leonardo da Vinci foi "retirada" do museu do Louvre.

O prefeito de Dumenza, Corrado Nazario Moro, disse que a localidade "não quer ser conhecida como a cidade natal do ladrão da Mona Lisa".

La Gioconda foi retirada do museu do Louvre no dia 21 de agosto de 1911, um roubo que ainda hoje atrai as atenções. A emoção foi imensa, tendo sido necessários dois anos para reencontrar a obra-prima, furtada pelo operário italiano que afirmou, na ocasião, ter agido por patriotismo.

Naquela segunda-feira, às 07h00 da manhã, Vincenzo Peruggia, pintor de paredes, de 30 anos, entrou no museu - no dia de fechamento para limpeza - por uma antiga porta para veículos do lado do Sena. Ele conhecia bem o local, porque participara, no ano anterior, da colocação de uma espécie de redoma em torno do quadro.

"Peruggia sabia perfeitamente como tinha sido fixada", conta à AFP Jérôme Coignard, autor do livro "Une femme disparaît", Uma mulher desaparece, numa tradução livre, dedicado ao assunto (editora Le Passage).

Em alguns segundos, tirou o quadro, pintado entre 1502 e 1506 pelo artista toscano, escondendo-se na escada. Aí, ele destacou a tela da moldura sem causar nenhum dano. Enrolou-a então na camisa e saiu tranquilamente.

Dois artistas deram o alerta no dia seguinte. Eles se preparavam para copiá-la e deram de cara com o vazio. O chefe de polícia, Louis Lépine, ordenou uma revista nos visitantes, mas já era tarde.

O célebre quadro só foi descoberto quando Peruggia tentou vendê-lo, em dezembro de 1913, a um antiquário de Florença, na Toscana. Julgado na Itália, foi condenado a uma pena de prisão muito leve, reduzida, depois, a sete meses.

A imprensa se inflamou, denunciando as falhas na vigilância do museu. O diretor do Louvre, embora tivesse alertado, antes, o governo, sobre a falta de segurança, acabou sendo demitido.

Alphonse Bertillon, fundador do primeiro laboratório de polícia de identificação criminal, encarregou-se pessoalmente do estudo da cena do crime. Chegou a tirar a impressão do dedo mindinho da mão esquerda do vidro que protegia o quadro. "Mas, a investigação, por falha, não explorou esse dado", escreveu Jérôme Coignard.

Apollinaire e Picasso A polícia estava persuadida de que o ladrão não tinha agido sozinho, acreditando no envolvimento de uma quadrilha de traficantes internacionais.

Chegou a suspeitar do poeta Guillaume Apollinaire, porque hospedou uma vez um escroque belga que roubou, em 1907, estatuetas hispano-romanas do Louvre. Pablo Picasso recuperou dois desses objetos, que o inspiravam, e os levou ao Petit Journal. A polícia ligou os os dois casos e mandou prender Apollinaire, que ficou oito dias detido. A vida do célebre poeta francês foi profundamente marcado por esse fato.

Durante dois anos, Peruggia escondeu o quadro em seu apartamento no 'Xe arrondissement' (circunscrição) de Paris. Depois, começou a escrever a antiquários italianos, a quem queria dar preferência.

Em dezembro de 1913, um antiquário toscano, Alfredo Geri, propôs examinar o quadro, em Florença. Peruggia aceitou. O antiquário, acompanhado do diretor da Galleria degli Uffizi, foram ao hotel onde o operário estava hospedado, comprovando a autoria da tela e a recuperando, sem nenhum problema.