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"Coco Chanel, uma antissemita confirmada", diz o autor de sua última biografia

17/08/2011 11h36

PARIS, França, 17 Ago 2011 (AFP) -"Coco Chanel era uma antissemita confirmada", disse nesta quarta-feira, à AFP, o jornalista Hal Vaughan, autor de uma biografia da estilista que denuncia o comprometimento da mais famosa criadora mundial de moda com o regime nazista, do qual ela teria sido agente, durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1995, a revista francesa L'Express, depois, em 2008, a alemã Der Spiegel haviam levantado dúvidas sobre o passado da francesa célebre citando a colaboração dela com o serviço secreto alemão em 1943, para tentar negociar uma paz separada com Winston Churchill.

Autor de "Sleeping with the enemy, Coco Chanel's secret war" (Dormindo com o inimigo, a guerra secreta de Coco Chanel, numa tradução livre), Hal Vaughan explicou que seu livro é fruto de três anos e meio de pesquisas nos arquivos americanos, franceses, alemães, britânicos, italianos e poloneses. Também consultou 225 obras de referência relacionadas a Coco Chanel.

"Descobri doze citações dos propósitos antissemitas de Coco Chanel, também uma anticomunista convicta que se vendeu aos alemães porque acreditava que Hitler fosse derrotar Stalin", disse o jornalista americano.

O grupo Chanel, controlado pela família Wertheimer, desmentiu formalmente na terça-feira que Gabrielle Chanel fosse antissemita. "Nunca a ouvi falar qualquer coisa que me fizesse pensar em antissemitismo, mesmo porque não teria suportado", afirmou Edmonde Charles-Roux, autor de uma biografia sobre Gabrielle Chanel datada de 1974.

Autor de dois livros sobre a Segunda Guerra Mundial, Hal Vaughan, 84 anos, contou que descobriu num documento da polícia francesa, datando de 1946, que a célebre estilista era agente da F-7124 de Abwehr, serviço de informação militar alemão, instalado durante a Ocupação no hotel Lutetia de Paris (VI 'arrondissement', circunscrição administrativa).

"Não pude acreditar em meus próprios olhos quando tive em mãos esse documento manuscrito, de 15 páginas, com o título +Gabrielle Chanel, chamada Coco+" citando, inclusive o código da então agente "Westminster", tirado do nome de seu amante durante seis anos, o duque de Westminster.

"Coco Chanel tenha sido, talvez, manipulada pelo amante alemão, mas era uma oportunista", adianta Hal Vaughan. Segundo seu livro, Coco Chanel, apaixonada por um oficial alemão, o barão Hans Gunther von Dincklage, foi recrutada em 1940 como agente secreto do regime nazista.

Hal Vaughan cita também um documento do MI6, o serviço de informação britânico, que relata a confissão de um importante agente alemão que desertou em 1943, em Madri. No documento de 103 páginas, três são consagradas a Coco Chanel e a seu outro amante von Dincklage, disse "Spatz", confirmando que Coco Chanel era mesmo uma espiã da Alemanha.

Em documentos da Resistência francesa, Hal Vaughan disse ter também descoberto que o nome de Coco Chanel figurava com a menção "condenada à morte", assim como o poeta Jean Cocteau e o coreógrafo Serge Lifar.

Entre as revelações do livro está a missão que realizou na Espanha, em troca da libertação de um sobrinho detido e sua relação com líderes do nazismo, como Hermann Goering e Joseph Goebbels, entre outros.

Hal Vaughan descreve em detalhes a relação de Chanel com o barão Hans Gunther von Dincklage, um oficial alemão, mencionada em outras biografias da estilista, mas cuja verdadeira influência é apresentada pela primeira vez.

"Dincklage é revelado aqui como um mestre da espionagem nazista e um agente da inteligência militar alemão que tinha a seu dispor uma rede de espiões, no Mediterrâneo e em Paris, que reportava diretamente ao ministro de propaganda nazista Joseph Goebbels, considerado a mão direita de Hitler", diz o comunicado da editora.

Coco Chanel (1883-1971) nasceu em 19 de agosto de 1883 em Saumur (oeste da França). Tinha 12 anos quando a mãe morreu e foi abandonada pelo pai junto a quatro irmãos.

Gabrielle Chanel - seu verdadeiro nome - viveu num orfanato e, já adulta, trabalhou numa confecção até conhecer um rico herdeiro, Etienne Balsan.

Um empresário inglês, Boy Chapel, considerado o grande amor de sua vida, ajudou-a a abrir seu primeiro estabelecimento, dedicado à fabricação de chapéus. Seguiu-se a alta-costura, com a inauguração da casa de número 31 da rua Cambon em 1919; pouco depois, lançaria o primeiro perfume, o N° 5.

Depois da Segunda Guerra Mundial, exilou-se na Suíça até 1953, quando criou uma coleção recebida friamente em Paris, mas que conquistou o mundo.

Chanel morreu em 10 de janeiro de 1971 num quarto do Hotel Ritz na capital francesa e foi enterrada em Lausanne (Suíça).