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França ofereceu às Farc tirá-las da lista de terroristas se libertassem Ingrid Betancourt

30/06/2011 17h25

QUITO, 30 Jun 2011 (AFP) -A França ofereceu à guerrilha colombiana das Farc a possibilidade de tirá-la da lista de grupos terroristas da União Europeia e permitir a abertura de um escritório em Paris, se libertasse Ingrid Betancourt, disse um ex-emissário francês em documentário exibido no Equador.

O diplomata francês Noel Sáez, que trabalhou para a libertação de Ingrid e outros reféns com o aval da Colômbia, disse que a proposta que fez ao número dois das Farc, Raúl Reyes, em uma data que não informou, incluía tirar esta guerrilha da lista de grupos terroristas da UE.

"Por instrução do presidente da República, do governo francês, eu propus a Raúl: se vocês soltarem os sequestrados, Ingrid e os (demais), nós vamos até a União Europeia para que tirem as Farc da lista de organizações terroristas", afirmou Sáez.

"Também podemos pensar, se aceitarem, permitir às Farc abrir um escritório em Paris, quer dizer, ter uma representação diplomática como tinham no México", acrescentou o enviado no documentário que estreou na noite de quarta-feira no canal equatoriano Teleamazonas.

Sáez, um ex-militar que se tornou diplomata, disse que a oferta, cuja data não informou, incluiu a assinatura de um compromisso.

"Se vossa senhoria se comprometer a libertar Ingrid Betancourt e todos os sequestrados, por escrito, diante da comunidade internacional, eu lhe garanto que trago aqui um documento assinado pelo ministro ou pelo presidente", relatou.

A revelação foi feita em um trabalho jornalístico sobre a operação Xeque, que conseguiu resgatar Betancourt - após seis anos de cativeiro -, três americanos e 11 militares colombianos, em 2 de julho de 2008.

A oferta da França às Farc já tinha sido mencionada em um despacho confidencial do Departamento de Estado dos Estados Unidos com data de 24 de junho de 2008, publicado pelo portal Wikileaks.

O governo colombiano havia confirmado que Saéz e o diplomata suíço Jean Pierre Gontard se reuniram com Reyes em 18 de junho de 2007 para discutir uma eventual troca de reféns por guerrilheiros presos.

Em 6 de julho de 2008, Saéz confirmou à AFP, em Paris, ter se reunido também com um homem de confiança do líder máximo das Farc, Alfonso Cano.

Além disso, o documentário "Operación Jaque, una jugada no tan maestra" (Operação Xeque, uma jogada não tão de mestre, em tradução literal), do diretor colombiano Gonzalo Guillén, estabelece que esta não foi uma operação de inteligência, mas uma negociação econômica entre o governo colombiano, com participação dos Estados Unidos, e dois comandos intermediários da guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC, marxista).

"Não foi nenhuma operação de inteligência, foi um negócio que acabou bem", disse Guillén, que evocou que o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, em seu governo (2002-2010), ofereceu 100 milhões de dólares aos insurgentes que desertaram com os sequestrados.

O presidente colombiano Juan Manuel Santos, que na época da Operação Xeque era ministro da Defesa, já tinha negado na terça-feira que a libertação tivesse ocorrido por pagamento aos guerrilheiros.

"Há uma suposta versão de um documentário no qual se tenta insinuar ou provar que nesta operação foram pagos não sei quantos milhões de dólares (...) Isso não tem nem pés, nem cabeça", disse o presidente na véspera da estreia do documentário.

Segundo testemunhos de advogados entrevistados no filme, dois "comandantes" das Farc tentaram "estruturar uma negociação, tanto com a Colômbia quanto com os Estados Unidos para que a entrega ocorresse de forma pacífica" e com benefícios.

Os guerrilheiros Gerardo Aguilar (codinome 'César') e Alexander Farfán ('Gafas') foram detidos durante a operação Xeque. Em 2010, um juiz dos Estados Unidos condenou por tráfico de drogas a 27 anos de prisão Aguilar, chefe da primeria frente das Farc que, em 2009, foi extraditado para este país.