Topo

Julgado por insultos antissemitas, Galliano confessa ser viciado em álcool e remédios

22/06/2011 13h20

PARÍS, França, 22 Jun 2011 (AFP) -O estilista britânico John Galliano confessou nesta quarta-feira, diante de um tribunal francês, que sofre de um "vício triplo" em álcool, soníferos e Valium, durante o julgamento contra ele por insultos antissemitas e racistas proferidos em um bar parisiense, constataram jornalistas da AFP.

"Não me lembro muito bem do que aconteceu", disse John Galliano ao tribunal com a mediação de um tradutor. "Tenho um vício triplo" em álcool, soníferos e Valium, confessou.

Vestido de preto e com os cabelos soltos, mas sem usar chapéu, John Galliano, de 50 anos, chegou ao Palácio de Justiça de Paris pouco antes do início da audiência, que começou às 15H50 local (10H50 de Brasília).

O estilista disse que no momento do ocorrido estava sobrecarregado de trabalho, e explicou que após perder seu pai em 2005 e um "amigo muito querido" em 2007, que o "protegia de tudo", dedicou-se a beber cada vez mais, antes de cair no vício. "Não podia ir trabalhar sem tomar minhas pílulas", explicou.

"Agora, sinto-me muito melhor", disse o estilista, que com o rosto tenso e pálido indicou ao tribunal que esteve por dois meses no Arizona (Estados Unidos) fazendo um tratamento de desintoxicação de todos os seus vícios.

Nascido em Gibraltar, filho de um encanador anglo-italiano e de uma espanhola, cujo verdadeiro nome é Juan Carlos Galliano, será julgado por insultos antissemitas e racistas proferidos em outubro de 2010 e em fevereiro de 2011 no bar parisiense La Perle, no bairro de moda de Marais, onde mora o estilista, que se instalou em Paris em 1990.

Galliano entrou por uma porta lateral na sala XVII do Tribunal, escapando assim dos numerosos fotógrafos, cinegrafistas e jornalistas que aguardavam o início da audiência.

Cinco testemunhas se apresentaram diante da presidente do tribunal, a juíza Anne Marie Sauteraud.

A primeira autora, Géraldine Block, assegura que no dia 24 de fevereiro, estando na varanda deste bar, Galliano disse "dirty jewish face" (judia de cara suja).

O acompanhante da mulher, Philippe Virgitti, afirma que Galliano o chamou de "fucking asian bastard" (desgraçado asiático de merda).

O casal, que o acusa por insultos antissemitas e racistas, fez a denúncia à polícia, que deteve na mesma noite o estilista britânico em estado de embriaguez.

A segunda acusação foi apresentada por uma mulher de 48 anos identificada como Fatiha, que afirma ter sido insultada por Galliano no dia 8 de outubro de 2010 no mesmo estabelecimento. Assegura que Galliano gritou "fucking ugly jewish bitch" (judia feia puta de merda).

No dia 28 de fevereiro, o jornal britânico The Sun revelava em seu site um vídeo do estilista insultando pessoas que estavam sentadas em uma mesa junto à sua, sempre no mesmo bar.

"Amo Hitler (...) Pessoas como vocês estariam mortas. Suas mães, seus pais seriam fodidos com gás", afirma Galliano neste vídeo gravado com um telefone celular.

Esta cena teria ocorrido no La Perle no dia 12 de novembro de 2010.

Mas nesta quarta-feira no tribunal, após a autorização da juíza para a apresentação do vídeo, o estilista afirmou que "não concordo com essas opiniões", "nunca foram minhas convicções", antes de se desculpar pela "emoção provocada por este assunto".

"No vídeo vejo alguém que precisa de ajuda, que é muito vulnerável (...) O homem do vídeo não é John Galliano (...). É a embalagem de John Galliano, é alguém que se esgotou", acrescentou.

E completou: "por toda a minha vida combati os preconceitos a intolerância e a discriminação a qual eu mesmo fui submetido" por ser homossexual.

Galliano pode ser condenado a uma pena de até seis meses de prisão e 22.500 euros de multa (32 mil dólares).

Dior, a grife na qual era diretor criativo desde 1996, o demitiu em março.

"Meu cliente está mal", disse nesta quarta-feira antes da audiência o advogado do estilista, Aurelien Hamelle. "Só sabe que as declarações pelas quais ele é acusado não refletem sua forma de pensar. Não é nem antissemita, nem racista", disse o advogado.

Um dos advogados dos três autores, Jean Bernard Bosquet Denis, considerou que o estado de embriaguez "não é uma circunstância atenuante".

Associações de luta contra o racismo também acusaram o estilista, cuja sentença deve ser conhecida em algumas semanas.

O julgamento coincide praticamente com o desfile de moda masculina da marca John Galliano previsto para a próxima sexta-feira em Paris, segunda coleção desta marca na ausência de seu fundador, que se caracterizava por performances surpreendentes.