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'L'Apollonide' revela em Cannes os segredos dolorosos de um bordel

16/05/2011 16h42

CANNES, França, 16 Mai 2011 (AFP) -O diretor francês Bertrand Bonello recriou em seu filme, "L'Apollonide", que disputa a Palma de Ouro do Festival de Cannes, uma casa de tolerância parisiense do fim do século XIX, com muita nudez, ópio e, sobretudo, os sorrisos trágicos das prostitutas.

"Voltar às casas de tolerância ou permitir que as prostitutas trabalhem nas ruas? Tenho, evidentemente, um ponto de vista pessoal sobre este problema, mas o meu filme não pretende entrar neste debate", declarou Bonello, em alusão à recorrente discussão na França sobre a regulamentação ou a repressão à prostituição.

"L'Apollonide" abre ao espectador as portas de um mítico casarão fechado, "teatro de todos os fantasmas", onde mora uma dúzia de prostituas, entre elas "a mulher que sempre ri", ferida por um cliente perverso que deixou em seu rosto duas terríveis cicatrizes que prolongam seus lábios.

Bonello disse que quando estava redigindo o roteiro, surgiu em sua memória a lembrança do romance de Victor Hugo, "O homem que Ri", que conta a história de um homem mutilado, com uma máscara de alegria que representa a humanidade deformada, maltratada, negada.

"Amo as putas", repete um dos clientes do bordel neste filme que leva o público, em uma viagem imaginária, a este mundo decadente dos bordéis, pintado por Toulouse-Lautrec, entre outros, e do qual muitos contos de Guy de Maupassant tratam.

"Em geral, os pintores e escritores desta época vão aos bordéis e dão o ponto de vista masculino sobre as prostitutas, mas o que me interessava era o olhar das mulheres sobre os homens que as visitavam. Quis mostrar a decadência, o inelutável fim desse mundo", explicou o diretor.

O filme oscila entre o documentário e a ficção, entre a crônica e o romance, entre a reconstrução estética desse mundo decadente e sua crítica implícita, entre o mundo fechado como uma prisão e o local de prazer dos burgueses.

O cineasta contou que se inspirou na pintura e na literatura francesas do século XIX, assim como em arquivos policiais e documentos "científicos", especialmente um estudo sobre a suposta reduzida capacidade cerebral de prostitutas e criminosos.

Bonello, que também é músico e compositor, tem uma reputação incendiária na França por causa de seus filmes anteriores, entre eles, "O Pornógrafo", com Jean-Pierre Leaud, e "Tirésias", sobre um transexual brasileiro que reinterpreta o mito do adivinho grego cego que foi, sucessivamente, homem e mulher.