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"O corpo e a alma me pedem uma música mais íntima", afirma Gilberto Gil

31/03/2011 11h51

PARIS, 31 Mar 2011 (AFP) -"O corpo e a alma me pedem para fazer uma música mais íntima", declarou à AFP o cantor e compositor Gilberto Gil, que fará no sábado um show acústico, "pessoal e introspectivo", em um grande teatro de Paris.

Gil, ex-ministro da Cultura e que completará 69 anos em junho, se apresentará ao lado do violoncelista Jacques Morelenbaum e do filho Bem Gil no Teatro Chatelet, um dos templos da música parisiense.

O artista baiano, que tem mais de 40 anos de carreira, confessou em entrevista à AFP que a nova orientação em sua música tem relação com a "passagem do tempo, que deixa marcas".

"A apresentação será uma viagem em uma música mais íntima, mais terna e introspectiva. E isso tem a ver com a passagem do tempo", reconheceu Gil.

"O tempo deixa marcas estas se refletem em minha música", completou o cantor, que foi ministro da Cultura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de janeiro de 2003 a julho de 2008, quando renunciou para voltar à música.

O artista, um dos idealizadores da tropicália nos anos 60, quando também combatia a ditadura militar, afirma que agora deseja fazer uma música mais afastada de conceitos, de ideologias, "uma música mais pessoal, que deixe mais espaço para a ternura".

"Eu já fiz tudo isso de estimular a música brasileira. Antes havia uma ideologia, que era ajudar a divulgar a nossa música no mundo. A tropicália foi isso. Agora quero voltar a coisas mais puras, livres, sem compromissos", explicou.

"O corpo e a alma me pedem uma música mais íntima, mais interior", admitiu o artista, que foi submetido a uma cirurgia nas cordas vocais em outubro de 2007.

Gil, uma estrela desde a década de 60 e com 56 álbuns na carreira, afirma que agora se dá permissão para sentir-se "livre, desapegado de qualquer conceito central", para retornar à música do nordeste brasileiro, a música de sua infância.

"A apresentação também será uma visita às origens de minha música nordestina. Gosto de revisitar a música inicial de minha vida, que está infiltrada em meu coração".

"É um tema de amor profundo", disse Gil, antes de destacar que as canções do show em Paris - que integra uma turnê pela Europa, depois da realizada pela América do Norte em novembro - "se adaptam bem ao violão e ao violoncelo".

"O ambiente acústico ajuda a conservar a qualidade vocal e permite também mostrar a qualidade de minha execução, minha forma de tocar o violão", declarou Gil, que deve passar por músicas de várias épocas da carreira.

"Cantarei sobre amor, política e temas que revelam uma introspecção", antecipou.

"São canções que utilizam a forte qualidade rítmica da música brasileira, mas também baladas, canções ternas, muito pessoais.

Com humildade, Gil afirma não reclamar um lugar especial na história da música popular brasileira, mas se considera herdeiro de grandes músicos artistas, como Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi e João Gilberto.

"Não tenho ambição de virar uma referência", afirmou Gil, que venceu o Grammy Latino em duas categorias ano passado: "Banda Dois" foi considerado o Melhor Álbum de Música Popular Brasileira e "Fé na festa" o Melhor Álbum inspirado em música brasileira.

"Eu faço apenas o que faço. Meu impulso criativo nasceu de minha admiração por eles, por Dorival, Luiz Gonzaga, João Gilberto, Jorge Bem. Eu sou herdeiro deles, e não preciso de um lugar especial. Quero somente ser parte da herança, parte deles", concluiu Gil.