Jornalistas do Estadão e do Guardian continuam desaparecidos na Líbia
LONDRES, 10 Mar 2011 (AFP) -O jornal britânico The Guardian anunciou nesta quinta-feira que desde domingo perdeu contato com um de seus jornalistas na Líbia, onde viajava na companhia de Andrei Netto, o enviado do jornal paulista O Estado de S. Paulo igualmente dado como desaparecido.
Andrei Netto, o correspondente do Estadão em Paris desde 2006, se encontra desaparecido desde domingo à noite e, segundo informações de seu jornal, o Estadão, ele estaria detido a oeste da capital líbia.
Já Ghait Abdul Ahad, um experiente jornalista de nacionalidade iraquiana que trabalha para o Guardian desde 2004 na Somália, Sudão, Iraque e Afeganistão, estava há duas semanas cobrindo a rebelião no oeste da Líbia.
Seu último contato com o jornal, estabelecido através de uma terceira pessoa, aconteceu no domingo, quando se encontrava em Zawiya, cidade do oeste de Trípoli e cenário nos últimos dias de violentos combates entre os insurgentes e as forças leais a Muamar Kadhafi.
"O Guardian esteve em contato com funcionários do governo em Trípoli e Londres, e pediu a eles que proporcionem toda ajuda possível na busca de Abdul Ahad", acrescenta o jornal.
Abdul Ahad viajava junto a Andrei Netto, enviado brasileiro para cobrir o conflito líbio, e um guia líbio que os acompanhava, segundo o jornal paulista.
O Estadão confirmou em seu site ter perdido qualquer contato com Andrei desde domingo à noite. O jornalista chegou à Líbia no dia 19 através da fronteira da Tunísia com o objetivo de ir avançando até Trípoli.
"Segundo informações não confirmadas obtidas na quarta-feira pelo jornal, Andrei Netto teria sido detido pelo governo líbio junto a seus dois acompanhantes", afirma o Estadão, que também diz ter perdido qualquer contato com seu jornalista no domingo passado, quando ele se encontrava em Zawiya.
Segundo o Estadão on-line, Andrei estaria preso a oeste da capital Trípoli.
O Estadão afirma ainda que o governo brasileiro e a embaixada da Líbia no Brasil, assim como outros organismos, estão colaborando com o jornal para "garantir a integridade física e a segurança de seu repórter".
"O governo brasileiro está em contato constante com o governo líbio através das embaixadas, para descobrir o paradeiro (do jornalista) e organizar sua saída do país o mais rápido possível", informou à AFP um porta-voz da chancelaria brasileira.
Andrei, um gaúcho de 34 anos, tem experiência em coberturas internacionais, como o terremoto na cidade italiana de L'Aquila e o acidente do voo 447 entre Rio e Paris, afirma o jornal, que não menciona nenhuma atividade anterior em uma zona de conflito.
Na noite de quarta-feira, o canal britânico BBC anunciou que três de seus jornalistas foram detidos e agredidos na Líbia quando trabalhavam em campo, sendo submetidos a uma simulação de execução.
O jornalista árabe Feras Killani e seus colegas, o britânico Chris Cobb-Smith e o turco Goktay Koraltan, foram presos na segunda-feira e levados para barracões onde "sofreram repetidas agressões".
Os três jornalistas foram detidos em um posto de controle 10 km ao sul da cidade de Zawiya, 40 km a oeste de Trípoli, palco de violentos combates entre rebeldes e forças leais ao regime do coronel Muammar Khadafi.
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, informou nesta quinta-feira que os atos de violência sofridos pelos três jornalistas da BBC na Líbia "podem ser atos de tortura".
"O fato de que tenham sido considerados alvo, detidos e tratados com uma crueldade que pode ser considerada tortura é totalmente inaceitável e constitui uma violação grave do direito internacional", declarou Pillay, citada em um comunicado.
"Se uma equipe de televisão internacional pode ser vítima deste tipo de maus-tratos, me preocupa acima de tudo o tipo de maus-tratos que podem sofrer os opositores do regime líbio que caírem em mãos dos serviços de segurança", destacou.
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