Iraniano 'Nader and Simin' ganha Urso de Ouro em Berlim
BERLIM, 19 Fev 2011 (AFP) -O Urso de Ouro da 61ª edição do Festival de Berlim foi atribuído este sábado pela primeira vez a uma produção iraniana, o filme "Nader and Simin - a Separation", um drama familiar passado em Teerã do diretor Asghar Farhadi, que traz à tona o conflito entre a dura tradição religiosa muçulmana e o desejo de mudanças da juventude.
"Nunca imaginei que ganharia este prêmio. A última vez que vim a Berlim não pensei que voltaria de novo a este palco", disse Farhadi, ao receber a estatueta do urso dourado.
"Queria dedicar o meu prêmio ao povo iraniano, ao país onde cresci e onde aprendi o que sei", acrescentou.
"Neste momento, penso sobretudo no meu amigo Jafar Panahi. Espero que seus problemas se resolvam logo e que possa voltar à Berlinale no ano que vem", disse.
Panahi, condenado a seis anos de prisão domiciliar e a 20 anos de proibição a fazer filmes por ter filmado manifestações antigovernamentais, não foi autorizado a viajar a Berlim, como tampouco pode ir a Cannes e à Mostra de Veneza.
"Fui condenado a vinte anos de silêncio. No entanto, nos meus sonhos, grito para que chegue uma época em que possamos nos tolerar uns aos outros, respeitar as nossas opiniões e viver juntos", escreveu Panahi em uma carta enviada à Berlinale.
O embaixador do Irã na Alemanha, Alireza Sheij Attar, declarou "esperar" que Panahi "possa novamente exercer seu ofício se solucionar seus problemas jurídicos", em carta à revista alemã Der Spiegel.
Asghar Farhadi, de 38 anos, nasceu em Isfahan e estudou direção de teatro e cinema na Universidade de Teerã. Ele escreveu e dirigiu obras de teatro e de rádio.
Em 2009, ganhou o Urso de Prata de melhor diretor com o filme "Procurando Elly", um drama sobre um amor impossível.
Todos os intérpretes do filme ganharam, em conjunto, os Ursos de Prata para os melhores atores e atrizes: Leila Hatami, Peyman Moadi, Shahab Hosseinini, Sareh Bayat, Sarina Farhadi, filha do diretor, e Babak Karimi.
O filme foi recebido com aplausos calorosos em sua exibição na última terça-feira, quando emergiu como forte candidato ao prêmio máximo do Festival de Berlim.
"Nader and Simin" leva para as telas outra história fascinante do meio urbano iraniano, através da vida de um casal em crise que se envolve em um problema judicial.
O filme conta a história de uma mulher que quer se divorciar para poder levar a filha de 11 anos para viver fora do Irã, explicando indiretamente a um juiz "que nenhuma menina deveria ser criada nesta situação".
Seu pedido não é atendido, e assim Simin e seu marido, Nader, concordam com uma separação informal, e a menina fica com o pai. Mas ele tem que cuidar do próprio pai, que sofre de mal de Alzheimer.
Para ajudá-lo em casa, Nader contrata uma jovem grávida, que trabalha escondida do marido. A decisão dela se revela trágica quando ela sofre um aborto espontâneo no trabalho e a família dela culpa Nader pelo ocorrido.
Cada personagem vive um conflito moral pela morte da criança, que Farhadi revela ter sido uma forma de analisar o confronto entre princípios religiosos tradicionais e o novo ponto de vista de uma classe moderna.
"Meu filme não fala da disputa entre homens e mulheres, mas desta necessidade de modernidade que encarna Simin e, igualmente, do diálogo quase impossível com a tradição que representa este pai velho e doente", reforçou o diretor.
"Uma parte da população iraniana é muito crente e respeita as estritas regras religiosas dominantes, mas outra não. No exterior, as pessoas imaginam que todo o Irã é um país religioso, mas não é verdade. Este é o conflito. Há uma crise subjacente, uma guerra oculta entre as pessoas pobres, religiosas, e que querem viver de forma moderna", declarou Farhadi, ao apresentar seu filme.
O diretor revelou, ainda, que no Irã há um alto percentual de divórios exatamente por causa desta disputa permanente entre o tradicional e o moderno.
No filme, muitas cenas acontecem nos tribunais. As normas são onipresentes, as ameaças de castigos, os juramentos com a mão sobre o Corão.
O roteiro deste filme, escrito por Farhadi, é muito eficaz, com muitas pequenas peripécias em torno destes personagens ambivalentes, confrontados com problemas sociais, as consequências da mentira e da verdade.
"Toda pessoa tem direito de cometer erros. Se isto se reconhece ao nível de uma sociedade, a sociedade avança. O filme fala do ser humano e de suas fragilidades, de como, tentando ser justos, podemos fazer mal a quem mais amamos", disse, por sua vez, a atriz Leila Hatami.
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