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Grande Rio dá a volta por cima com muito samba e suor

16/02/2011 16h30

RIO DE JANEIRO, 16 Fev 2011 (AFP) -Garra e muito amor pelo samba são as armas da Grande Rio para dar a volta por cima, após um incêndio destruir fantasias e carros alegóricos da escola, a um mês do carnaval do Rio de Janeiro.

No ensaio realizado na noite desta terça-feira, seus integrantes mostraram que, mesmo sem poder apresentar na Marquês de Sapucaí um desfile luxuoso, já que seus oito carros alegóricos e quase todas as 3.300 fantasias foram destruídas, levantarão o público com muita emoção e samba no pé.

"A comunidade vai entrar com muita garra, mais do que nos outros anos. A gente pode não ganhar o carnaval oficial, mas vai ganhar o público com certeza. Os ensaios estão lotados, a comunidade está batalhando muito", afirmou Rosa Vaz, integrante da Velha Guarda da escola e que desfila há 22 anos pela Grande Rio.

Sua opinião é compartilhada por Adilson de Oliveira, de 72 anos, da ala de compositores da escola. "Esse é o carnaval da superação", disse, acrescentando que no dia do incêndio "o coração foi na boca, todo mundo chorou".

Mas não foram apenas os mais velhos que sentiram a dor de perder um ano de trabalho para o fogo. O 1º mestre-sala da escola, Luiz Felipe, de apenas de 19 anos, disse ter ficado desnorteado quando soube do incêndio, e até hoje "parece que a ficha não caiu".

"Nasci na escola, vivo aqui desde pequeno e é meu primeiro ano comoe mestre-sala. Me senti perdido no dia, mas isso fez com que todos ficassem mais unidos", afirmou sorridente.

O mestre Ciça, diretor de bateria, lamentou, por sua vez, que a Grande Rio não consiga lutar pelo campeonato neste ano.

"Fiquei arrasado porque gosto de competir, gosto de desafios, mas vamos fazer um grande desfile de qualquer forma", disse antes de "incendiar" a quadra da escola, em Duque de Caxias, com o som de sua bateria.

Havia uma grande expectativa pela vitória neste ano, após a escola conquistar o vice-campeonato em 2006, 2007 e 2010.

A Grande Rio corre contra o tempo para preparar seu novo desfile, que tem como tema 'Y-Jurerê mirim - A encantadora Ilha das Bruxas (Um conto de Cascaes)' e fala sobre a cidade de Florianópolis. A comunidade local se mobilizou e contribui com máquinas de costura, ferramentas e mão-de-obra para tudo ficar pronto a tempo.

"As pessoas estão se organizando em multirão, a comunidade tem ido para a Cidade do Samba ajudar. Vão colar chapéus, fantasias, levam máquinas", explicou Rosa Vaz.

E todo o trabalho trará grandes resultados, segundo Tavinho, diretor de carnaval da Grande Rio. "Estamos a todo vapor na Cidade do Samba, dia e noite. Nossa proposta é colocar quatro carros alegóricos na avenida e vamos conseguir. E teremos quatro tripés. (...) Todos vocês terão as fantasias que foram prometidas", afirmou em um discurso à comunidade que lotava a quadra da escola.

Mas Tavinho nem precisava se preocupar com isso, porque se depender dos integrandes da Grande Rio, haverá desfile com ou sem fantasias. "A princípio eu desfilaria em cima de um carro, mas se não tiver carro para eu sair eu vou sambando no chão de qualquer jeito. Vou até empurrando um carro, se for preciso", afirmou Elias, de 40 anos e que se apresentou como "Pirulito", que desfila pela quinta vez na escola.

No último dia 7 de fevereiro, um grande incêndio atingiu a Cidade do Samba, no centro do Rio de Janeiro, e destruiu grande parte dos barrações das escolas Portela, União da Ilha e Grande Rio, além da um espaço cultural da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba). A tragédia ocorreu a um mês do carnaval.

As três escolas prejudicadas não serão julgadas neste ano durante os desfiles, e por isso não serão rebaixadas do Grupo Especial das escolas de samba.

A Cidade do Samba foi construída em 2005 e uniu todas as escolas no mesmo mesmo local. Antes de sua inauguração, cada escola produzia suas alegorias e fantasias em barracões espalhados pela cidade, e os casos de incêndios e enchentes eram muito comuns.