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Filme iraniano aclamado na Berlinale, que sente ausência de Panahi no júri

15/02/2011 12h53

BERLIM, 15 Fev 2011 (AFP) -Recebido com aplausos calorosos, o drama iraniano 'Nader and Simin: a separation', de Asghar Farhadi, emergiu esta terça-feira como um forte candidato ao Urso de Ouro do Festival de Berlim, que lança os holofotes sobre a difícil vida dos cineastas do país, diante da ausência de Jafar Panahi, um de seus expoentes, impedido de integrar o júri berlinense por cumprir prisão domiciliar no Irã.

O longa de Farhadi, que ganhou o prêmio de melhor diretor pelo suspense 'Procurando Elly' na edição de 2009 da mostra berlinense, traz para as telas outra história fascinante do meio urbano iraniano.

O filme conta a história de uma mulher que quer se divorciar para poder levar a filha de 11 anos para viver fora do Irã, explicando indiretamente a um juiz "que nenhuma menina deveria ser criada nesta situação".

Seu pedido não é atendido, e assim Simin e seu marido, Nader, concordam com uma separação informal, e a menina fica com o pai. Mas ele tem que cuidar do próprio pai, que sofre de mal de Alzheimer.

Para ajudá-lo em casa, Nader contrata uma jovem grávida, que trabalha escondida do marido. A decisão dela se revela trágica quando ela sofre um aborto espontâneo no trabalho e a família dela culpa Nader pelo ocorrido.

Cada personagem vive um conflito moral pela morte da criança, que Farhadi revela ter sido uma forma de analisar o confronto entre princípios religiosos tradicionais e o novo ponto de vista de uma classe moderna.

"Trata-se de uma crise dos seres humanos de hoje em dia e da questão da moral", explicou o diretor aos jornalistas.

"Comparamos o que fazemos com padrões do passado. Aqueles padrões morais não podem mais ser aplicados diretamente, assim não há padrão que você possa usar como referência para as suas ações", emendou.

"Uma pessoa moderna com uma vida moderna tem muitos conflitos, por isso eu acho que as pessoas estão procurando por uma nova definição de moralidade", acrescentou.

A edição deste ano do Festival de Berlim, um dos principais eventos do cinema internacional, ressaltou o trabalho dos cineastas dissidentes iranianos e convidou o mais proeminente entre eles, Jafar Panahi, para compor seu júri.

No entanto, uma corte iraniana condenou Panahi em dezembro passado a uma pena de seis anos de prisão e à proibição de fazer filmes por 20 anos. Apesar de ter sido libertado sob fiança, o cineasta cumpre prisão domiciliar em Teerã e está proibido de viajar para o exterior.

Panahi foi condenado por fazer propaganda ilícita por trabalhar em um filme sobre a onda de protestos que se seguiu à polêmica reeleição do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, em junho de 2009.

Na noite de abertura do festival, o júri presidido pela atriz e diretora ítalo-americana Isabella Rossellini deixou uma cadeira vazia para Panahi, que ganhou um Urso de Prata por sua comédia "Fora do Jogo", em 2006.

Farhadi admitiu que tanto ele quanto seus colegas cineastas têm sentido profundamente a ausência de Panahi em Berlim.

"Vocês o conhecem por causa de seus filmes, mas eu o conheço pessoalmente", contou à imprensa.

"Eu me despedi dele quando vim para cá. Fiquei extremamente triste por estar partindo para um lugar aonde ele não poderia ir e todos os diretores ao redor do mundo se sentem da mesma forma", acrescentou.

Em homenagem ao cineasta iraniano, a Berlinale, como o festival é conhecido, exibe "Fora de Jogo" e outros quatro filmes premiados de Panahi, como "O Círculo" e "Ouro Carmim", todos apresentados por diretores e atores presentes na mostra.

Na quinta-feira, o festival deverá abrir um painel de discussão com diretores de cinema e artistas iranianos intitulado "Cinema Censurado", que terá como tema a "censura e a restrição da liberdade de opinião e expressão no Irã".

Cineastas, roteiristas e artistas em geral têm criticado a intensificação da censura durante o governo de Ahmadinejad.

A mostra berlinense se encerra no domingo, depois da cerimônia de gala para a entrega dos prêmios, na noite de sábado.