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Fotógrafo brasileiro premiado pela Time buscou retratar sensibilidade humana

22/12/2010 15h10

SÃO PAULO, 22 dez 2010 (AFP) -Refletir a sensibilidade do ser humano com liberdade e tempo: o fotógrafo paulista Maurício Lima, da AFP, relata suas reflexões sobre sua série de imagens sobre a guerra no Afeganistão que lhe valeu o prêmio da revista Time de melhor fotógrafo de agência do ano.

"A ideia principal é que deixei as coisas virem naturalmente, de acordo com os caminhos que fazia em Cabul e engajado com os Marines", contou à AFP.

"Tinha duas coisas na cabeça. A primeira era trabalhar de forma livre e solitária em Cabul e, a segunda, ter muita liberdade. Foi a chave para que o trabalho tivesse corpo e a força que tem", explicou o fotógrafo.

"As chaves para fazer um bom trabalho jornalístico são acesso e tempo", explicou Maurício, que se diz atraído pelos efeitos das guerras nas pessoas e não pela guerra em si.

"Não me interessa a parte bélica, e sim as consequências que tem sobre os deslocados pela violência, pelas guerras. A experiência com crianças, com locais no Afeganistão, as pessoas, inclusive os Marines que conheci (...) o sentimento humano é o que me atrai", resumiu.

Maurício Lima passou 75 dias no Afeganistão em 2010. A metade do tempo, ele se dedicou a retratar a vida dos Marines americanos no país e a a outra metade, a percorrer Cabul em busca de histórias.

Na série selecionada pela Time estão imagens de civis afegãs e retratos de militares americanos. Algumas fotos são comoventes e refletem as pessoas comuns e simples, tentando viver em meio à guerra.

"Tinha em mente, meses antes de ir embora, (trabalhar com) aspectos culturais e históricos do país e das pessoas", relatou. "Fico fascinado com as histórias dos idosos. Era como os tempos ancestrais no mundo atual", afirmou para explicar algumas das imagens da série.

"Pediram que fizesse boas histórias e boas fotos e não me preocupasse com nada mais", emendou.

"Agora, gostaria de trabalhar com a vida das pessoas afetadas pelas guerras. É um tema muito complexo, muito profundo", reforçou.

"O importante para mim é a busca da sensibilidade humana e a proximidade como método para encontrar e contar uma boa história", continuou.

"As pessoas pensam que é preciso ir ao olho do furacão para fazer a melhor história. E talvez esteja na esquina de casa", acrescentou o fotógrafo que disse gostar de "trabalhar com o mais importante no ser humano, que é a sensibilidade".

"Isto é o que me move (...), fazer este tipo de trabalho", concluiu.

Maurício Lima foi premiado por uma série de fotografias intitulada "Afeganistão Apocalipse"; os editores da revista compararam seu estilo ao do lendário fotógrafo francês Henry Cartier-Bresson.

O prêmio "foi uma surpresa. Não tinha ideia de que iria recebê-lo. Recebi um montão de e-mails e minha caixa de mensagens do celular está cheia", contou.

"É interessante que seja um fotógrafo do Brasil, que é um país que não tem tradição de fotojornalismo internacional", refletiu Lima, de 35 anos, fotógrafo há 12.

"Recebi o recebo como um reconhecimento do esforço e do desejo que tenho pela profissão que escolhi. É um estímulo para seguir este caminho de procurar histórias e retratar o dia a dia das pessoas, que é o mais interessante da fotografia. Isto é mais importante que a tragédia", destacou.

"As imagens íntimas, poéticas que Lima faz, parecem vir de outra época. Seu enfoque e composição lembram (o conceito de) 'Momento decisivo' de Cartier Bresson, enquanto a paleta de tons pasteis - uma estética perfeita para a paisagem seca, empoeirada e antiga do Afeganistão -, lembra o processo autocromo, dos primeiros tempos da fotografia cor", destacou a Time.

www.time.com/time/photogallery/0,29307,2039390,00.html#ixzz18qZjO7lS.