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Temporada parisiense primavera-verão 2006 se destaca pela "criatividade aplicada"

11/10/2005 16h11

PARIS, 11 out (AFP) - A semana parisiense de apresentação das coleções de "prêt-à-porter" para a temporada primavera-verão 2006, que terminou na segunda-feira, caracterizou-se pela "criatividade aplicada" com o claro objetivo de atrair as mulheres para as lojas nos próximos meses, segundo vários profissionais entrevistados pela AFP.

"Foi uma temporada da razão. Foi perceptível o desejo comercial das marcas, que querem garantir seu faturamento", avaliou o consultor de moda Jean-Jacques Picart.

"Nos melhores casos, as coleções não excluíram o encanto; nos piores, causaram enfado", acrescentou.

Opinião partilhada principalmente pela britânica Hilary Alexander, cronista de moda do jornal Daily Telegraph, que considerou que esta temporada foi "um pouco confusa, sem tendências claras".

Ao contrário, o presidente da Federação Francesa de Estilistas de Alta-Costura e Prêt-à-porter, Didier Grumbach, considerou que esta foi "provavelmente uma das melhores temporadas em décadas".

Avaliação semelhante à do americano Andre Leon Talley, personalidade da moda nos Estados Unidos e cronista da revista Vogue, segundo quem esta foi "uma temporada muito boa". Perguntado sobre o aspecto comercial das coleções, Talley afirmou: "Vender com inteligência é um elemento positivo. Como seduzir as mulheres para que comprem nas lojas nas quais estão as coleções de prêt-à-porter representam um verdadeiro investimento, dado o alto nível dos preços".

"É verdade que a situação é difícil e que o poder aquisitivo está em baixa", comentou Jean-Jacques Picart, destacando que "se deve seduzir com uma boa relação qualidade-preço, enquanto normalmente Paris destaca sua criatividade. Nesta temporada a criatividade foi aplicada".

Esta aplicação se traduziu nas passarelas em "muito romantismo" e "uma bela feminilidade", avaliou Andre Leon Talley.

As opiniões divergem com relação ao estilista Jean-Paul Gaultier, cuja coleção para a 'maison' Hermès foi um "tour de force", segundo Talley.

"O sucessor natural de Yves Saint Laurent é Jean-Paul Gaultier, cujo desfile para a Hermès alcançou tal nível de beleza, de harmonia e elegância que é difícil acreditar que a coleção esteja assinada por um ex-'enfant terrible' da moda", escreveu Suzy Menkès no International Herald Tribune.

Entre outros exemplos do resgate da beleza feminina estão as linhas estilizadas e a sofisticação dos adornos de Nicolas Ghesquière para Balenciaga; os vestidos em estilo eduardino apurado de Olivier Theyskens para Rochas; as cascatas de tecidos vaporosos e ondulantes que dominaram o desfile de Stefano Pilati para a Yves Saint Laurent, e as silhuetas quase futuristas que Riccardo Tisci concebeu para a Givenchy.

Em suas criações para a 'maison' Céline, Ivana Omazic simbolizou um certo 'revival' geral do estilo burguês, depois de anos desestruturando peças. Houve os que criticaram o excessivo classicismo de sua coleção. Outros comentaram que a primeira coleção de John Galliano para a Dior recebeu críticas terríveis e que imediatamente depois o estilista foi elogiado e considerado genial.

John Galliano se opôs ao estilo discreto apresentado no desfile para a Dior e apresentou um show teatral e chamativo para sua marca própria, no qual levou para a passarela os mais diferentes personagens, de pessoas muito baixas a mulheres gordas, por exemplo.

Na eterna discussão entre eficiência e criatividade na moda, Christian Lacroix fez uma demonstração de excelência com a sua primeira coleção com o grupo americano Falic como proprietário da marca, apresentando um verdadeiro "prêt-à porter" com criatividade verdadeira. (Por Dominique Ageorges)