De Roberto Saviano a Caco Barcellos: os escritores que já sofreram ameaças
Rodrigo Casarin
Do UOL, em São Paulo
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EFE
O escritor Roberto Saviano, autor do best-seller "Gomorra"
O jornalista e escritor italiano Roberto Saviano é uma das principais atrações da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano. Em 2008, ele publicou "Gomorra", livro-reportagem no qual revelava detalhes sobre a máfia italiana Camorra.
Desde então, sofre ameaças de morte e vive escondido, sob proteção. Relatou essa realidade em "O Contrário da Morte" e voltou a mexer com criminosos ao escrever "Zero Zero Zero", uma outra reportagem em livro, esta sobre o comércio internacional de cocaína.
Saviano é um dos muitos escritores ameaçados por seus trabalhos e puxa uma lista de outros autores que também estiveram sob ameaça.
Salman Rushdie
Tão conhecidas quanto as ameaças feitas a Saviano são as que o britânico Salman Rushdie recebeu em 1989, após o lançamento de "Os Versos Satânicos". A obra despertou a fúria de líderes islâmicos por supostamente blasfemar Maomé. Pessoas ligadas ao livro --como editores e tradutores-- sofreram atentados e o autor precisou ficar cerca de treze anos vivendo sob constante proteção.
Eric Zemmour
Outro escritor que recebeu proteção por conta de possíveis represálias de muçulmanos foi o francês Eric Zemmour, autor de "O Suícidio Francês", best-seller no qual considera a imigração como um dos principais problemas da França. Após os atentados ao jornal Charlie Hebdo, no início deste ano, dois polícias passaram a acompanhá-lo.
Michel Houellebecq
Michel Houellebecq também teve o que temer após os atentados ao Charlie Hebdo, tanto que cancelou a promoção de "Submissão", seu mais recente livro, no qual imagina uma França futurista cujas eleições são vencidas por um partido islâmico, e deixou Paris durante algum tempo. Depois, o autor declarou que muita gente gostaria de lhe ver morto.
Taslima Nasreen
Islamitas também perseguiram a escritora Taslima Nasreen, que há pouco mais de uma semana precisou deixar a Índia por sofrer ameaças de radicais que haviam matado blogueiros ateus. Nascida em Bangladeche, Taslima tornou-se alvo de fanáticos em meados da década de 90, após escrever "Vingança", livro no qual criticava as religiões, especialmente o islamismo.
Theo van Gogh
Quem não escapou da intolerância religiosa foi o holandês Theo van Gogh, assassinado em 2004 por Mohammed Bouyeri, que dizia agir em nome de Alá. Também ator e cineasta, Theo era bastante crítico à religião de uma maneira geral. Em seu último livro, "Allah Weet Het Better", apresentava de forma irônica suas opiniões sobre o islamismo.
Orhan Pamuk
Já o turco Orhan Pamuk, Nobel de Literatura de 2006, foi ameaçado por um homem que havia sido detido pela morte de um jornalista turco. O autor se tornou visado por extremistas nacionalistas que o consideram um traidor da pátria por afirmar que "um milhão de armênios e 30 mil curdos foram assassinados na Turquia", referindo-se ao genocídio armênio, algo negado pelas autoridades de seu país.
Antonio Salas
Há quem antevendo as ameaças já publique seus trabalhos com um nome fictício, como é o caso do jornalista espanhol Antonio Salas. São dele os livros-reportagem "Diário de um Skinhead", sobre os neonazistas presentes na torcida do Real Madrid, e "O Ano em que Trafiquei Mulheres", a respeito do tráfico de pessoas e da prostituição na Espanha. Apesar de manter sua identidade em sigilo, o autor passou a ser visado pelos grupos que delatou.
Caco Barcellos
No Brasil, o caso mais conhecido envolve bandidos que vestem farda. Após publicar, em 1992, "Rota 66", no qual expunha crimes cometidos por integrantes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), braço da Polícia Militar, o jornalista e escritor Caco Barcellos, hoje apresentador da Rede Globo, passou a ser frequentemente ameaçado por polícias.
Davi Kopenawa
Na última edição da Flip, um dos momentos mais marcantes do evento foi quando, na mesa final, o escritor e líder yanomami Davi Kopenawa pediu a palavra para dizer que vinha sofrendo ameaças de morte por parte de garimpeiros que exploram ilegalmente terras indígenas em Roraima. Davi é autor de "A Queda do Céu", livro que saiu na França, onde se tornou best-seller, mas permanece inédito no Brasil.