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Como ditados populares são retratados em nova série da Netflix sobre Troia

Cassandra faz uma previsão na série Troia: A queda de uma cidade - Divulgação
Cassandra faz uma previsão na série Troia: A queda de uma cidade
Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

17/04/2018 13h25

A série "Troia: A Queda de uma Cidade", disponível na Netflix desde o início deste mês, resume os dez anos de uma das mais famosas guerras da história em oito episódios de 1 hora.

A série mostra apenas os eventos da Ilíada, que foi o cerco à cidade feito pelos gregos. Ficaram de fora a disputa dos reis gregos por Helena (que ocorre antes da guerra) e a odisseia de Ulisses pelo mar Mediterrâneo (após a guerra) em seu retorno à ilha de Ítaca, em um gancho para uma futura segunda temporada, ainda não confirmada.

Mas os fatos mais importantes da épica saga (talvez a única que realmente mereça o adjetivo épico) estão lá.

Escrita há quase 3.000 anos por Homero, diversos momentos da história viraram expressões populares usadas por nós até hoje. Como, por exemplo, "agradar gregos e troianos", "calcanhar de Aquiles" e o famoso "presente de grego". E todas elas estão, de alguma forma, representadas na série.

Como expressões populares são retratadas na série

  • "Profecia de Cassandra"

    A princesa Cassandra, filha do rei Príamo e da rainha Hécuba, de Troia, tem visões premonitórias desde a infância. A mais sinistra delas mostrava a cidade sendo destruída caso seu irmão recém-nascido, Alexandre, continuasse vivendo na cidade. Por via das dúvidas, seus pais pedem para um pastor matar a criança.

    Após o gesto, Cassandra é amaldiçoada pelo deus Apolo. Desacreditada pelos cidadãos, é tida como louca: ninguém nunca mais acreditou em suas previsões, embora todas continuassem corretas. Foi a partir desta história que surgiu a expressão "Profecia de Cassandra", usada quando alguém avisa que algo trágico vai acontecer, mas ninguém acredita.

  • "Pomo da Discórdia"

    O príncipe Alexandre deveria ter sido morto pelo pastor, mas ele decidiu criar a criança como seu filho, dando-lhe o nome de Páris. No Olimpo, a deusa da discórdia, Éris, não é convidada para o casamento de Peleu e Tétis e, para estragar a festa, deixou uma maçã de ouro com a inscrição: "Para a mais bela". As três deusas mais belas e poderosas, Hera, Afrodite e Atena, disputam o pomo dourado, mas nenhum deus quis decidir qual delas mereceria o prêmio.

    Zeus convoca Páris, um mortal, para decidir. Cada uma das deusas oferece um prêmio a Páris, caso ele a escolha. Ele escolhe Afrodite, que promete a ele o amor da mulher mais bela do mundo. Essa passagem da Ilíada ficou conhecida como "Pomo da Discórdia" e hoje a expressão é usada para indicar alguma coisa que faça as pessoas brigarem entre si.

  • "Agradar Gregos e Troianos"

    A expressão "é impossível agradar gregos e troianos" é usada até hoje quando não se encontra uma solução que agrade a todos. Ela surgiu a partir da Guerra de Troia quando nem gregos nem troianos chegaram a um acordo para o fim do conflito. Os gregos queriam o retorno imediato de Helena, que teria sido raptada por Páris. Os troianos, por sua vez, não queriam devolvê-la, porque ela não teria sido raptada e, sim, ido por livre e espontânea vontade para a cidade porque estava apaixonada pelo príncipe.

  • "Calcanhar de Aquiles"

    Outra expressão clássica usada até hoje, "Calcanhar de Aquiles" significa ponto fraco de algo que parecia imbatível. Aquiles, o maior guerreiro grego, nunca derrotado em batalha, o mais temido pelos inimigos, foi morto após levar uma flechada no calcanhar, disparada pelo príncipe Páris. O único ponto fraco do guerreiro ficava em um lugar aparentemente comum. Na série, Aquiles está prestes a matar o rei Príamo quando seu filho consegue salvá-lo, matando o grande herói grego.

  • "Presente de Grego"

    Após quase dez anos de guerra, os gregos decidem abandonar a guerra, deixando como "presente" um cavalo de madeira imenso. Dentro dele, estariam suprimentos como trigo e vinho. Os troianos acreditam que os gregos haviam desistido da guerra e deixado o cavalo de presente.

    Para celebrar o fim do conflito, eles levam o objeto para dentro dos inexpugnáveis muros da cidade. Eles não percebem que, dentro do cavalo, também estavam escondidos alguns guerreiros gregos. Enquanto os troianos estavam entretidos, os guerreiros descem do cavalo e abrem os portões para o exército grego invadir. Vem daí a expressão "Presente de Grego", que usamos até hoje para apontar um presente muito ruim.

  • "Cavalo de Troia"

    Os vírus mais comuns de computador, hoje em dia, são do tipo "Cavalo de Troia". Para invadir os computadores, os hackers usam a mesma tática dos gregos: oferecem um presente que, quando aberto, revela algo malicioso. Alguns vírus funcionam assim: disfarçados de fotos de famosos ou de aplicativos que prometem fazer milagres em seu computador que, após instalados, abrem as portas para a entrada do hacker que fica livre para roubar seus dados. Quase 3.000 anos depois, a tática ardilosa de Ulisses ainda funciona com muita gente.

  • Vale a pena assistir?

    Sim. Vale a pena. Embora a série entregue quase tudo que prometeu, seu único ponto fraco é o ritmo, que é muito lento. Talvez seja uma tentativa dos produtores em explicar os meandros da guerra e os bastidores políticos que envolvem os dois lados.

    A série foi criada pela BBC com a pretensão de trazer grandes cenas de guerra, figurinos elaborados, cenários grandiosos, sangue, sexo e muito ação, numa tentativa de concorrer com títulos populares como "Roma", "Spartacus", "Game of Thrones" e "Vikings".

    Além disso, os produtores tiveram a sensibilidade de retratar os personagens como eles deveriam ter sido, com traços dos povos do Oriente Médio e africanos, deixando de lado a versão europeia de olhos azuis e cabelos loiros (como foi o caso de Aquiles, interpretado por Brad Pitt no sofrível filme de 2004).

    Na série, Aquiles é um guerreiro invencível, negro e bissexual, temido pelos inimigos e respeitado pelos colegas. Seu único ponto fraco é o calcanhar. Assim como Zeus, o deus mais poderoso do Olimpo, também é representado por um negro. Outro personagem negro na série é Eneias, o único guerreiro de Troia que sobreviveu ao massacre. Afrodite, Hera e Atenas também passam longe de um suposto padrão ocidentalizado de beleza.

    O enredo é conhecido. Páris, príncipe de Troia, se apaixona por Helena, rainha de Esparta. Ela foge com ele para Troia e desperta a fúria de seu marido, Menelau. Seu irmão, Agamenon, reúne todos os grandes reis e guerreiros gregos (entre eles Ulisses e Aquiles) e decide cercar a cidade até que Helena seja devolvida.

    Após dez anos de cerco, os gregos vão embora deixando apenas um cavalo como presente. Os troianos, que são grandes criadores de cavalos, o levam para dentro da cidade sem perceber que lá dentro havia gregos escondidos. Enquanto os troianos celebram o fim da guerra, os gregos descem do cavalo, abrem os portões da cidade e o exército finalmente consegue invadir e destruir o lugar. Todos os troianos morrem, exceto Helena que, finalmente, é levada de volta para Esparta.

    É trágico. Não à toa toda tragédia é grega.