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Comic Con mostrou que pode se comparar a grandes eventos pop mundiais

Roberto Sadovski

07/12/2015 14h11

Maior? Com certeza. Melhor? Em termos. A Comic Con Experience encerra sua segunda edição corrigindo alguns escorregões da estreia, insistindo em outros, mas se firmando em definitivo como o maior evento pop do Brasil. A natureza da festa, que tem em seu centro (e em seu nome) as histórias em quadrinhos, ganhou status de gente grande com um elenco de convidados verdadeiramente de peso, além da representatividade gigantesca de artistas nacionais.

E é difícil mirar mais alto que ter Frank Miller como convidado de honra. O artista já legendário, que ajudou a definir o que é a arte sequencial moderna, não chegou à CCXP como alguém relegado a segundo plano, ou vivendo de glórias passadas. Miller está lançando o terceiro volume de seu Batman – O Cavaleiro das Trevas, três décadas depois da série original, e chega revigorado para retomar seu trabalho como um dos criadores mais controversos e indispensáveis do quadrinho moderno.

Em sua passagem por São Paulo, ele anunciou que quer desenhar uma história do Superman ambientada nos anos 40, bem como retomar seu próprio Sin City em uma trama nessa mesma era e, provavelmente, continuar a guiar o legado do Homem-Morcego neste universo paralelo que se tornou sua própria caixinha de brinquedos. Um artista de tamanha estatura anunciar projetos assim confere densidade à CCXP, colocando o evento na mira de quem segue as notícias de HQs pelo mundo.

Miller, claro, não foi o único. Jim Lee, Mark Waid, Kevin Maguire, Jose Luis Garcia Lopez (que esteve aqui ano passado) e David Finch, entre outros grandes artistas de quadrinhos, encararam a CCXP como um evento já firmado no calendário de cons pelo mundo. Os artistas brasileiros responderam à altura, entregando uma gama diversa de gêneros e estilos, com gente consagrada dividindo espaço com novatos que mostraram brilho igual – todos dividindo democraticamente o espaço do Artist's Alley da convenção.

Embora as histórias em quadrinhos, muito bem servidas, sejam o núcleo do evento, a cultura pop precisa diversificar seus ramos para atingir um público maior e garantir sua sobrevivência. Os organizadores da CCXP entendem essa necessidade, mas ainda caminham com timidez. Os grandes lançamentos nerd no cinema para os próximos meses ajudaram o clima, e não tem como errar com uma escalação que inclui Star Wars, Batman vs Superman e o próximo Capitão América. Ainda assim, a falta de star power nos painéis mostra que ainda existe um caminho longo a ser trilhado.

Quando acertou, a CCXP mostrou que pode, sim, encostar nos ombros de grandes eventos assim pelo mundo. Seguindo o exemplo da escalação de Frank Miller, foi timing perfeito trazer, por exemplo, Kristen Ritter e David Tennant, que experimentam o sucesso muito atual da série Jessica Jones, uma parceria da Marvel com o Netflix. Ou Evangeline Lilly, ainda lembrada pela série Lost, como parte do universo de Tolkien criado por Peter Jackson no cinema nos três O Hobbit, e inserida no Universo Cinematográfico Marvel depois de Homem-Formiga.

Claro que a CCXP ainda experimentou uma gama de problemas amadores. Os moderadores em alguns painéis não souberam lidar com o tempo, ou a espontaneidade de seus convidados, ou alguns imprevistos com o material apresentado. Para um evento que pretende espelhar a Comic-Con de San Diego, só para ficar no exemplo mais óbvio, a pobreza de material original é evidente – o vídeo "especial para o evento" exibido no painel de Star Wars, por exemplo, já estava disponível online de forma oficial logo após sua exibição na Con.

Para a platéia, por outro lado, nada disso importa. As filas intermináveis, a falta de wi-fi, o calor absurdo – no fim, tudo fez parte da "experiência". Vale lembrar que é apenas o segundo evento, e que os escorregões se tornarão aprendizado. Os expositores, por sinal, aprenderam, e os stands dos grandes estúdios de cinema, para ficar em um exemplo, ofereceram atividades interativas e eventos com convidados que, não raro, superaram as apresentações no auditório principal. O público respondeu em peso e em números, deixando boa parte daquela grana extra de fim de ano nos stands. A "casa" da CCXP, o São Paulo Expo, estava em obras durante o evento, e logo reabre repaginado. "Ano que vem vamos usar o espaço inteiro", avisa Ivan Costa, um dos sócios da Comic Con. Um ano para preparar o bolso, o entusiasmo e a disposição.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.