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Diretor de "Ao Cair da Noite" foge de comparação com filme "Corra!"

Cena do filme "Ao Cair da Noite", de Trey Edward Shutls, em cartaz nos cinemas - Divulgação
Cena do filme "Ao Cair da Noite", de Trey Edward Shutls, em cartaz nos cinemas Imagem: Divulgação

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, de Los Angeles

23/06/2017 14h59

Quem deu gás à comparação foi o próprio protagonista de “Ao Cair da Noite”, em cartaz nos cinemas brasileiros desde esta quinta (22). Em entrevista à revista “Entertainment Weekly”, o australiano Joel Edgerton afirmou que o filme dirigido por Trey Edward Shutls tinha tudo para ser o novo “Corra!”, a grande surpresa das bilheterias americanas na primeira metade do ano.

Com 86% de aprovação no agregador de resenhas Rotten Tomatoes, o mix de horror e suspense psicológico de “Ao Cair da Noite” caiu nas graças dos críticos do Hemisfério Norte. Mas os paralelos com “Corra!” não vão muito além do orçamento miúdo para os padrões do cinema americano e um olhar original para um futuro próximo e distópico, com o uso da fantasia a fim de tratar de temas atuais.

Sai o racismo, entra a desconfiança com o outro, o estrangeiro, o imigrante, aquele que não faz parte do núcleo familiar. "Entendo as conexões, mas são dois filmes diferentes. A gente passa longe da sátira do 'Corra!', que eu adoro. Meu filme é mais tenso, mais sufocante, não há espaço para sorrir", diz o diretor em entrevista ao UOL.

Trey conta que começou a pensar no seu segundo longa —o primeiro, “Krisha”, virou cult no circuito dos festivais— depois da morte do pai. Os dois tinham um relacionamento difícil, e ele teve de “resolver nossa história em poucos meses, o prazo de vida que os médicos deram para ele”.

"Claro, muita coisa ficou pendente, mas pensei muito na raiz do que nos faz humanos, do que nos faz nos sentirmos próximos ou alheios ao outro", diz o diretor.

O filme

“Ao Cair da Noite” Trey oferece uma impressionante sequência de armadilhas ao espectador, em meio a um ambiente sufocante. Um vírus terrível destruiu boa parte da população do planeta, e a história começa com Paul (Edgerton) enterrando o sogro, contaminado, ainda vivo.

O espectador observa tudo a partir do olhar do adolescente Travis (Kelvin Harrison Jr., de “O Nascimento de uma Nação”), filho de Paul e Sara (a inglesa Carmen Ejogo, de “Selma - Uma Luta pela Igualdade”). Não há qualquer comentário sobre o fato de aquela ser uma família interracial.

As coisas começam a se complicar quando outra família, formada por um casal jovem, com os personagens de Christopher Abbott (de “Girls”, onde curiosamente viveu Charlie, o primeiro namorado da personagem da protagonista de “Corra!”, Allison Williams, a Marnie) e Riley Keough, acaba se juntando de forma violenta, com seu filho bebê, de forma violenta, ao clã de Paul.

"É como se estivéssemos de volta ao início da civilização. Não há nada lá fora, apenas um mundo hostil. Aparentemente, você junta forças ao aumentar a tribo, mas aí entro nos segredos, no desejo, nas mentiras, na doença, e, especialmente, no que o medo pode nos levar a fazer em sociedade, com a ideia de estarmos protegendo nossa família", conta Trey.

A revista “New York” concordou com o diretor e publicou em seu site um divertido texto de Jordan Crucchiola intitulado “Por que os trailers dos filmes cabeça de horror continuam nos enganando?”. A birra de Crucchiola, que gostou de “Ao Cair da Noite”, tem razão de ser: o estúdio independente quis agradar a gregos, troianos e, claro, a fãs de terror, e selecionou as cenas mais assustadoras de um thriller psicológico que, nas palavras do jornalista, “é uma 'pensata' sobre o que significa ser humano em um mundo desestruturado, violento”.

“Ao Cair da Noite” é um soco no estômago. Voltar a vê-lo dá um nó na garganta. Ele reflete o meu luto. Agora, assim como 'Corra!', meu filme entra em um novo momento dos filmes de horror, que são, vá lá, 'cabeça', mas acho que é mais do que isso. Há um renascimento do gênero, com mix de temas mais complexos, mas sempre intimistas e pessoais, como 'A Bruxa' também. Eles funcionam, acho, como o outro lado do espelho das megaproduções de super-heróis de Hollywood que, muitas vezes, parecem ter tudo, menos uma assinatura de direção. São impessoais. O 'novo horror' faz o avesso disso", filosofa Trey.